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Histórias da Bola
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Rua General Almério de Moura

O treinador Orlando Fantoni causou polêmica na segunda passagem pelo Vasco da Gama, em 1980

Willian Matos

21/11/2019 12h40

É tradição: troca de treinador do Vasco da Gama vem acompanhada de muita fofoca. Não poderia ser diferente com o titio Orlando Fantoni, que voltara à Colina, em 1980, após ter passado por lá, em 1977/78, quando a sua rapaziada conquistou o título do futebol estadual, bem como a 14 Taça Guanabara.

Fantoni recebera um Vasco com time nada promissor. Em fevereiro, os astros Jorge Mendonça (meia-atacante que fizera grande sucesso no Palmeiras) e o apoiador Carlos Alberto Pintinho (ganhador de vários títulos estaduais pelo Fluminense) tornaram-se reforços. Dois meses depois, foi a vez do goleador Roberto Dinamite, repatriado do espanhol Barcelona. Para a torcida vascaína, ter Mendonça (que trabalhara com Fantoni no Náutico-PE) e o Dinamite juntos no ataque era garantia de muitos goleiros desempregados.

Mas não foi bem assim. Fantoni brigou com Mendonça, desentendeu-se com cartolas e sobraram um monte de queixas de todos os lados. Resumo da ópera: o titio foi mandado embora da Colina pelos cartolões Antônio Calçada e Eurico Miranda.

Do que se queixava a diretoria vascaína? De Fantoni estar “gagá”; fazer preleções para as paredes dos vestiários; de assistir aos treinos da beira do gramado, sem falar aos jogadores; de ser incapaz de mudar o time durante uma partida; exibir pessimismo; destruir bom de ambiente; reclamar de tudo;  definir, para o trabalho, um grupo de atletas, pela manhã, e mudar tudo à tarde. Além disso, o treinador era acusado de comportar-se indevidamente durante hospedagens em hotéis e de não gostar de ficar nas concentrações.      

De sua parte, Orlando Fatoni, aos 62 de idade, com nome várias vezes cotado na imprensa para dirigir a Seleção Brasileira por causa dos seus 21 títulos conquistados em 28 temporadas profissionais, batia forte, também, após cinco meses no clube. Antipatiza a comissão técnica lhe imposta, principalmente os supervisores Dante e Aírton Brandão, o preparador físico Hélio Vígio e o vice-presidente médico Pedro Valente, por fazerem preleções nos vestiários e mudarem seus horários de treinos. Para ele, todos “mentirosos, traidores”. Por causa disso, chegou a pedir demissão por três vezes, todas negadas pelo vice-presidente Antônio Calçada.

Para os atletas, entre eles Jorge Mendonça, com quem o titio se desentendera, Guina e o tricampeão mundial Marco Antônio, classificar Fantoni por esclerosado e dizer que ele não sabia mudar o time era um absurdo. Os três o tinham por dócil e de bom diálogo. Guina, inclusive, além de vê-lo bom treinador, o via amigo e protetor dos jogadores, contradizendo às acusações  da comissão técnica, de ser entregador dos comandados.    

Entre os repórteres que cobriam o Vasco da Gama, Renato Maurício Prado, de O Globo, discordava de quem via Fantonio gagá, e acentuava que ele era treinador mais de um bom diálogo coma sua moçada. Críticas ao homem, no entanto, eram feitas por Paulo César Vasconcelos, de Última Hora, e Jorge César Wamburg, do Jornal do Brasil. O primeiro batia-lhe por ter visto o time mudar de tática durante o jogo do Brasileiro, contra o Náutico-PE, sem ordem do comandante, e este deixar o barco rolar. O outro achara terrível os atacante Jorge Mendonça e Paulinho, durante jogo na Venezuela, pela Taça Libertadores,  em Cracas, ofenderem, moralmente, seu chefe, por terem sido substituídos, e este ter ficado calado.

Orlando Fantoni foi substituído  por Gílson Nunes, de 34 de idade, o ponta-esquerda do time campeão carioca-1970. Este foi considerado, pelos atletas, a melhor opção para aquele momento. Gilson assumiu anunciando seguir os passos do antecessor, mas querendo “futebol moderno, lutador, de estivadores da bola”. Mas não teve tempo pra ver. Aqueles seus planos, em maio, terminaram, em 14 de agosto, quando Mário Jorge Lobo Zagallo ocupou o seu lugar.   

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