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Histórias da Bola
Histórias da Bola

Pelé & Pelado

Antigamente, jogador de futebol no Brasil era muito mais conhecido por apelido, do que pelo seu nome de batismo e de registro cartorial

Willian Matos

09/10/2019 13h34

Antigamente, jogador de futebol no Brasil era muito mais conhecido por apelido, do que pelo seu nome de batismo e de registro cartorial. Para citar poucos, tínhamos Cabrita, Bandolim, Sabará, Foguete, Garrincha e Pelé. Imagine o seu time nesses tempos pós-modernos tendo por esquerda Pelé e Pelado!

Sobre o último acima, há duas versões:

  1. O garoto Dico, de língua enrolada, aos seis de idade, ia para os treinos do Vasco da Gama, de São Lourenço-MG, com o pai, Dondinho, e gostava de brincar de goleiro, dizendo-se “Pilé”, isto é, Bilé, o “arqueiro vascaíno.
  2. Jogando peladas em uma rua de Bauru, um turco dono de loja irritava-se quando a bola batia em sua calçada e gritava:  “Quelé, quelé”. Como o Dico era sempre o chutador, a meninada passou a chama-lo por “Quelé”, que teria virado Pelé.

Pelé – Edson Arantes do Nascimento – pode não ter sido o primeiro dono do apelido famoso, segundo garantiu Antônio de Oliveira, pela Revista do Esporte – N 558, de 15.11.1969. O citado cidadão era, também, usuário da camisa 10 e defendia o Manufatura, de Niterói-RJ.

Segundo afirmou, era proprietário do apelido desde que começara a  jogar futebol, em 1946, três temporadas antes do  “Rei do Futebol” nascer.

Baixinho, escurinho, franzino e muito brincalhão, o cara era ídolo da torcida do Manufatura e não perdia a chance de sacanear os amigos. Certa vez, depois de um jogo, um torcedor disse-lhe: “Como você gosta de cair na pele dos outros, hem?” Um outro ouviu e brincou: “Crioulo não tem pele, tem Pelé”, contou o Pelé que se dizia o original.

Com o Pelé santista campeão mundial em 1958, famoso na praça, a rapaziada passou a sacanear o Oliveira, chamando-o por “Pelé dos Pobres”, do que ele nem ligava, topava as caçoadas.

Além de atleta, o Pelé do Manufatura era mecânico e aquele era o seu ganha pão. Futebol era paixão, do que não reclamava Dona Arlides, a sua mulher, mãe de Aírton e Claudio. Nascido em São Gonçalo-RJ – 03.03.1938 – o pretenso “primeiro” Pelé tinha por maiores itens do seu currículo ter jogado no Maracanã e até assinado autógrafos – por conta da fama do outro Pelé.

Pelo mesmo tempo em que Pelé “meiucava” com a camisa 10 do Manufatura, em Nova Lima-MG, a ponta-direita do Villa Nova tinha a camisa 7 usada por Pelado. Mais precisamente, Eduardo Paulino, cidadão belo-horizontino –  nascido em 14.12.1938 –, gerado por João Paulino e Elzab Pereira Paulino.

Também baixinho -1m62cm – e leve – 53 kg -, Pelado foi cria dos juvenis do América-MG, em 1956, e, pelas duas temporadas seguintes, ficou bi estadual entre juvenis. Profissionalizou-se, esteve emprestado ao Renascença, voltou à velha casa e teve o passe negociado, para o Villa, por valorosos Cr$ 2 milhões de cruzeiros.

Lá pelas tantas, fazendo um tremendo calor no verão de Nova Lima, o ponteiro Eduardo resolveu pelar a cabeça. Em seu primeiro jogo estando careca, comeu a bola e marcou um golaço. Do que se aproveitou um malandro colega de time pra dizer: “Não temos o Pelé, mas temos o pelado”. E o apelido pegou – Pelé e Pelado, no entanto, nunca se cruzaram em campo.

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