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Histórias da Bola
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Mirandinha, o primeiro da dinastia

Atacante inspirou dois outros goleadores

Gustavo Mariani

17/04/2023 10h40

Francisco Ernandi Lima da Silva, palmeirense de 1986/87, e de 1989/90, e corintiano, em 1991. Também, o primeiro brasileiro a jogar no futebol inglês, no Newcastle-1987/88, além de ter tido incursões pelo Sporting, de Portugal e por dois clubes japoneses. Mais? Quinze jogos e 10 gols pela seleção brasileira olímpica e quatros jogos e um tento pela seleção principal; Isaílton Ferreira da Silva, corintiano, de 1996 a 1999.

Estes dois atacantes – o primeiro, cearense, o segundo, pernambucano – marcaram muitos gols e ganharam o mesmo apelido por conta de um xará que os precedera no mesmo Corinthians. Vejamos a história de Mirandinha I.

Levante, menino! Homem que é homem não fica até as oito horas na cama. Jogador, pra aprender as coisas da bola, precisa treinar muito” – falava, diariamente, e muito cedo, o Seu Sebastião Miranda da Silva, chamando o filho pra ensinar-lhe a cabecear, chutar, etc, em um terreno baldio de Sã José do Rio Preto – o sonho do homem era ver o filho artilheiro de um grande clube, ganhando a fama e o dinheiro que ele não ganhara como lateral-direito, com o apelido de “Magia”, dispensado do São Paulo por ser baixinho. Lá pelas tantas, jogando bola, “na várzea”, como os paulista se referiam aos campos de futebol, o garoto que os amigos o chamavam por Mirandinha – Sebastião Miranda da Silva Filho – foi visto por Oswaldo Bertolino, treinador dos aspirantes do América, de São José do Rio Preto, que o considerou um atacante abusado. E o convidou para se incorporar à sua patota. Convite aceito, lançou-o em seu ataque, sem dar-lhe nenhum treino – começava, por ali, a saga de Mirandinha.

Era 1968 e, logo, o garoto tornou-se o artilheiro do América-SJRP. Repetiu a dose, em 1969 e, em 1970, foi o principal goleador do Campeonato Brasileiro de Juvenis, disputado em Santo André-SP. Motivo para o grande Corinthians, como sonhava o seu pai, pagar Cr$ 100 mil cruzeiros pelo passe do filho, uma boa grana no cofre de um clube de interior. De sua parte, Mirandinha mostrou-se investimento satisfatória, terminando o Campeonato Paulista-1971 com 17 gols marcados, um a menos do que o principal “matador”, o César Maluco Lemos, do Palmeiras. No Brasileirão, repetiu a vice-artilharia, com 11 tentos, quatro a menos do que Dario, do Atlético-MG e que atuara mais vezes.

O sucesso, então, bateu na casa dos Miranda da Silva, quando o Mirandinha contava 19 de idade, jogando por um verdadeiro grande time – Ado; Zé Maria Baldochi, Luís Carlos Gualter e Pedrinho Nepomuceno; Tião (Sebastião Carmo Silva), Suingue e Rivellino; Caíto, Mirandinha e Aladim. Um dia, o Seu Sebastião, ao qual o Mirandinha era muito ligado, deixou de existir. Fora como se uma bomba tivesse explodido nos pés e na cabeça do filho. Transtornado pela grande perda, o futebol de Mirandinha piorou, parecendo que ele havia se esquecido de tudo o que aprendera. Virou sinônimo de jogador “lebréia”, principalmente, por conta de tantos gols perdidos. Assim, após 162 jogos e 50 gols com a camisas corintianas, ele foi negociado com o São Paulo FC, em 1973.

Pelo time tricolor do Morumbi, o então “ex-goleador” Mirandinha retomou o seu status de grande “matador”, com o treinador Oswaldo Brandão. Se Aimoré Moreira o havia recebido, no Corinthians, vendo-o centroavante veloz, chutando forte, com os dois pés e sabendo se desmarcar, com facilidade. Só o via devendo no quesito habilidade. Na nova casa, aos 21 – nasceu em 26.02.1952, em Bebedouro-SP-, ele retomou a boa forma e não demorou a conquistar a torcida são-paulina, marcando 12 gols, em 20 jogos.

Tudo ia bem para o Mirandinha, que chegara à Seleção Brasileira – por sete partidas – quatro delas pela Copa do Mundo da então Alemanha Ocidental – 18.06.1974 – Brasil 0 x 0 Escócia; 22.06.1974 – Brasil 3 x 0 Zaire; 03.07.1974 – Brasil 0 x 2 Holanda; 06.07.1974 – Brasil 0 x 1 Polônia. Até que pintou o dia 24 de novembro de 1974 em sua vida (foto do arquivo do Jornal de Brasília). Ele havia aberto o placar de São Paulo 3 x 0 América de São José do Rio Preto, quando, durante choque com o zagueiro Baldini, saiu de campo com a perna esquerda fraturada. Passou por sete cirurgias e só voltou aos gramados três temporadas depois, sem jogar o mesmo futebol. Nesse tempo, o seu reserva, Serginho Chupala (Sérgio Bernardino) aconteceu – tornou-se o maior goleador da história do São Paulo: 243 gols, em 401 partidas, entre 1973 a 1982.

Como não dava mais para mantê-lo em seu grupo, pelo qual disputara 93 prélios e marcara 43 gols -, São Paulo livrou-se de Mirandinha, em 1977, emprestando-o ao Tampa Bay, dos Estados Unidos, pois o substituto Serginho Chulapa vinha arrebentado. Depois, passou pelo Memphis Rogue e o mexicano Tigres, para voltar ao Brasil e defender o Atlético Goianiense, em 1981. Já era um “cigano” quando chegou ao Taubaté-SP, em 1982, e ao ABC- RN, em 1983.

Naquela mesma temporada, Mirandinha veio para o pobretãozérrrimo Clube de Regatas Guará do desprestigiadíssimo futebol candango. Parecia o seu fim de linha. Mas ele ainda teve fôlego para vestir mais as camisas do Douradense-MT (1983); União Mogi-SP, Saad e Independente de Limeira, todos paulistas, em 1984, e Pinhalense-SP, em 1985.

Quando jogou pelo Guará, de cidade satélite de Brasília, Mirandinha contou que, ao sair do Brasil e passar por Estados Unidos e México, ao anunciar à família que iria jogar em Goiás, um filho o indagou:

Pai! Que língua a gente vai falar, por lá?

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