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Histórias da Bola
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Matador que o ‘Coró’ matou

Célio Taveira, um dos maiores goleadores vascaínos, foi abatido pela Covid-19

Gustavo Mariani

19/10/2020 11h38

Atualizada 11/11/2020 16h19

Em 1963, ele marcou 25 gols; em 1964, 29; em 1965, 32, e 1966, 14. Total: 100 bolas na rede (11 cobrando faltas) usando a jaqueta da Turma da Colina. Mas, para alguns pesquisadores vascaínos, a totalização pode ser maior, lembrando eles que, antes de Pelé marcar seu milésimo gol, em 1969, não havia preocupação com estatísticas no futebol brasileiro.

O goleador em questão foi registrado por Célio Taveira Filho, nascido na paulista Santos, em 16 de outubro de 1940, o que significa que celebraria 80tão, neste 2020, se não tivesse sido levado pelo novo coronavírus, pelo final de maio deste 2020. Ele entra na história do Vasco da Gama como o seu maior goleador da década-1960.

Antes de chegar a São Januário, Célio havia passado por Portuguesas Santista, Ponte Preta e Jabaquara, todos times paulistas. A sua história vascaína começa pelos inícios de 1963, quando a sua nova turma girava pelo México e ele foi enviado para se apresentar ao treinador Jorge Vieira. Até então, o seu currículo anotava 35 gols marcados entre Ponte (1959 a 1960) e Jabuca (1960 a 1962).

Fora aquilo, o mais importante na carreira de Célio era só ter sido companheiro de Pelé durante o serviço militar, em Santos, e nascido neto de Antônio Taveira de Magalhães, campeão carioca de remo-1905/1906), pelo Vasco da Gama. Pouco? Logo começaria a ser muito. Célio agarrou a chance lhe dada por Jorge Vieira, entrosou-se bem com Saulzinho, o artilheiro vascaíno e saiu do México campeão do Torneio Pentagonal, tendo por adversário, na final, o Dukla, da então Tchecoeslováquia, base dos vice-campeões mundiais da Copa-1962, seis meses antes.

Em sua estreia com a jaqueta vascaína, Célio já bateu na rede, com chute de fora da área, diante do El Oro, em Vasco 5 x 0. (17.01.1963). De volta ao Rio de Janeiro, disputou o Torneio Rio-SP (maior competição do futebol brasileiro da época) e fez gol, em Vasco 1 x 1 Palmeiras. (28.03). A torcida vascaína, porém, só o incorporou como ídolo quando ele voltou do Torneio Pentagonal do Chile ( 31.03 a 14.04) tendo sido o “cara”, marcando cinco tentos, em quatro partidas – dividiu o título com o Universidad de Chile, não decidido por falta de datas.

De novo em São Januário, Célio disputou um amistoso – Vasco x Goytacaz, de Campos-RJ, partiu para nova excursão, daquela vez por África e Europa e, na volta, estreando no Campeonato Carioca, marcou um dos três gols mais rápidos da história do futebol vascaíno: aos 45 segundos de Vasco da Gama 4 x 1 Portuguesa-RJ (30.06) – Thiago Galhardo (04.02.2028), aos 18 segundos de Vasco 3 x 1 Volta Redonda-RJ; Nenê (31.05.2016), aos 23 segundos de Vasco 1 x 1 Oeste-SP, e Dimas (18.01.1048), aos 40 segundos de Vasco 3 x 1 Cruzeiro, são os mais apressadinhos.

Naquele Estadual-RJ-963, Célio perdeu o seu primeiro pênalti como vascaíno, durante os 5 x 1 Madureira. Mas terminou a competição com 15 bolas no filó, sendo o vice-artilheiro do Carioca – estava, definitivamente, apresentado à torcida.

Em 1964, o Vasco excursionou ao Paraguai, disputou um torneio quadrangular internacional cucaracha e Célio cometeu a sua primeira indisciplina como almiranteiro. Revoltado contra o juiz de Vasco 1 x 2 Cerro Corá (10.03), que favorecia, desavergonhadamente, ao time paraguaio, agrediu o apitador, mas não foi o expulsou do gramado. Repetiu a indisciplina (09.05.1964), aos 51 minutos de Vasco 3 x 3 Portuguesa de Desportos, pelo Rio-São Paulo, trocando tapas com o adversário Abelardo. Foi excluído da partida e, por ali, a imprensa passou a vê-lo com jogador sangue quente, que já havia sido expulso de campo durante Vasco 0 x 0 Olaria ( 06.03.1963) aos 18 do segundo tempo, juntamente com o olariense Roberto Peniche. A torcida vascaína, no entanto, não ligou para as críticas, pois ele havia, no jogo anterior, mantido acesa a chama do Time da Virada, marcando o terceiro gol de Vasco 3 x 2 Palmeiras (04.04.1964), na casa do adversário.

Um outro crédito a Célio lhe foi dado pela galera vascaína, pouco depois, pela conquista do Torneio Francisco Vasques, no Pará (11 a 17.10.1964), com 1 x 0 Paysandu; 3 x 1 Tuna Luso e 3 x 2 Remo, com notícias enviadas ao Rio de Janeiro sobre a sua grande raça e dois gols marcados na conquista de mais caneco carregado para as prateleiras da Colina. Com 16 gols pelo Campeonato Carioca-1964, três do Torneio Rio-São Paulo e 11 em amistosos, fora boa a temporada para Célio.

Em 1965, Célio começou vencendo o I Torneio Internacional do IV Centenário do Rio de Janeiro, marcando dois gols nos 4 x 1 Flamengo da decisão – antes, 3 x 2 Alemanha Oriental. Depois, foi campeão do Torneio Cinquentenário da Federação Pernambucana, no 1 x 1 Náutico, marcando o gol do título, o seu quarto com a jaqueta vascaína – Antes, Pentagonais do México e do Chile e o I Interancionaldo IV Centenário-RJ.

A seguir, Célio teve boas atuações durante Torneio Rio-São Paulo, quando marcou seis gols. Veio a I Taça Guanabara e ele foi campeão vencendo o Botafogo (2 x 0) na final. Mereceu convocação para a Seleção Brasileira. Amistosamente, atuou em Brasil 2 x 0 Alemanha Ocidental e Brasil 0 x 0 Argentina, entrando no decorrer das partidas e formando dupla ofensisva canarinha com Pelé. Pelo mesmo 1965, decidindo a I Taça Guanabara, contras o Botafogo de Garrincha, saiu do Maracanã campeão, pelos 2 x 0 (seu 5º título vascaíno) e principal artilheiro do certame, com 6 gols. Foi, ainda, vice-campeão da Taça Brasil-1965, decidida contra o Santos de Pelé e marcando três dos quatro gols vascaínos no torneio hoje Campeonato Brasileiro unificado pela CBF. No curto campeonato Carioca, com oito times só, Célio repetiu os seis gols do Rio-São Paulo e terminou a temporada com 33 gols.

Em 1966, Célio jogou a sua última partida vascaína (11.12), em Vasco 2 x 0 Olaria, em São Januário, pelo Estadual-RJ, sem marcar gol – o último foi em (26.11) em Vasco 2 x 1 Bonsucesso, do Campeonato Carioca, diante de 13.373 pagantes, no Maracanã. Pelo Torneio Rio-São Paulo, foi o cara de Vasco 3 x 0 Corinthians, no Pacaembu, na estreia corintiana do Mané Garrincha, marcando dois gols. O Vasco ficou campeão, mas dividindo título com Santos, Botafogo e o mesmo Corinthians, por falta de datas para a decisão, pois a Seleção Brasileira, que o convocou, iria treinar para a Copa do Mundo da Inglaterra. Durante a fase preparativa de amistosos, Célio atuou em Brasil 1 x 0 País de Gales (18.05.1966), mas não chegou a Liverpool, a sede canarinha no Mundial.
Pela Taça Guanabara-1966, o Vasco fez só três jogos e Célio nenhum gol. Mas, com três no Campeonato Carioca e seis no Rio São Paulo, totalizou 16 na temporada. Em 1967, o Vasco vendeu o seu passe ao uruguaio Nacional, de Montevidéu, o qual defendeu, por três temporadas e meia, tornando-se ídolo do tricolor Uruguai, principalmente pelos 21 gols marcado durante aa Taça Libertadores ,o que lhe faz de segundo artilheiro do clube uruguaio na disputa. Também ganhou dois títulos nacionais pelo Nacional. Voltou ao Brasil para defender o Corinthians, entre julho de 1970 e até 1971, marcando só quatro tentos, em poucos jogos. Vestiu, aindas a camisa do Operário, da sul-mato-grossense Campo Grande, em jogos amistosos. E foi tudo nos gramados. Depois, tornou-se empresário exportador de frutas, na Paraíba, esteve comentarista de rádio e trabalhou para o Botafogo, de João Pessoa. Muito religioso, apegado ao espiritismo, foi levado pelo coronavírus no recente 29 de maio, perto de atingir oito décadas de transação por este planeta. Partiu deixando quatro filhos (dois homens e duas mulheres) e cinco netos.

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