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Histórias da Bola
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Zebra nunca sempre no laço

A Loteria Esportiva já foi desejada, namorada por milhões de brasileiros. Todos queriam se casar com as suas boladas semanais

Gustavo Mariani

14/03/2023 10h44

Durante toda a década-1970, a Loteria Esportiva era o sonho encantado de todo brasileiro. Só se pensava em fazer os 13 pontos e ficar milionário. Havia revistas especializadas no tema e quase todos os jornais às segundas-feiras traziam informações sobre os times incluídos no teste do próximo final de semana. O grande problema do apostador era não ter a mínima informação sobre um monte de clubes desconhecidos e incluídos nos concursos semanais e que provocavam zebradas tremendaças, com Xanxereense (SC), Ferro Carril (RS), Guaxupé (MG), Icasa (CE), São Silvano (ES) e Andirá (AC), entre outros.

Por ali propus ao Editor Executivo do Jornal de Brasília, o Edgar Tavares, fazer uma página lotérica na edição do domingo, totalmente devotada às zebraças. Ele topou, embora discordando do título da coluna – Laçando a Zebra -, pois havia grande preconceito nos jornais da época sobre começar títulos e frases com gerúndios.

– Apostador não quer saber de gerúndio, pretérito perfeito, particípiio passado, “escambau” (gíria da época). Nem sabe o que é isso. Quer é levar a bolada – justifiquei e terminei convencendo-o. E lancei o “Professor Oduswaldo”, como prognostiqueiro do JBr. A estreia do palpiteiro foi em um concurso do 8 de fevereiro de 1976, quando havia o jogo do glorioso Esporte Clube Bahia contra o destemido Leônico, pelo Campeonato Baiano. Informei aos meus leitores que o arrojado Bahêa (como a sua torcida o chama), mesmo tendo os principais macumbeiros da Bahia ao seu serviço, de vez em sempre, deixava a macumba macumbar o macumbeiro e rolar zebras inintendíveis no terreiro. E, já que o negocio era laçar a zebra, que tal apostar nos leonionos? Resultado: Bahia 9 x 0, com Douglas, aquele que havia formado dupla fatal com o Pelé, no Santos, deixando três na caçapa.

Mas o Professor Oduswaldo não ligou par as caçoadas. Seguiu à caça de zebras. Lá adiante fomos para um concurso que reunia prélios de 7 a 10 de março de 1976,com um deles sendo Ferroviário x Dínamo, pelo Campeonato Alagoano. Joguinho de times só conhecidos em suas cidades. Consultei várias edições do Tabelão da revista Placar e mandei ver: “O Ferroviário já andou saíndo fora dos trilhos quando visitou Penedense e Canavieiros. Como o Dínamo acendeu a sua lanterna à meia-boca, empatando com estes mesmos adversários, deverá ter mais voltagem ligada nesse pega. Resultado: Ferroviário 7 x 0.

Semanas depois, no 8 de maio do mesmo 76, havendo Atlético-MG x Nacional, de Uberaba, pelo Campeonato Mineiro, sugeri: “O Galo (apelido dos atleticanos) anda papando times franguinhas que pintam por seu terreiro. Só que o Nacional é da terra do zebu e costuma dar coices nos desafetos. Crave Nacional. Resultado: Galo 8 x 0.

Chegamos a 16 de junho e a zebra que eu propunha seria no Campeonato Paraibano, em Botafogo-PB x Nacional, de Cabedelo: “Este Botafogo não tem feito fumaça, ultimamente. Só bate em lebréias. Como o Nacional vem se especializando em ficar em cima do muro, não deve descer da tijolaria. Crave coluna 2. Resultado: Botafogo-PB 7 x 0.

Para Vitória x Ceunes, pelo Campeonato Capixaba, no 17 do mesmo junho, mandei ver: “O Vitória anda inimigo da vitória. Perdeu duas, seguidas. O Ceunes adora levar goleadas. Uma hora, vai sobrar pra alguém, quem sabe para o escorregão Vitória, de Vitória? Hora da zebra! Resultado: Vitória 6 x 0. Para América, de Natal x Potiguar, de Currais Novos-RN, lembrei que este último tinha fama de “estraga prazer” quando o dono da casa o considerava “ponto certo”. E lembrei das ultimas dificuldades americanas de vencer longe de sua torcida. Mandei apostar nos curraleiros: Resultado: América-RN 6 x 0.

O pior dos meus palpites, quer dizer, do Professor Oduswaldo, no entanto, foi para Independência x Alvorada, pela sétima e última rodada do primeiro turno do Campeonato de Futebol do Estado do Acre, em 2 de outubro de 1976. Quem poderia ter informações sobre estes dois times? Consultei umas cinco edições do Tabelão de Placar pra ver se achava caminhos zebrantes. E terminei recomendando aos meus leitores/apostadores jogarem no Alvorada – que levou 10 x 0.

Nas segundas-feiras, choviam telefonemas de leitores/apostadores mandando o Professor Oduswaldo pra´quele lugar. Motivo mais do que “sufici” para eu “demitir” o palpiteiro que muitos apostadores/telefoneiros chamavam-no por Professor Burraldo.

Veio a década-1980 e reencontrei-me com (os velhos amigos e colegas do Jornal de Brasilia) Edgar Tavares (sendo Editor de Economia), e Arthur Herdy (Editor Executivo) no jornal Correio do Brasil. Época em que, havia sido lançado a Loteria Esportiva do Certo e do Errado, para o ganhador acertar ou errar mais – coisa assim. O Arthur sugeriu-me relançar o que havia feito no JBr. Topei e reconvoquei o Professor Oduswaldo, que seguia errando todos os palpites. Mesmo assim, tinha muitos fãs, principalmente depois que um apostador telefonou dizendo ter ganho pelas recomendações da coluna. Beleza! Mais nem tanto. Algumas semanas depois, sobre o jogo Náutico x Caruaru, do Campeonato Pernambucano, recomendei aposta no “Caru”. Resultado: Náutico 7 x 0.

No dia seguinte, o mesmo cara que havia ganho pelos “palpites oduswaldianos” telefonou chamando o autor da coluna por “burraldaço” e contando que, por causa dele, deixara de ganhar, novamente, por apostar no “Caruru”, como ele chamava o Caruaru. Motivo para o Arthur Herdy sugerir trocar o nome do “burraldo” Professor Oduswaldo para “Jegue Elétrico”. Pois bem! Rola a bola e já havíamos esquecido do “Caruru”, quando, de repente, o mesmo cara que havia ganho e perdido por conta do Professor Oduswaldo voltou a ligar. Daquela vez, dizia que o homem era um gênio e só ele poderia prever a derrota do Vasco para o Andirá. Segundo ele, confiava mais no taco do nosso palpiteiro do que no Oswald de Souza, da Rede Globo e o mais famoso do país.

Ká-entre-nóiz-1! O “burraldo” não seria o Professor Oduswaldo, sabedor de que, em um daqueles concursos, o Vasco da Coluna 2 não seria o da Gama do Rio de Janeiro, e o seu jogo não valeria pelo Campeonato Carioca, mas do Acre. O adversário era o Andirá (escudo da imagem), que fez o carinha apostar errado e dar certo.

Ká-entre-nóiz-2! O sujeito que apostara errado e dera certo ficou de passar pelo jornal pra pagar uma rodada de cervejada pra gente, pelo final de alguma noite de sexta-feira. Até hoje, estamos esperando.

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