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Histórias da Bola
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Apanha, Ademir, apanha!

Maior goleador brasileiro da década-1950 era um autêntico “boi de piranha”

Gustavo Mariani

11/04/2024 11h43

Segundo Ademir Menezes, nas partidas das década-1940/1950, os zagueiros disputavam entre si quem seria o primeiro a ser expulso de campo. Ele cumprimentava, um a um, antes de um jogo, pra ver se eles amaciavam, mas não adiantava. Um deles, o xerifão Gérson, do Botafogo, lhe disse: “Perdi muita grana em apostas nos cavalos. Pra ganhar o bicho de hoje, lhe mato, se for preciso”.

Ademir queixava-se de que os zagueiros lhe mandavam murros nos rins, cotoveladas nas costelas, bicudas nos tornozelos, “batiam pra valer”. E relembrava de um Vasco da Gama x Bangu: “Houve um lançamento longo para mim. Quando no lance, ouvi um beque banguese gritar pro outro: “Esta é minha”. Era a senha pra me dar uma pancada, cai ao chão, estatelado, o que se repetiu em outros lances, com os beques banguenses disputando quem me batia mais.

Este jogo foi em 12 de setembro de 1943, pelo segundo turno do Campeonato Carioca, no estádio da Rua Ferrer, com a dupla de zaga banguense formada por Enéas e Paulo. Com certeza, Ademir “pediu mesmo para apanhar”, pois marcou três gols na balaiada vascaína, por 7 x 0.

Duarante as décda-1940, quando Ademir Menezes chegou ao Vasco da Gama (pertencia ao Sport Recife), os estádios do futebol carioca tinham cadeiras na pista ao lado do gramado e separação entre as arquibancadas baixas, para evitar que torcedores inflamados pudessem discutir e brigar.

Um dos zagueiros que mais batia em Ademir Menezes era o futuro treinador refinado, o “gentleman” Zezé Moreira. “Ia ao gramado só pra bater, tirar um ou dois do jogo, pois, naquele tempo, jogador expulso de campo poderia ser substituído. Pior: o Botafogo (time de Zezé Moreira) tinha um reserva, o Martim, que ficava no banco só aguardando o momento do Zezé ser expulso, para ele entrar na partida”, lembrava Ademir dos tempos em que os becões malvados usavam chuteiras de bico duro, com reforço de metal sob couro curtido, “para intimidar”, afirmava.

Daquele jeito, Ademir Menezes teve muita sorte de sair vivo das partidas que disputava. Mas enfrentou duas fraturas de pernas, afundamento do osso malar e cicatrizes espalhadas por todo o corpo. Isso tudo quando ainda não havia a medicina esportiva, ninguém sabia no Brasil o que seria uma cirurgia de meniscos – o primeiro a submeter-se a isso foi Russo (Adolfo Milman), operação feita no exterior. A maioria dos atletas usavam joelheiras para se protegerem.

Ademir considerava o Sul-Americano de 1946 um dos piores episódios de sua carreira. Contava: “Sem querer, quebrei a perna de um argentino, no Maracanã, em um jogo da Copa Roca (23.12.1945, em São Januário-RJ). Quando fomos jogar em Buenos Aries, pelo Sul-Americano (10.02.1946), o cara (Batagliero) desfilou, antes da partida, em frente à torcida, com a perna engessada. Veio o jogo e um choque entre o Jair (Rosa Pinto) e um outro argentino causou mais uma perna quebrada. A torcida invadiu o gramado e comandou um massacre pra cima da gente. Debaixo de muitas pancadas, conseguimos nos refugiar no nosso vestiário. Achávamos que estávamos em segurança, quando um funcionário da federação de futebol deles (Associação Argentina de Futebol) veio nos dizer que não garantiria nos tirar vivo dali, se não voltássemos ao gramado. Voltamos, apanhamos mais e perdemos na bola (0 x 2)”.

Pelos seus últimos tempos de atleta (1952 a 1956), o pior marcador de Ademir foi Jadir, do Flamengo. Isso bem antes de Moisés (antigo becão do Vasco da Gama) dizer que ‘zagueiro deve aproveitar os primeiros cinco minutos pra bater a vontade, pois nenhum juiz expulsa ninguém com cinco minutos de jogo”. Jadir já parecia saber daquilo e não perdoava Ademir.

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