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Histórias da Bola
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A primeira zebra

Quando a repercussão de uma vitória foi tão grande, que o seu presidente do clube propôs e o conselho aprovou ter a zebra como mascote do time

Gustavo Mariani

09/01/2024 11h17

Foto: Reprodução/Facebook

Durante muito tempo da década-1960, falou-se na criação de uma loteria esportiva, pelo governo brasileiro. Além da Carta Patente 368 conseguida pelo Comitê Olímpico Brasileiro-COB, junto ao Ministério da Fazenda, para amparar entidades desportiva, o mais ficava só nos papos, enquanto mais de 30 países operavam o sistema, há mais de duas décadas, dos quais o mais falado por aqui era a Totocalcio, da Itália.

Já que o torcedor brazuca não apostava em uma loteria oficial, rolavam os bolos esportivos e discussões se eles eram, ou não, ilegais. Para a Lei de Contravenções Penais, eles eram, por serem considerados “jogo de azar”.

Embora a lei desse os bolões por ilegais, o Conselho Nacional de Desportos-CND (extinto em 1993) os consideravam concurso de palpites – acerta e erra -, e via as loterias fora da curva, por incluírem sorteios, consentido pelo mesmo Estado que proibia os “jogos de azar”’.

No meio desse rolo, o presidente do Conselho Nacional de Desportos, o deputado paulista Rogê Ferreira, reuniu presidentes de conselhos regionais de desportos, em São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba e Brasília, mas os papos ficaram só no ar. A Guanabara – fundiu-se com o Rio de Janeiro, em 1975 – nem tinha um conselho desportivo.

Pelos finais da década-1960, depois de muito papo e nenhuma ação efetiva, o Brasil ficou mais perto da sua loteria esportiva. Inicialmente, falou-se em Concurso de Prognósticos, regido pela legislação penal, e previu-se que arrecadaria cerca de Cr$ 300 milhões de cruzeiros anuais (cerca de 400 milhões de reais, hoje), com os apostadores tendo à disposição 13 partidas de futebol para a escolha do vencedor, ou um empate, em prélios de campeonatos estaduais ou de amistosos, com esta divisão da grana, abaixo:

10% para agentes lotéricos; 45% do que sobrara do primeiro iten para premiação; 40% para a Legião Brasileira de Assistência e os desportos – grana esta dividida em 40% para a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBFutebol); 30% para o CND; 20% para as confederações e 10% para o COB – e 15% para as despesas de administração, que cairiam para 10%, após três temporadas.

A Loteria Esportiva foi instituída pelo presidente da república, Arthur da Costa e Silva, 1969, mas o primeiro teste só rolou em 19 de abril de 1970, apostado só na Guanabara. Administrado pela Caixa Econômica Federal, vendeu 100 mil bilhetes, juntou prêmio de Cr$ de 253 mil, 958 cruzeiros novos (valeriam, hoje, cerca de R$ 394 mil reais) e ninguém beliscou, principalmente, porque o Jogo 9 – Esportivo x Grêmio – pela fase preliminar do Campeonato Gaúcho, registrou a primeira “zebra”.

O apostador desavisado não sabia que o favorito Grêmio, um dos dois maiores clubes do futebol gaúcho, excursionava com os seus principais atletas e compareceria ao Estádio Montanha dos Vinhedos, em Bento Gonçalves, com reservas. Mesmo assim, ainda era o favorito. Só que não combinaram com o atacante Décio, que estava a reserva e saiu do banco para aprontar.

A repercussão da vitória do Esportivo foi tão grande, que o seu presidente, Sérgio Pozza, propôs e o conselho deliberativo aprovou ter a zebra por mascote do time. Depois, passou a ser associada à própria Loteria Esportiva, em todas as páginas de jornais e revistas.

Arte: Reprodução

Os primeiros zebrões da Loteria Esportiva chamavam-se: Esportivo: Cleino: Adair, Zé, Ademir e Marcos; Paulo Araújo, Rui, Gonha e Neca; Laírton e Ronaldo (Décio), treinador por Abílio dos Reis. Grêmio-RS: Rubens; Ivo, Fiorese, Áureo e Clóvis; Claírton, Júlio Amaral, Romualdo e Paraguaio; Bebeto e Adílson da Rosa, comandados pelo auxiliar-técnico Alduíno Zílio.

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