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Histórias da Bola
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Don Diego Maradona

José Bonetti conseguiu entrevista exclusiva para repórter do JBr com o cracaço argentino

Gustavo Mariani

25/11/2020 14h32

Atualizada 27/11/2020 8h16

Só estive perto de Diego Armando Maradona em uma só vez: em 1988, quando ele disputou a fase preliminar da Copa América, em Goiânia. Mas esta história começa em janeiro de 1976, quando José Bonetti foi enviado, por João Havelange, presidente da FIFA, para tomar conta da garotada que disputaria o Campeonato Sul-Americano de Juvenis, em Paysandu (no Paraguai ou na Argentina, não me lembro bem).

“A FIFA, nos tempos do João Havelange, costurava acordos políticos e sempre enviava assessores para trabalhar, conjuntamente, com a Confederação Sul-Americana de Futebol. Aquela garotada me deu um trabalho danado, todos bagunceirinhos”, contou-me o Bonetti, temos depois, em entrevista para o Jornal de Brasília.

Por conter muito as bagunças do Dieguito, um argentino que foi a grande revelação da disputa, Zé Bonetti tornou-se o Tio Pepe do garoto, com o qual desenvolveu boa amizade pelo restante do tempo em que ele foi o principal assessor de Havelange.

Bonetti, integrante do grupo que trabalhou para o tri no México, após dar baixa do cargo de major do Exército, instalou-se em Brasília, trabalhando para a antiga Radiobras. Quando Havelange precisava dele, pedia e o Governo militar brasileiro o liberava. Foi assim naquele 1988, quando ele foi comandar trabalhos da Copa América, competição oficial do calendário-FIFA.

Era um sábado e jogariam Argentina x Uruguai, no Estádio Serra Dourada. À época, os jornais brasilienses cobriam competições internacionais comprando os serviços de texto e fotos vendidos por agências de notícias. Então, chamei o fotógrafo Sebastião Pedra para irmão à Goiânia, cobrir o jogo, levando as nossas mulheres para passeios pelos shoppings da cidade, enquanto nós pagávamos para trabalhar, por sermos loucos por futebol. O problema era que não tínhamos credenciais. O de menos, pois o Zé Bonetti nos providenciou, fácil. Credenciais no bolso, pedi ao Bonetti pra me arrumar uma entrevista com o glorioso Diego Maradona. “Maninho, você quer agora, ou depois do jogo?”, ele indagou e eu respondi que, se possível, pra ontem, pois pretendia fazer uma página inteira com o papo no jornal do domingo.

O maninho (como ele chama os amigos) bateu um fio para o ap do Don Diego, este desceu pelo elevador do Hostel Castro e nos encontrou, gritando ‘Tio Pepe!”, ao ver o Zé Bonetti, que pediu aos repórteres argentinos para se afastarem, prometendo que, depois, “El Diez” falaria com eles. O Zé Bonetti apresentou-nos ao craque e nos levou para um salão, onde eu faria a entrevista. Durante a caminhada para o local, encontramos com o Hugo Maradona (irmão do Diego e também convocado pelo treinador Carlos Bilardo para a seleção portenha) e o também argentino (naturalizado espanhol) Don Alfredo Di Stefano, considerado um dos cinco maiores craques da história do futebol e que trabalhando como comentarista de uma TV de Madrid.

O Zé Bonetti os convidou os dois a seguirem conosco para a sala onde nos ficaríamos. Formamos um círculo e ficamos conversando, preliminarmente, enquanto ele providenciou cafezinhos e água. Ao perceber que, enquanto batíamos um plá, a minha mulher, que ele chamava por Dona Mara, estava entre o Hugo e o Diego, saiu cometas: “Dona Mara e seus dois Maradona”. E Diez ouviu e exclamou um sorridente “Pressupuesto que si, non!: Dona Mara e los dos Maradona” – o Pedra sacou foto do instante. Depois, fez duas outras quando eu entrevistava o craque. E, é claro, captou dezenas de outras imagens do jogo em que Maradona armou um passe genial para Canigghia fazer Argentina 1 x 0 Uruguai.

Ainda não havia telefone celular, mas conseguimos apanhamos as nossas mulheres no horário combinado à saída do Shoping Flamboyant. Por volta das 21h30 já estávamos em Brasília e fomos escrever (eu) a matéria e revelar (ele) as fotos. Saímos com uma página inteira no domingo, pra inveja da concorrência – graças ao Zé Bonetti.

No momento em que eu fazia esta coluna, a minha mulher, que é índia Kaiyabi, indagou se eu escrevia sobre a pior notícia deste 25 de novembro de 2020. Respondi que sim e ela pediu pra mandar este recado, que aqui transcrevo: “Maradona, aqui é a Dona Mara. O Grande Espírito da Luz estava precisando de um Camisa 10 em seu time, e lhe convocou”.

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