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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Uma mulher empoderada na cama

Cada contexto social e cultural dita as expectativas que temos enquanto grupo sobre as performances de homens e mulheres

Lu Miranda

28/06/2023 13h21

Arte: Lu Miranda

No texto anterior, trouxe a reflexão e o questionamento de falarmos com nossas amigas e amigos sobre sexualidade, sexo e vulnerabilidades. Justamente porque eu, Luisa, pessoinha que vos escreve, ouvi quase que a vida inteira sobre como algumas informações deviam ser mantidas dentro de casa e/ou apenas entre os familiares. Só depois de adulta, entendi que o propósito disso era manter em sigilo aquilo que provavelmente não seria bem-visto ou bem aceito por outros. Temos medo do julgamento. Ou melhor, eu tenho, e você?

Cada contexto social e cultural dita as expectativas que temos enquanto grupo sobre as performances de homens e mulheres, e quero aproveitar a deixa do texto anterior para falar sobre um ponto importante de discussão e consciência: a repressão histórica das mulheres. Segundo o ginecologista e sexólogo Theo Lerner, muitas mulheres veem a relação como algo para o outro, para o homem, e não se enxergam como protagonistas da relação sexual.

Olhando um pouquinho para a história, vemos que a partir do século XX, grandes mudanças passaram a acontecer, como a pílula anticoncepcional e a janela entre a sífilis do séc. XIX e a Aids do final do séc. XX. Esses eventos marcam o surgimento de novas perspectivas para a sexualidade feminina, mas, ainda hoje, muitos temas são silenciados, e muitas mulheres ainda são colocadas em um lugar de subserviência no dia a dia e na cama também.

Quando iniciei minha carreira clínica e passei a ouvir muitas e muitas mulheres e homens (cis e trans) falarem sobre si e sobre o quanto os seus meios ditavam regras, pude observar ainda mais de perto esse medo humano de ser julgado por algo que não é. Vergonha e constrangimento são comuns a todos nós, seres humanos. Entretanto, apesar de muitos anos de luta a favor de um maior empoderamento das mulheres e sabedoria emocional masculina, os lugares de prazer ainda são pouco vivenciados pelo feminino, pois esses mesmos lugares ainda estão lotados de culpas, angústia e julgamentos, de todos os lados.

O prazer feminino e a superação de dificuldades sexuais como a dor, o desconforto e a falta de tesão no sexo (que atinge 40% das mulheres em algum momento da vida) é positiva para o casal como um todo, logo, também pode e deve ser pensada pelo homem, até porque se o homem quer vivenciar de forma mais intensa e satisfatória sua própria sexualidade, ele precisa incluir nesse processo o empoderamento da sua parceria. Faz sentido para você?

Tudo para dizer que não adianta você ser um excelente cozinheiro se a pessoa com quem você divide a refeição não sabe apreciar uma boa comida. Ter uma mulher empoderada na cama não é para qualquer pessoa. Permitir-se ser vulnerável diante uma mulher segura também não é para qualquer um – ou uma. Demanda humildade e vontade de aprender com o outro, sobre o outro e sobre si.

Costumo dizer que muitas pessoas procuram a terapia sexual com o foco exclusivo de transarem melhor, mas não existe transa melhor, conexão decente ou orgasmo maravilhoso sem dedicação e autoconhecimento.

Uma mulher empoderada na cama precisa entender que poder também é aceitar seus medos e julgamentos. E um homem empoderado na cama também precisa entender que ser forte o tempo todo não vai te garantir uma boa foda. Até porque ser foda mesmo é compreender que não vamos ser fodas o tempo inteiro, e que está tudo bem. Hoje é apenas um dia.

Amanhã você pode fazer melhor e diferente, que tal? Inclusive conversar com quem se sente confortável sobre como você realmente está.

Lembrete: Seu tesão pode estar naquele autoconhecimento que você procrastina.

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