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Histórias da Bola
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O gaúcho da Colina

Gustavo Mariani

27/06/2023 11h55

Se o juiz não tivesse lhe surrupiado um gol, ele seria o terceiro maior “matador” da história cruzmaltina, em uma só partida. É o que garante – em tempos mais modernos, o “Animal” Edmundo marcou seis – 11 de setembro de 1997 -, em Vasco 6 x 0 União São João, de Araras-SP, e Roberto Dinamite encaçapou cinco – 4 de maio de 1980 – em Vasco 5 x 2 Corinthians, ambos pelo Campeonato Brasileiro.

O cara do qual este texto vai se referir chama-se Saul Santos Silva, o Saulzinho, principal artilheiro do Campeonato Carioca-1962, com 18 gols, ultrapassando feras como Garrincha, Amarildo, Quarentinha, Dida e Henrique, grandessíssimos visitantes das redes da década-1960.

Gaúcho, de 1m68cm de altura, pelas suas contas, ele jura ter mandado quatro bolas ao filó da seleção da Nigéria, durante excursão vascaína ao continente africano, em prélio de 25 de maio de 1963. Reclama da anulação de um quinto tento, dizendo: “Todo mundo no estádio viu a bola bater lá dentro do gol e voltar para o gramado. Menos o juiz” – de Vasco da Gama 6 x 0 Nigéria, em Lagos, a capital do país visitado.

O Almanaque do Vasco do Gama, no entanto, só encontrou gols de Célio (2), Lorico (1) e Saulzinho (1). Ficam faltando dois que, se foram do “tchê”, totalizaria três, que se juntam a outros três dele em duas outras partidas – Vasco da Gama 3 x 0 Stade d´Abidjan, na Costa do Marfim, em 05.05.1963, e em Vasco da Gama 3 x 1 Ferroviário-CE, em Fortaleza, no 31.01.1962, todas anotados pelo mesmo almanaque.

Devido ao gol que o Saulzinho diz terem lhe surrupiado na África, ele ficaria empatado com Romário, que fez quatro – 05.08.2001 -, em Vasco da Gama 7 x 1 Guarani de Campinas-SP, e Arturzinho – 19.02.1984 -, em Vasco da Gama 9 x 0 Tuna Luso-PA -, ambos pelo mesmo Brasileirão. “Fazer goleiro chorar sempre foi o meu esporte predileto”, brincou Saulzinho, em papo com o Jornal de Brasília, garantindo que isso rolava desde os tempos em que o Bagé e o Guarany, ambos de sua cidade, brigavam por ele.

Saulzinho começou a carreira pelo time juvenil do Bagé. Era 1955 e, depois de passar para o Guarany, ele gerou um tremendo rolo entre os dois clubes, o que levou uma temporada para ser decidido pelo extinto Conselho Nacional de Desportos, deixando-o sem rolar a pelota. Depois que o Guarany ganhou a parada, em 1956, ele anotou o único tento de partida decisiva contra o ex-clube e foi campeão da liga municipal. Em 1958, ficou vice-campeão estadual gaúcho. Em 1962, tinha chances de lutar pela vaga de parceiro de Pelé na Seleção Brasileira da Copa do Mundo do Chile, apontado para a missão pela imprensa carioca, mas uma distensão na virilha o impediu. Quando nada, com a jaqueta cruzmaltina, conquistou os títulos do Torneio de Santiago do Chile e do Pentagonal do México, ambos em 1963.

Saulzinho calcula ter marcado 86 gols vascaíno. E só foi defender a pátria pela Seleção Gaúcha que representou o Brasil e conquistou a Taça O’Higgins-1966, diante do Chile. Ele conta uma história interessante, de Vasco da Gama 2 x 2 Santos, do 16 de fevereiro de 1963, pelo Torneio Rio São Paulo, quando os vascaínos abriram 2 x 0, em 57 minutos: “Um amigo meu, lá de Bagé, estava pelo Rio de Janeiro e aproveitou para ir ao Maracanã. “Ele saiu faltando 10 minutos para o final (da partida), e disse ao taxista que voltaria ao Sul contente, por ter visto um conterrâneo vencer o Pelé. Então, o motorista avisou-lhe de que o jogo acabara em 2 x 2 e que o Pelé o empatara, no finalzinho”.

Saulzinho desembarcou em São Januário no 1º de abril de 1961 e estreou 16 dias depois, no decorrer de Vasco da Gama 2 x 0 Corinthians, pelo Torneio Rio-São Paulo, do qual fez mais um jogo, começando como titular. Em 4 de maio, iniciou o ofício de “Matador da Colina. Com uma cajadada, derrubou o “Coelho” (apelido do América-MG), em seu primeiro amistoso fora do Rio de Janeiro: 3 x 1, em Belo Horizonte, mostrando que ter sido o atleta vascaíno mais caro, até então, fora dinheiro bem empregado – Cr$ 2.300.000,00 (cruzeiros), ultrapassando o valor de Pinga (José Lázaro Robles), tirado da Portuguesa de Desportos-SP, por Cr$ 2 milhões.

Ao abrir as suas malas, em São Januário, onde esteve, até fevereiro de 1966, o artilheiro Saulzinho tirou de dentro currículo exibindo os títulos de campeão citadino, pelo Guarany de Bagé, em 1956/1958/1960 e contando que, pelos seus cálculos (ainda não havia preocupação com estatísticas), já havia comparecido ao barbante por cerca de 90 vezes. Quando retornou ao Guarany, reconquistou o título municipal daquele 1966. Após 1 x 1 e 0 x 0, com o Bagé, a taça teve de ser decidida nos pênaltis, e ele balançou a rede em suas três cobranças – o rival só uma. Em 1967, repetiu o título, marcando um gol do 1 x 0 de 18 de junho e mais um nos 3 x 2 de uma semana depois, quando o adversário chegou a estar 2 x 0 na frente. Em 1968 não houve a disputa da Liga citadina, tendo o Saulzinho sido hexa, em 1969/70, quando encerrou a carreira após a decisão em que venceu o Bagé por 3 x 0 e 1 x 0 e 1 x 1.

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