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Fala, Torcida
Fala, Torcida

Violência sem fim

Somente nos últimos dias, foram três casos de brigas, confusões e tentativas de invasão, sendo duas delas mais do que lamentáveis.

Thiago Henrique de Morais

21/10/2022 5h00

Atualizada 11/11/2022 9h59

Rafael Bandeira / Sport Recife

Abrir esse espaço para falar do título do Flamengo sobre o Corinthians, na última quarta-feira, seria uma obviedade. Por isso, na edição de hoje, deixei a repercussão da final ao lado, e tentarei focar um pouco mais no que aconteceu durante essa semana fora das quatro linhas: a violência e a desorganização. Somente nos últimos dias, foram três casos de brigas, confusões e tentativas de invasão, sendo duas delas mais do que lamentáveis.

No Recife, mais uma daquelas situações onde o jogador de futebol não pode comemorar um gol. Raniel, após empatar o duelo contra o Sport, tirou sua camisa e mostrou para a torcida adversária. Longe de ter a mesma qualidade técnica, o atacante vascaíno apenas parafraseou em imagens a cena de Messi segurando a camisa e mostrando para a torcida do Real Madrid. Se lá, apenas vais foram entoadas, por aqui, Raniel foi recebido por uma chuva de objetos e com a invasão da torcida do Sport a fim de querer agredir os jogadores do Vasco da Gama.

Você pode estar se questionando agora: “ah, mas ele deveria ter evitado a situação. O futebol é passional” ou qualquer discurso do tipo. E não, ele o jogador tem o direito de comemorar. Sempre foi assim. Deve continuar da mesma maneira. Não é porque o jogo é na casa do adversário que não se pode comemorar. O defensor dessa ideia quer mesmo é acabar com o futebol. O gol é o momento de extravasar e não apenas de ficar se abraçando, ainda mais quando ele é importante e decisivo.

A outra situação dramática aconteceu no jogo entre Ceará e Cuiabá, pela Série A do Brasileiro. Antes do fim da partida, torcedores do clube cearense iniciaram uma confusão entre si, pouco antes do gol de empate. Houve invasão de torcedores para cobrar os atletas, que correram para o vestiário para se defenderem. Por conta da baderna, vários pais com filhos entraram no gramado para fugir de um possível empurra-empurra ou um pisoteamento. A arbitragem decidiu pelo fim da partida, apesar de ainda restarem sete minutos a serem disputados.

Por conta dos incidentes, o Cuiabá usa os artigos 19 e 20 do Regulamento Geral de Competições (RGC) pedindo os pontos da partida, pois houve a interrupção por falta de segurança, sendo que o clube que deu causa ao fato pode ser declarado perdedor por 0x3. Situação que muito difícil será acatada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva daqui a algumas semanas – até porque a nossa justiça é “célere”, sendo possível o campeonato ter encerrado e um veredito não ter sido dado.

Em Goiânia, no sábado, uma situação a par da violência dentro do estádio. Por uma canetada judicial, a partida entre Goiás e Corinthians, que aconteceria com torcida única, acabou suspensa horas antes do embate. Uma desorganização sem fim. O clube paulista chegou a desembarcar na capital do Goiás, só com reservas, mas não conseguiu ir a campo. Agora, a CBF precisa encontrar uma data para encaixar o jogo do asterisco – que sempre aparece em nosso “organizado” calendário brasileiro.

Nos arredores do estádio, também temos que lamentar o ocorrido na quarta-feira, no Maracanã, quando corintianos e flamenguistas tentaram invadir o estádio sem ingressos, algo já esperado pela Polícia Militar do Rio de Janeiro. Em junho, pela mesma Copa do Brasil, torcedores do Flamengo conseguiram furar as catracas da área norte e ingressaram ao estádio. Até em Copa do Mundo, no duelo Argentina x Bósnia-Herzegovina, houve incidente de invasão. Para reprimir os atos, bombas de efeito moral foram atiradas em direção aos torcedores – sejam eles com ingresso ou não. Como sempre, poucos foram detidos. E os que foram, estavam soltos rapidamente. Muito devido à impunidade e à falta de vontade do poder público em reprimir ações em eventos esportivos, mantendo o despreparo das forças de segurança em situações do tipo.

Nossa legislação contra quaisquer desses tipos de violência precisa ser mais severa. Tem que haver, sim, a punição de pontos ao clube, mas que fique bem clara quais são as situações, em um rol taxativo, sem criar margem para eventuais pedidos de punição por qualquer coisa. Quem sabe se punindo o time, não com fechamento de estádio, mas com pontos na tabela, custando uma classificação, um título ou definindo um rebaixamento, o torcedor não aprenda. Mas para os dirigentes e cartolas é melhor deixar do jeito que está. Infelizmente.

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