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Histórias da Bola
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Rei e príncipe na cara do gol

Pelé chegou a jogar, no ataque do Santos, com o seu cunhado David

Gustavo Mariani

23/03/2022 11h48

Já houve tempos em que o futebol brasileiro tinha Rei e Príncipe. Evidentemente, o soberano dos gramados era o Pelé, e não se discutia. Já o Príncipe não passava de uma caçoada. Tendo em vista que o atacante David, do gaúcho Internacional, de Porto Alegre, namorava (pretendia se casar) com a Vera Lúcia, única irmã do Rei do Futebol, os colegas de clube lhe arrumaram, rápido, um apelido bem malandrinho.

 O Rei e o Príncipe eram familiares longe da bola, por conta do meio-de-campo armado por Cupido, mas nunca haviam reinado juntos durante uma contenda dentro das quatro linhas. Por aquela época, a década-1960, o meia-atacante Pelé defendia o paulista Santos, enquanto o ponta-direita David já havia ciganado um pouco. Após surgir no peladeiro Lá Peninha, de Campinas-SP, assinou contrato como profissional com o também paulista do XV de Novembro, de Jaú. Em seguida, passou pelo Noroeste, de Bauru, e a Ferroviária, de Araraquara, onde destacou-se  do lado de feras como Bazzani (futuro Corinthians), Parada (futuro Botafogo) e Peixinho (futuro Santos).  Em 1964, chegou à Seleção Paulista de Novos e foi levado pelo Corinthians, pelo qual disputou o Torneio Rio-São Paulo-1964 (maior competição do futebol brasileiro da época). Mas, como os alvinegros paulistanos estavam de olho no grande goleador Flávio Almeida Fonseca, do Internacional, não mediram esforços para tê-lo e, no rolo da contratação, os gaúchos levaram o cunhado do Rei. David, então, tornou-se um ex-corintiano, após 54 jogos e nove gols marcados. 

 Deixar o futebol paulista (um dos grandes sonhos, juntamente com o carioca, de todo jogador), poderia não ser uma boa para David. No entanto, ajudou-o a fazer uma boa arrumada de bolso para o casamento com a irmã do Rei. Embolsou Cr$ 6 milhões de cruzeiros, de luvas (graninha que era uma espécie de FGTS) e salário de Cr$ 400 mil mensais, além de casa, comida e roupa lavada. Um bom contrato, para a época. 

 Mais do que o bom negócio, David teve a chance que poderia demorar muito caso continuasse no Corinthians: vestir a camisa da Seleção Brasileira. Em 1966, preparando o time canarinho para a Copa do Mundo da Inglaterra, a então Confederação Brasileira de Desportos (futura CBF) mandou a seleção gaúcha representa-la na disputa da Taça O´Higgins, contra o Chile. E ele viajou titular e voltou campeão. Entre 1967 e 1969, esteve no Cruzeiro-MG e no Grêmio-RS.

 Veio, então, a década-1970. E, pelo início dela, o Santos reuniu o Rei e Príncipe, em seu ataque (foto). David passou duas temporadas jogando junto com o Pelé, do qual afirmava aos repórteres “não ser um sujeito mascarado (gíria antiga para esnobes), mas um sujeito legal, um exemplo para jogadores de todo o mundo”.

 Nascido na paulista Campinas, em 14 de junho de 1944, David Bendito Magalhães, depois do Santos, ainda jogou, entre 1972 e 1976, pelo Londrina-PR, Vitória-BA, e os paulistas  Portuguesa Santista, São Bento, Saad, São Caetano e Primavera, de Indaiatuba, pendurando as chuteira aos 38 nos costados. Casado, com Maria Lúcia Nascimento Magalhães, o Príncipe gerou Daniele, Débora a João Paulo e, fora dos gramados, passou a trabalhar nas empresas do Rei – cunhado melhor, só o que deixa na cara do gol, saindo pro abraço.

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