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Histórias da Bola
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Os sem charangas

Arenas padrão FIFA (estádios sem arquibancada e geral) acabaram com alegria botada em 1942 no futebol brasileiro

Willian Matos

14/10/2019 8h14

Foto: Mateus Garcia/Olhar Esportivo

Umas das tradições do futebol brasileiro foi completamente abandonada: as charangas que animavam, principalmente, as tardes de domingo do lado de fora dos gramados. Os motivos são o uso da arquitetura das arenas que expulsam os velhos estádios de campo e a crescente violência entre torcedores que, hoje, chegam a marcar brigas pela internet.

As charangas ficavam pelas arquibancadas de cimento, onde havia bastante espaço para os músicos tocarem em pé. Nas arenas, eles teriam que subir nas cadeiras, pois não há mais arquibancadas e nem gerais, este um espaço para o torcedor de menor poder aquisitivo ficar, obrigatoriamente, em pé, sem nenhuma chance de sentar-se durante algum momento da partida.

Sem charangas, o torcedor brasileiro passou a cantar músicas incentivando a violência, quase sempre xingando os rivais. Nem faz nem como os violentíssimos argentinos e ingleses, que cantam hinos e outras músicas alusivas à glória do seu clube.

Por causa do comportamento animalesco irracional de torcedores, em 2012, quando o Brasil sediou a Copa das Confederações, na Bahia, foi proibido entrar na Fonte Nova portanto as caxirolas, inventadas pelo cantor Carlinhos Brown, parecido com chocalhos. A proibição – o instrumento era de plástico – justificou-se preocupação com segurança, mas fez foi a galera atirar os objetos dentro de campo.

As charangas levavam para as arquibancadas instrumentos de sopro e de percussão. Além do hino do clube, tocavam  sambas e marchinhas de carnaval. A mais popular foi a do Flamengo, liderada por Jaime de Carvalho, de 1942 a 1976. Antes da estreia, as bandinhas tocavam do lado de fora dos estádios, depois dos jogos. A do Jaime foi até homenageada pelo compositor  Wilson Batista, no “Samba Rubro-Negro”, grafado por João Nogueira.

Quando Jaime de Carvalho lançou a Charanga do Flamengo, ela ficava pela geral dos estádios, atrás do gol do adversário, tocando como se os seus membros fossem os piores músicos do mundo. Por isso o grupo foi  apelidado, pelo pianista/compositor Ary Barroso, por charanga, classificação que,  em Cuba, era destinada aos foram de ritmo, desafinados.

Os rivais chiaram, alegando que o som maluco desconcentrava os seus jogadores. Mas não adiantava juiz parara o jogo e chamar a polícia. Nem mesmo os cartolas do futebol carioca tiveram a coragem de acabar com a alegria musical que era uma novidade em suas competições. A charanga rubro-negra tocava afinada, quando tinha a conveniência, e caiu no gosto popular  e ganhou cópias pelos estádios de todo o país, inclusive a imitação dos rivais cariocas.

Além da turma musical do Flamengo, ficaram famosas a Charanga do Júlio, do Atlético-MG, tocando um som de autêntica orquestra, bem ensaiadas, com destaque para música em que pudesse encaixara a palavra “Galo”, o apelido do alvinegro mineiro – “…quem quiser ver/É só subir no morro/O Gall samba mora no meu barracão…”

No Paraná, a charanga do Coritiba tocava até Aquarela do Brasil, a música mais celebre de Ary Barroso. Na Bahia, a do Galícia levava até baixo eletrônico para a Fonte Nova – bons tempos.    

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