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Crunch: o boss final no desenvolvimento de jogos

Entenda como a carga horária excessiva de desenvolvedores de jogos atrapalha no resultado final

Karol Scott Lucena

29/06/2022 18h48

Foto: Divulgação

É muito comum, principalmente nos dias de hoje, jogos serem lançados e duramente criticados se não entregam o que estava na expectativa do jogador. Mas afinal, os que tanto criticam, sabem realmente como é o desenvolvimento de um jogo?

Para entendermos melhor, precisamos saber que um jogo pode levar mais de cinco anos para ser produzido. Depende do orçamento, quantidade de pessoas envolvidas e horas gastas em seu desenvolvimento. Em todo trabalho, prazos devem ser cumpridos, e ao fazer um jogo, isso também é extremamente importante.

Muitas das vezes, jogos são financiados por grandes produtoras, essas que exigem a entrega do serviço em um determinado tempo e a desenvolvedora que lute. Essa pressão em cumprir prazos pode ser aumentada caso não sai tudo como planejado no cronograma. Sendo assim, as chances do “Crunch” acontecer são imensas.

Mas o que é crunch, afinal?

Vocês com certeza já ouviram falar em horas extras, certo? Pois bem, crunch é o período que exige mais trabalho dos funcionários para cumprir os prazos na entrega de um jogo. Períodos que podem chegam a ser extremos. A carga horária comum seria de 40 horas semanais, porém, quando o tempo é curto e o trabalho é muito, pode chegar a 80 horas. Existem casos, como em Red Dead Redemption 2 e Fortnite, por exemplo, que os colaboradores somaram 100 horas trabalhadas por semana.

Essa prática existe desde os anos 1980, quando jogos tinham que ser lançados para o fim do ano, mas deviam estar prontos em meados de agosto, para que houvesse tempo de produção das mídias físicas. Com a mudança para mídias digitais, houve redução destes momentos insanos, mas o mercado, sempre acelerado demais, já voltou a exigir demais das empresas.

Outro ponto crítico nessa discussão seria o fato destes funcionários não receberem por suas horas extras trabalhadas. Ao longo dos anos, processos judiciais surgiriam e levantariam debates importantes para a mudança dessa prática. Nomes como Rockstar Games e EA tiveram ações judiciais abertas por funcionários, alegando não só a falta de pagamento quanto o impacto disso em sua saúde.

É como diz o ditado: tudo que é demais, faz mal. A consequência de trabalhar sem parar leva a esgotamento, depressão, ansiedade e até ataques de pânico. Como ter produtividade estando assim?

Uma pesquisa feita pela The Game Outcomes Project concluiu que o crunch torna os jogos piores em vez de melhores. E um grande exemplo disso é Cyberpunk 2077. A CD Projeckt Red já tinha sido duramente criticada durante o processo de The Witcher 3, por isso, chefes vieram a declarar que no processo de Cyberpunk 2077 não iriam levar seus desenvolvedores a este ponto. Infelizmente a história foi contrária. A pressão nos últimos anos por parte dos acionistas e chefes de estúdio resultaram novamente em uma carga horária exaustiva para que o jogo ficasse pronto no tempo que exigiram. E claro que o resultado não seria dos melhores. Mesmo levando aproximadamente oito anos para ser desenvolvido, o jogo foi lançado e não agradou em nada os jogadores. Com uma jogabilidade quase impossível e cheio de bugs, o jogo foi duramente criticado e virou um grande meme da indústria dos videogames.

A verdade é que por trás de um jogo, a realidade pode ser cruel. Pessoas deixam suas famílias e amigos para focar, muitas das vezes, não por opção, mas por medo de perderem seus empregos. Quando isso acontece, pode ser que o jogo não venha como esperado. Mas lembrem-se que existem atualizações capazes de corrigir erros cometidos por essa pressão extrema, e que um jogo nem sempre está fadado a ser ruim por sua versão inicial.

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