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Histórias da Bola
Histórias da Bola

O cartola dos cartolas

O título de imbatível cartola que mais explícito e destemperado de uma vasta galeria dessas figurinhas que fazem a farra da esculhambação no futebol brasileiro

Aline Rocha

13/09/2019 16h44

Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Por Gustavo Mariani

O antigo presidente do Vasco da Gama, Eurico Miranda (1944 a 2019), levou para o plano espiritual (onde habita hoje, segundo os espíritas), o título de imbatível cartola que mais explícito e destemperado de uma vasta galeria dessas figurinhas que fazem a farra da esculhambação no futebol brasileiro.

Pela virada do Século 20 para o 21, quando do rolo no jogo Vasco x São Caetano (matéria acima), Eurico estava reeleito deputado federal – pelo Partido Progressista Brasileiro -, por 105.969 votos, e pedia aos colegas de parlamento para não marcarem nada em dia de jogos do glorioso Club de Regatas Vasco da Gama.

Eurico Miranda começou a aparecer – mais do que ministro do Supremo Tribunal Federal – em 1985, quando perdeu eleição à presidência vascaína, para Antônio Calçada. Mas compôs com o cara e passou a fazer parte de sua diretoria (dele).

Quando vice-presidente do Vasco, o trepidante Eurico arrumou muitas confusões e controvérsias. Durante o Campeonato Brasileiro de 1998, chegou a ficar 40 dias suspenso, por invasão de campo, em São Januário para tirar satisfações com o juiz de Vasco 2 x 1 Paraná (19.09). Coitadinhos dos homens do apito. Todos tiveram não só as suas respectivas genitoras, mas tias e madrinhas não escaparam de impropriedades que nem os mais atualizados dicionários de palavrões registravam.

Certa vez, Eurico proibiu repórteres da TV, rádio e jornal O Globo de pintarem em São Januário. Eles poderiam criticar quem quisessem, menos o Vasco da Gama. O pior de suas canguinchas, porém, foi após o final do Estadual-RJ-1990, quando o seu clube terminou batido pelo Botafogo (0 x 1) e, mesmo assim, ele determinou que o perdedor seria o campeão. E ordenou a sua rapaziada fazer a volta olímpica, pelo Maracanã, carregado uma réplica de caravela – surrealíssimo!

Com Eurico à frente do Vasco, em 1999, o clube era o segundo maior devedor do INSS: R$ 13,8 milhões, só atrás do Cruzeiro-MG. Mesmo com ele alardeando ter feito o melhor contrato de parceria – com o Bank of América. Pelo meio dos rolos, a CPI do Futebol denunciou a firma Vasco da Gama Licenciamentos de ter remetido US$ 14 milhões de dólares para o exterior, por meio da conta CC-5, criada pelo Banco Central, para tal finalidade. Eurico, porém, garantia nada ter a ver com o tema, afirmando que a empresa era gerida pelo banco.

Passado um tempinho, o Vasco foi sacudido por mais um terremoto: a venda do atacante Bebeto (o (tetra) campeão mundial -1994 José Roberto Gama de Oliveira), por US$ 2,4 milhões de dólares. Denúncia do conselheiro Sérgio Paulo Gomes de Almeida dizia só metade disso ter pintado no cofre de São Januário. Nesse rolo, o Banco Central multou o Vasco em US$ 1,8 milhão.

Eurico disse, certa vez, ao programa Bola da Vez, do Canal ESPN, considerar aceitável cartola levar dinheiro ao negociar um atleta, desde que não prejudicasse o clube. Mas jurava jamais tê-lo feito. Seu desafeto Sérgio Almeida, ainda, o acusava de ter o nome no caderninho do bicheiro Castor de Andrade.

Eurico, realmente, era o bicho. Uma fera da cartolagem. Seu último golpe foi virar uma eleição perdida, eleger o presidente Campello e tornar-se presidente do Conselho Deliberativo. Como diz o poeta: até chegar lá, o cartola tem que vender a alma ao diabo. E Eurico, se vendeu a dele, não vendeu barato.

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