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Histórias da Bola
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O Cruzeiro no esporte

Lançada em 10 de novembro de 1928 e com publicação até 1975, a revista semanária carioca O Cruzeiro – inicialmente, só Cruzeiro -, dominou, por mais de três décadas, o mercado das magazines ilustradas brasileiras

Gustavo Mariani

16/06/2020 12h54

Atualizada 11/11/2020 16h24

Lançada em 10 de novembro de 1928 e com publicação até 1975, a revista semanária carioca O Cruzeiro – inicialmente, só Cruzeiro -, dominou, por mais de três décadas, o mercado das magazines ilustradas brasileiras.

Na área esportiva, ela se fez presente sempre que o momento pediu – as vezes, nem tanto -, sobretudo em Copas do Mundo, Campeonatos Sul-Americanos e nos grandes momentos de clubes como o Flamengo e o Vasco da Gama, os de maiores torcidas nacionais até a década-1960.

Grandes ídolos nacionais, como os futebolistas Pelé e Garrincha, e o pugilista Éder Jofre mereceram grande cobertura da casa, em seus melhores tempos- década-1960.  Mas algo era indissociável dos textos da revista: a paixão do escriba que, muitas vezes, parecia muito mais torcedor do que repórter.

Por ali, ao mesmo tempo em que elogiava, O Cruzeiro batia forte nos brasileiros que pisavam na bola. O repórter fazia o que hoje cabe ao colunista. Não era aquele vizinho contando, na janela ao lado, o que ocorrera, mas o crítico ferrenho descendo a lenha. Vamos ver alguns desse momentos selecionados por décadas:

1954 – Brasil 1 x 1 Iugoslávia, da Copa do Mundo-1954, na Suiça, teve bordoadas do repórter Luiz Carlos Barreto, em cobertura por seis páginas e 15 fotos (sem créditos), além de mais um texto criticando as ausências, no time do treinador Zezé Moreira, dos craques Zizinho e Ademir, que haviam se destacado no Mundial-1950, disputado aqui no Brasil.

O prélio rolou em 19 de julho, em Lausanne, e o repórter de O Cruzeiro viu os primeiros movimentos brazucas “sem entendimento, sem clareza, sem inspiração, sem nada de tudo”, usava final frase desmoralizante. Refresco ele só serviu à falta do ponteiro esquerdo Rodrigues, contundido nos inícios da partida, o que desequilibrou, segundo ele,  o setor esquerdo da equipe. “Com o decorrer do match, o desequilíbrio deixou de ser unicamente um mal do setor esquerdo para afetar toda a equipe”, escreveu, imputando, ainda, o pecado da vulnerabilidade à “nossa tão decantada defesa”.

Três atletas apanharam muito do repórter: Djalma Santos, acusado de ser batido muito pelo ponta-esquerda iugoslavo; Pinheiro, de perder, seguidamente, disputas aéreas, e Brandãozinho, envolvido pelo meio-de-campo. Sobravam, então, elogios para os adversários que o repórter os viu manobrando com superioridade nos dois tempos de jogo. “Dominavam as investidas do nosso ataque, com facilidade, e passavam à ofensiva com desenvoltura”.

Pelo que se lia até ali, estava feia a coisa, não? Piorava, com O Cruzeiro insinuando burrice brazuca, ao contar que os nossos jogadores insistiam em penetrações pelo centro do ataque e disputando bolas aéreas contra zagueiros muito altos. “Foi jogando assim, errado e sem intuição que se esgotaram os craques nacionais”, comentou, o escriba, criticando o treinador Zezé Moreira.

 Afirmava a semanária carioca que, quando estava inferiorizada no placar, da equipe brasileira nada se podia esperar. Por não mostrar “apetite de gol”, o empate poderia ser considerado um “presente do Céu”, foi dito.

 O time de Zezé Moreira foi criticado, por O Cruzeiro, ainda, por “se retrair, demasiadamente”. O repórter indignou-se por vê-lo “cuidando demais da defesa” e esquecendo-se do ataque. Afirmou terem sido raras as oportunidades em que atacara com três homens de frente, embora vendo algumas ações isoladas brilhantes por Julinho (Botelho), Didi (Valdir Pereira) e Pinga (José Lázaro Robles). No geral, porém, bateu neles: Julinho – “não foi o mesmo do jogo (5 x 0) contra o México”; Didi – “esteve sem criatividade em todo o match;” Baltazar – muito bem marcado, pouco produziu. Não pode cabecear; Pinga – cavou o jogo inutilmente, nada conseguido de produtivo.

A crônica teve uma incoerência: o repórter viu o Brasil tendo a chance de vitória e a sua criticada atuação  como coisa normal em futebol – além de, também, ter visto muita categoria no time do adversário.

A Seleção Brasileira teve seu gol marcado por Didi, aos 69 minutos (24 da etapa final), e levou primeiro, aos 3 da mesma fase (48). O time alinhou: Castilho, Djalma Santos e Pinheiro; Bauer, Brandãozinho e Nílton Santos; Julinho, Didi, Baltazar, Pinga e Rodrigues.   

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