Poucos dias atrás, logo na sua apresentação como novo treinador da Seleção Brasileira, o técnico Dorival Jr fez a sua primeira “convocação”:
“Estou aqui de coração aberto, buscando fazer a primeira convocação do momento: que o torcedor brasileiro viva um pouco mais a sua Seleção. É obrigação nossa entregar uma Seleção que volte a passar credibilidade a todos nós. Eu peço de coração que o torcedor volte a participar do dia a dia da nossa Seleção”, disse na entrevista coletiva.
Sim, é preciso devolver a Seleção à torcida brasileira. Mas isso não é apenas uma questão esportiva, e sim um problema político.
O fato é que o simbolismo em torno das cores verde e amarelo ganhou novos significados com a apropriação ideológica que uma determinada corrente política colocou na camisa da Seleção. Se nas cores da bandeira brasileira o verde lembra as matas e a ampla natureza do país, enquanto o amarelo representa o ouro e outras riquezas do Brasil, no contexto atual, as duas cores remetem ao apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
E, não por acaso, na tentativa de golpe do dia 8 de janeiro de 2023, a imensa maioria dos irresponsáveis manifestantes estava vestida com a camisa pentacampeã do mundo.
O torcedor, que agora é convocado por Dorival para apoiar a Seleção – mesmo aquele que não gosta de política – sente-se inconscientemente envergonhado de “vestir a camisa” – literalmente falando.
Após aquele fatídico 8/1, a CBF chegou a divulgar uma nota repudiando o uso da amarelinha em “atos antidemocráticos e de vandalismo”. No texto, a entidade disse que a camisa é um “símbolo da alegria do nosso povo” e defendeu que ela seja usada “para unir, não para separar, os brasileiros”.
Neste vídeo no Instagram do Jornal de Brasília, a coluna Futebol Etc defende inclusive que a camisa amarela seja “aposentada”, para separar de vez o futebol da política
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“Envergonhados Futebol Clube”
Antes da Copa do Catar, em 2022, a CBF estava visivelmente preocupada com essa gama de “envergonhados”, e tentou, por meio de uma peça publicitária, despolitizar a camisa da Seleção. Na propaganda, a música “Ela me faz tão bem”, de Lulu Santos, foi utilizada para se referir à camisa, mostrando, que, ao menos durante a Copa, ela seria de todos e deveria ser usada apenas para torcer pelo futebol brasileiro.
Mas aí surgiu um fato inesperado e absolutamente inconveniente: a declaração de voto de Neymar a Bolsonaro, no segundo turno. Todo o esforço da CBF foi por água abaixo.
Conclui-se, portanto, que, apesar da boa a intenção do técnico Dorival Jr, a convocação feita aos torcedores não será suficiente para separar o futebol da política.
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