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Histórias da Bola
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Santana Dá-Samba

Encerrada a partida, a torcida nem se preocupou em apupar os jogadores do seu time. Preferiu saudar o animado massagista Eduardo Santana

Gustavo Mariani

08/02/2024 7h24

Foto: Divulgação

1 – Durante a noite de 1970 em que o Vasco quebrou o tabu de 12 temporadas sem conquistar o título do Campeonato Carioca de Futebol, o massagista “Pai Santana” não deixou de fazer a sua festa particular. Vestido todo de branco, acendeu 22 velas no gramado do Maracanã “para agradecer a ajuda do caboclo Pena Banca, levou sal grosso, cachaça e defumador, e fez um “trabalho” no vestiário. Depois, trancou a porta, escondeu a chave e avisou aos jogadores que ninguém poderia pisar no campo antes do horário marcado para subir o túnel que leva ao gramado. Se alguém lhe desobedecesse, cortaria a sua corrente de energia positiva para a vitória. Assoprado o apito final, o “Pai Santana” garantiu que Vasco 2 x 1 Botafogo (gols de Gílson Nunes e de Valfrido) fora produto de sua reza brava.

Chamado pelos torcedores por “Pai Santana”, por manter contatos imediatos com o além, o mineiro Eduardo Santana fazia tabelinha com o “Preto Velho” Pai Joaquim, e mais Santo António, Xangô e Joana D’Arc. Mas só “para ajudar ao Vasco”, garantia.

Nascido em Andrelândia, em 1934, Santana, aos oito meses, foi morar em Salvador (com os pais), para descobrir a magia dos terreiros do candomblé. Aos sete anos, estava no Rio de Janeiro. Ao 18, já era boxeador, campeão carioca e bra­sileiro dos meio-médio ligeiro. Mas a sua batida maior seria em outro terreno: no futebol, “enfeitiçado” pelo treinador Gentil Cardoso. Só o seu desembarque em São Januário não é bem certo. Falam em 1953, mas, naquela temporada, Gentil não estava por lá. Outros apontam para 1954 e 1957. Santana ficava na dele, pouco ligando para datas

2 – Em agosto de 1983, o Vasco da Gama fez aquela tradicional escapadinha do Campeonato Carioca – muito normal, na época – e foi morder uma graninha na Europa. Já havia disputado um amistoso na Alemanha e dois na Itália, quando foi encerrar o giro na também italiana Catânia. Era 18 de agosto e a rapaziada se aprontou para encarar o time do mesmo nome da cidade. O árbitro Rossario Lo Bello esperou o que pode, mas o adversário dos vascaínos não apareciam. Então, foi procurar saber da demora. Informaram-lhe que os jogadores do Catânia estavam firmes a decisão de só entrarem em campo se a diretoria do clube pagasse um prêmio prometido e não cumprido. Que horror!

Já que a bola não rolava, os 50 mil torcedores presentes ao Estádio Angelo Massimino começaram a assobiar, gritar, xingar. Mas nada disso adiantava. Até que o massagista vascaíno Santana tomou uma providência inesperada: vestiu o seu paletó branco – já estava usado calça e camisa na mesma cor – e uma cartola. Adentrou ao gramado fazendo evoluções carnavalescas e contagiou a galera. Enquanto ela fazia o seu espetáculo, os brasileiros Pedrinho (ex-Vasco) e Luvanor (ex-Goiás) convenceram os colegas a deixarem a cobrança para depois, em respeito ao público. E foram à luta.

Antes tivessem continuado com a ameaça de grave, pois o Vasco mandou-lhes 4 x 0, com gols de Marcelo (2) e Amauri (2), formando com: Acácio (Orlando); Galvão, Chagas, Celso (Rondinelli) e João Luís (Roberto Teixeira); Serginho, Dudu Coelhão e Amauri; Ernani, Marcelo (Geovani) e Marquinho (Pedrinho Gaúcho), comandados pelo ex-apoiador vascaíno Carlos Alberto Zanatta.

Encerrada a partida, a torcida da terra nem se preocupou em apupar os jogadores do seu time. Preferiu saudar, efusivamente, o animado massagista Eduardo Santana, que teve de executar passos extras do seu repertório de sambista.

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