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Histórias da Bola
Histórias da Bola

Campeão de bagunça

Rolos em estádios rolam por todas as partes. O Brasil é o campeão mundial.

Gustavo Mariani

21/04/2023 10h17

Até a primeira metade do século 20, as bandalheiras nos estádios de futebol eram até poucos. Dali pra frente, não se teve como segurar a moçada mal intencionada, que passou a desembestar-se dentro e fora do gramado. Passou até a marcar brigas pela Internet. Vejamos dois exemplos de bagunçarias:

21.02.1973 – Bahia 1 x 1 Flamengo – Torneio do Povo, no estádio da Fonte Nova, em Salvador. Aos 39 minutos do segundo tempo, o flamenguista Paulo César marcou gol, em impedimento, não se conformou com a anulação, xingou o juiz Garibaldo Matos e foi expulso de campo. Dois minutos depois, o já advertido zagueiro rubro-negro Washignton cometeu falta desclassificante e, também, foi excluído da partida.

O Fla vencia, por 1 x 0, até os 45 minutos, quando o seu zagueiro Fred socou a bola com uma das mãos, dentro da área. Pênalti claro, indiscutível. Menos para os flamenguistas, que partiram para a confusão que requereu intervenção policial. Ânimos serenados, o zagueiro Roberto Rebouças, do Bahia, cobrou o pênalti e o goleiro carioca Renato o defendeu. O árbitro, no entanto, o viu cometendo irregularidade no instante da cobrança. Nova confusão, maior do que a primeira, com a participação de atletas, policiais e repórteres. Destaque para um policial correndo, com cacetete nas mãos, atrás do zagueiro Fred.

Após o gramado ser “reliberado” para a para a prática do ludopédio, o Rebouças foi para a sua segunda cobrança. E mandou a bola para o mesmo local, propiciando defesa idêntica do goleiro visitante, acusado, novamente, por ter se mexido durante a cobrança da penalidade. Mais uma confusão rolando, com o Flamengo ameaçando deixar o campo e a Federação Baiana de Futebol de não lhe pagar a sua cota pela apresentação, caso cumprisse a ameaça.

Ameaça não cumprida, o Bahia trocou o cobrador e entregou a missão o meia Fito, que mandou goleiro pra um lado e bola para o outro: 1 x 1 e fogo nos jornais do dia seguinte. Os cariocas diziam que os jogadores flamenguistas haviam sido massacrados pelos policiais baianos, enquanto os diários de Salvador noticiavam que os jogadores visitantes haviam agredido os policiais.

21.02.1973 – Fortaleza 0 x 0 Calouros do Ar – Campeonato Cearense, em Fortaleza. Lá pelas tantas, o juiz Edson Carneiro expulsou da pugna o volante Serginho, do clube da casa, acusando-o de ter cometido falta violente sobre o ponteiro Vinícius, do time visitante. Revoltada, a torcida do Fortaleza derrubou e arrastou 150 metros de alambrado cercantes de metade da praça esportiva. “Cena autêntica de guerra filmada em cinerama”, considerou a revista Placar – Nº 155, de 02.03.1973. Enquanto rolava o tumulto, a PM, que deveria dar segurança à partida, foi encurralada, até o alambrado, pela multidão alucinada que invadia o gramado e queria invadir o vestiário e matar o árbitro.

Parecia que tudo terminaria em muito sangue, com os policiais passando a atirar pra cima, tentando controlar a multidão enfurecida. Gastaram muita munição, mas não conseguiram fazer com que muitos torcedores desistissem de suas intenções catastróficas, usando pedaços de paus, de cimento, de tijolos usados contra quem tentasse pará-los.

Coitada da PM cearense! Demorou muito para prender exaltados e contornar a situação. Em uma só noite, trabalhou pelo equivalente a um mês. Resultado da pugna: entre presos e feridos, quem mais sofreu foi o velho Estádio Presidente Vargas, saído daquela bagunça todo depredado, pedindo uma boa (e que não seria barata) reforma.

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