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Fala, Torcida
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Sarrafo baixo

Tanto a imprensa quanto os torcedores saudosistas precisam parar o quanto antes de querer comparar os times brasileiros com os europeus. Infelizmente, o nosso sarrafo é outro

Thiago Henrique de Morais

10/02/2023 9h37

Foto: Divulgação

No atletismo, mais especificamente nas provas de salto com vara, os atletas de baixo ranking tentam sempre a classificação às finais com saltos de altura bem baixa. Com o passar das etapas, vários deles sequer conseguem ultrapassar a marca inicial e vão sendo eliminados logo após as três tentativas iniciais. Somente quando o sarrafo vai aumentando é que os favoritos entram na disputa. Enquanto os menores lutam para superar marcas consideradas baixas, os veteranos a superam com facilidade, mostrando o porquê de serem os melhores.

Podemos usar a analogia do esporte olímpico no futebol. Sempre que vemos um time brasileiro em alta, temos o costume de tentar encaixá-lo em alguma liga da Europa. Mas os resultados recentes dos times nacionais e sul-americanos nos Mundiais de Clubes mostram que o nosso índice é bem abaixo do europeu. A derrota do Flamengo, detentor do melhor elenco das Américas, para o Al Hilal, da Arábia Saudita, é só mais uma das provas disto.

A eliminação rubro-negra para uma equipe da Ásia se soma a outras cinco eliminações precoces sul-americanas nas semifinais do Mundial de Clubes. O primeiro a cair foi o Internacional, em 2010, para o Mazembe, do Congo. Três anos depois, foi a vez do Atlético Mineiro ser eliminado por outro time africano, o Raja Casablanca, do Marrocos. Em 2016, o Atlético Nacional (COL) foi eliminado pelo Kashima Antlers, do Japão. Dois anos depois, foi a vez então poderoso River Plate (ARG) cair para o Al Ain, dos Emirados Árabes. Por fim, em 2020, o Palmeiras sucumbiu diante do Tigres, do México.

Pelo lado de cá do Atlântico, temos o costume de nos achar os melhores do Mundo. É bem verdade que diversos atletas de Brasil e Argentina são exportados com frequência para grandes centros do futebol europeu. Mas são meras peças individuais. Sem contar que vários destes que vão para o lado de lá, sequer são protagonistas de suas equipes. Neymar não é o chefão do PSG, que ainda tem Messi e Mbappé. Vinícius Júnior, um dos melhores brasileiros na Europa, não é a grande peça do Real Madrid. E por aí vai. São pequenos exemplos de que não somos tão poderosos assim. E se fossemos tão bons e tivéssemos times com uma excelente estrutura financeira, casos hoje exclusivos a Palmeiras e Flamengo, manteríamos os seus super-craques e não os venderíamos a preço ínfimo para o futebol europeu – em alguns casos, para clubes de médio ou pequeno porte.

Quando começa os Mundiais de Clubes, sempre temos dificuldades contra equipes da África, Ásia ou América do Norte. Considerando somente os times brasileiros que disputaram a competição de 2005 para cá, nenhum deles conseguiu ter uma facilidade contra equipes deste continente, por mais que sempre nos achemos superiores a eles. Um misto de arrogância e soberba, achando que ainda somos os melhores do mundo pelo fato de termos cinco estrelas no peito – sendo que nos mundiais passados, poucos foram os jogadores que atuam no país convocados para as Copas do Mundo.

Tanto a imprensa quanto os torcedores saudosistas precisam parar o quanto antes de querer comparar os times brasileiros com os europeus; de achar que qualquer equipe do Brasil se classificaria com tranquilidade em uma fase de grupos da Champions League, mesmo sendo na vaga de algum país de pequeno porte do futebol europeu. A realidade nossa é outra. Temos que nos comparar com equipes da América Central, da Ásia, da África. Precisamos entender que não somos mais os melhores do mundo. As participações de Palmeiras e Flamengo nos últimos mundiais mostram isso com perfeição. Ambos chegaram a cair nas semifinais em uma oportunidade. Na outra, se orgulham de terem brigado de igual por igual contra os europeus, apesar da derrota. Infelizmente, o nosso sarrafo é outro. Estamos entre aqueles que brigam para estar em finais e lutar para não passar vergonha diante dos grandes. E isso não tende a mudar.

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