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Fala, Torcida
Fala, Torcida

A burrice da torcida única

Entre a tradição do futebol e a segurança nos estádios, a falta de políticas públicas abre espaço para polêmicas restrições.

Thiago Henrique de Morais

09/02/2024 14h18

Reprodução/Instagram

Uma das coisas mais legais que o futebol proporciona é poder zombar o seu amigo, colega ou um mero rival quando o seu time vence ou conquista títulos. Está na raiz do esporte. Mas, em função de atos de violência desacerbada, muitos estádios pelo Brasil não contam com a torcida visitante. A medida de segurança visa coibir confrontos ao redor dos estádios. Algo totalmente superficial, pois já é sabido que vários dos embates entre as organizadas acontecem a quilômetros de distância do estádio. Mortes continuam surgindo e seguirão até que sejam tomadas medidas eficazes para coibir.

O Distrito Federal conviveu com um clássico com torcida única nesse meio de semana. O Gama venceu o Brasiliense, por 2 a 0, no estádio Bezerrão, na última quarta-feira, mas não pôde aproveitar aquele encanto de zombar o seu rival. As medidas paliativas por parte da segurança pública chegam a ser escancaradamente preguiçosas para evitar qualquer tipo de confronto entre torcedores. E olha que estamos falando de um clássico em Brasília, onde a popularidade dos clubes em questão é ínfima próximo do que acontece no estado de São Paulo, por exemplo, onde também se adota a torcida única.

Curiosamente, quando há um clássico regional de fora do DF, ou até mesmo jogos que envolvam grandes torcidas, como foi o caso de Flamengo e Palmeiras, na Supercopa do ano passado, todos os esforços são concentrados para evitar qualquer problema ao redor dos estádios. Logo, o que se percebe, é a falta de vontade das forças de segurança em permitir que os estádios tenham mais torcedores, seja do mandante e, principalmente, do visitante.

E aqui vale um ponto: não se trata apenas do clássico entre Gama e Brasiliense. Recentemente, a torcida do Gama foi proibida de ir ao estádio JK, no Paranoá, para acompanhar o jogo entre o alviverde e o Capital – equipe que não conta com uma forte base de torcedores no DF. Vale ressaltar que tal medida não foi eficiente, já que vários torcedores do Gama usaram do jeitinho brasileiro para ingressar ao estádio, sem qualquer cor verde ou símbolos do time em suas vestimentas.

O Superclássico do Brasil, realizado no último fim de semana, entra como um argumento de que, sim, pode e deve ter torcida dos dois times no estádio. E olha que, no caso em questão, a torcida foi separada meio a meio, com carga de 50% para ambos os clubes. O jogo precisou ser realizado no estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, uma vez que é vetada a presença de torcida visitante no estado de São Paulo. Houve barreiras de contenção, dividindo as torcidas, o que ficou notório nas imagens de TV. Quando se quer, eles conseguem realizar os jogos com duas torcidas em um mesmo local.

A situação é bem diferente do que aconteceu no Rio de Janeiro, em novembro do ano passado, quando a CBF teve a “excelente” ideia de colocar argentinos e brasileiros sem qualquer divisão de torcida no Maracanã. Claro que houve confusão. “Ah, mas por que não existe briga nas torcidas mistas no mesmo estádio?”, você deve se perguntar. Pois, nesse caso, não se tratam de organizadas. E, por muitas das vezes, há locais designados para esse público misto – no caso do Maracanã, os setores Leste e Oeste – a antiga geral.

Oras, se nas décadas passadas, onde a situação do país era muito pior do que a que vivemos nos dias atuais, com um índice de criminalidade e mortalidade até maior em números nacionais, os torcedores de duas equipes conviviam dentro de um mesmo ambiente e sem qualquer conforto – o Maracanã já chegou a receber mais de 120 mil pessoas em um Fla-Flu – , por que, hoje, não se consegue fazer o mesmo? A violência sempre existiu e seguirá existindo. Mas tomar essas medidas paliativas é mais fácil que gerar uma política pública decente para evitar quaisquer tipos de confrontos. Não duvide que daqui há alguns anos, torcedores de uma mesma agremiação fiquem impedidos de entrar no estádio, haja punição de estádios fechados, em torcedores… Opa, esqueci. Isso já acontece com frequência. E nada disso serve para nada. E seguirá sem servir. Quem perde com tudo isso é o torcedor e o esporte.

A coluna entrará de férias e volta a ser publicada no dia 8 de março

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