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Histórias da Bola
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Coronavírus alemão

Em 1943, enquanto a Europa explodia, no Brasil, o que se jogava era futebol

Gustavo Mariani

18/05/2020 11h31

Atualizada 11/11/2020 16h24

O planeta vivia a sua segunda grande guerra. Era 1943 e a Rádio Nacional do Rio de Janeiro anunciava que a Real Força Aérea britânica usara 700 aviões e jogara 1.500 toneladas de bombas sobre a nazista Berlim, de Afolf Hitler.

Enquanto a Europa explodia, no Brasil, o que se jogava era futebol. Rio de Janeiro e São Paulo preparavam-se para decidir o campeonato nacional de seleções estaduais, afinal o campo de luta armada era longe daqui. Mas havia a paranoia de um ataque, por submarinos alemães, à capital brasileira, em represália ao comércio brazuca com os Estados Unidos, pelos mares do Atlântico Norte.

Os alemães, que afundaram 36 embarcações e mataram cerca de mil brasileiros, eram o demônio da vez. Frequentemente, as autoridades convocavam a população carioca, por sirenes, para exercícios de defesa civil. A moçada colocava máscaras contra gás e vamo que vamo!

No futebol, um esquisito regulamento marcava quatro jogos decisivos, entre cariocas e paulistas, dois em cada praça, decidindo  a competição. São Paulo venceu os dois em casa e foi tentar o tri em São Januário, na Cidade Maravilhosa. 

Presidente da carioca Federação Metropolitana de Futebol, o sobrinho predileto do presidente Getúlio Vargas, o cara do homem nos desportos, Vargas Neto, prometeu fazer o impossível para impedir o tri paulista. Conseguiu, mas arrumou um tremendo rebu antes do início do jogo de 23 de dezembro, véspera do Natal.

Para motivar o seu time, Vargas Neto mandou preparar um grande foguetório, para saudá-lo durante a sua entrada em campo. Com as notícias sobre a ameaça de bombardeios alemães assombrando o povão, não deu outra. A brazucada achou que os submarinos nazistas estavam  iniciando o castigo, e o time paulista encolheu-se, amedrontado, em um canto do estádio. Foi preciso o seu chefe, Roberto Gomes Pedrosas, depois de informado sobre a verdadeira causa dos estrondos, tranquilizá-lo, para seus jogadores encararem a pugna.

Os paulistas, no entanto, não confiaram muito na garantia de que nenhuma bomba cairia sobre as suas cabeças. Sobressaltados, não se concentram muito no balípodo e levaram uma goleada: 6 x 1. Só o ponta-direita carioca João Pinto meteu quatro vezes a bola no barbante.

Se dependesse da vontade dos jogadores paulistas, ele teriam ido embora logo após a derrota. Sentiriam-se mais seguros em São Paulo, que não era cidade litorânea e estaria livre de submarino nazistas. Tiveram, no entanto, que ficar. Foram brindados com cardápios finos no hotel – filé de peixe com purê de batata, e arroz com bife/frango – , mas seguiam cabreiros.

Veio a finalíssima, no 30 de dezembro, e o Rio de Janeiro mandou 2 x 1, ficando campeão, no saldo de gols –  com uma ajudinha do coronavírus submarino alemão. 

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