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Muito Prazer, Luisa Miranda
Muito Prazer, Luisa Miranda

Homens têm mais fogo?

O assunto “busca pelo prazer” é um dos mais corriqueiros na minha jornada terapêutica

Lu Miranda

23/08/2023 16h37

Arte: Lu Miranda

Recentemente, ouvi de uma paciente que homens têm mais fogo sexual, e que, em contrapartida, nós, mulheres, não temos quase nenhum. Será?

Por qual motivo ainda pensamos assim? E o que será que existe por trás dessa crença que ainda passamos adiante sem questionar?

Mas antes de responder a essas perguntas, quero esclarecer o que é esse tal fogo aqui mencionado. O termo popular ‘fogo’ no contexto sexual e se refere a tesão, a libido, e é usado para descrever nossas vontades e desejos sexuais causados por estímulos que podem ser visuais, auditivos, táteis, olfativos, gustativos ou uma junção deles.

E quando falamos de tesão, entender esses estímulos é absolutamente relevante.

O assunto “busca pelo prazer” é um dos mais corriqueiros na minha jornada terapêutica. Todavia, algo comum que percebi durante esses anos, é que, apesar de querermos ter fogo, não conversamos abertamente sobre quais estímulos nos ajudam a mantê-lo. Com essa ausência de troca, as mulheres colocam todas as suas expectativas baseadas no seu aprendizado individual, assim como os homens o fazem. Os primeiros meses de relação são perfeitos, o estímulo é novo, a carne é nova, o corpo demanda por saciedade… mas aí as coisas se habituam, e o fogo que estava ardente vai se apagando sem ninguém ver. Inclusive, é muito curioso quando questiono aos casais que atendo o que eles fazem para manter o tesão. Normalmente não se faz nada, porque se acredita que ele deve ser sempre espontâneo. Mas aí a rotina acontece, os estímulos se tornam comuns e o que antes era paixão, se transforma em amizade. E agora?

Histórica e estruturalmente, o nosso contexto cultural patriarcal e falocêntrico estimula muito mais o tesão masculino. Pornografia desde o início da adolescência, objetificação da mulher, masturbações coletivas e brincadeiras que envolvem virilidade precoce?e?machismo são comuns a muitos homens. O papel do macho alfa ou do garanhão. Lutas animais em prol da atenção da fêmea.

Contrariamente a isso, temos os filmes de princesa, finais felizes para sempre e uma castração enorme quando o assunto é prazer sexual feminino. Ou melhor, a castração era e ainda é em relação ao próprio prazer e não ao prazer do outro, já que fomos educadas a associar o cuidado com o outro a uma forma de obter libido. Infelizmente, dessa forma, nosso corpo e nosso sexo também se tornaram moeda de troca. E convenhamos, né?! Pode ser lindo servir, entretanto, se não existir reciprocidade nessa jornada, as chances de termos uma relação disfuncional é muito maior, dificultando a chegada do tesão.

“Tira a mão daí, menina!” ou ainda “se transar antes de casar, nenhum homem vai te querer” são frases ainda comuns de se ouvir na infância. Às vezes, as broncas são seguidas de tapas na mão com algum tipo de punição nada interessante, afinal, princesa jamais tem esses comportamentos. “Que coisa mais feia, menina!”

Conta delicada de fechar, hein?! Homens crescem tendo referência sexual através da pornografia, que é pensada para o prazer masculino, enquanto nós mulheres somos podadas desde criança e crescemos tendo como referência princesas perfeitas em relações completamente idealizadas e românticas.

Resultado: frustração atrás de frustração. Homens acreditando que irão se casar com atrizes pornôs, mulheres na eterna busca por um príncipe encantado. Bases educacionais diferentes entre gêneros que afetam muito a vida a dois, causando inadequações e disfunções sexuais e relacionais.

Homens continuam buscando pornografia como válvula de escape, e mulheres seguem idealizando e procrastinando seu próprio prazer. Sentimos culpa até por isso. Louco, né?!

Sendo assim, respondendo à pergunta inicial: não, os homens não sentem mais tesão que nós mulheres, mas, com certeza, eles falam mais sobre, assistem mais coisas, se masturbam com mais frequência. E muito disso se deve à facilidade e permissividade sobre essa sexualização. Ou seja, se a mulherada tivesse estímulos semelhantes e fossem incentivadas da mesma forma, muito provavelmente também teríamos mais fogo. Sendo assim, entenda que se você quer manter uma fogueira acesa, precisa de tempo em tempo colocar lenha, caso contrário, terá que acendê-la do zero toda vez.

Indicações:
Explicando… O Sexo | Fundamentos do Prazer | Sex Education

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