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Educar é ação
Educar é ação

Entrevista sobre Educação com o ator Marcos Veras

Philip Ferreira

24/05/2020 9h42

Atualizada 25/05/2020 11h00

foto: Fábio Audi

foto: Fábio Audi

JB- O que é Educação para você, Veras?

Marcos Veras: Para mim educação é tudo! A cada fato que acontece no Brasil, nas nossas vidas, com a família, experiências pessoais e profissionais, se pensarmos sobre, sempre iremos voltar na educação. Quando olhamos para o Brasil, para as mazelas, diferenças, preconceitos, diferenças sociais, para todos os problemas, as qualidades, porque temos muitas, sempre iremos voltar para a educação. Toda conversa que venho tendo com minha esposa, com amigos, em reuniões de Whatsapp, eu sempre bato nessa tecla: “isso tem a ver com educação!”. Você tratar bem o outro, um “bom dia” tem a ver com educação. Assim como o preconceito também tem a ver. As diferenças sociais que, cada vez mais, estão gritando na nossa cara com a pandemia estão nos dando um alerta… Tudo é ligado à educação!

Para mim educação não é somente intelectualidade, formação acadêmica e faculdade. O assunto é tão amplo que talvez ele explique o que estamos passando hoje.

JB- Quais as principais vivências e lembranças que você traz da escola?

Marcos Veras: Eu posso colocar no pacote das melhores lembranças da minha vida os momentos nas escolas em que eu estudei. Eu estudei em escola particular da 1ª a 4ª série, e depois o meu pai não conseguiu mais pagar e eu fui para uma escola pública federal, no Instituto de Educação que tinha a tradição de ter somente mulheres, as normalistas. A minha irmã, que já faleceu, se formou lá, assim como o meu irmão. Eu estudei no Instituto de Educação da 5ª a 8ª série e meu segundo grau também foi em escola pública. As lembranças que eu tenho são as melhores possíveis, da relação com os professores, com os alunos que se tornaram amigos que tenho contato até hoje. Eu sempre me recordo porque se eu sou assim hoje é devido à escola. Tem a ver com os recreios, com as matérias que eu reprovei, com as matérias que tirei notas boas, com as professoras de reforço. A escola, para mim, faz parte da formação de qualquer cidadão, independente da sua profissão e ambições.

Está acontecendo agora uma certa polêmica com a “aula online”, eu acho que cortar o elo entre aluno e escola, nesse momento, é algo muito grave. Acho importante os professores, as escolas e instituições estarem presentes e conseguirem manter um vínculo mesmo que seja online. E para isso, é necessário que todos os alunos consigam ter esse acesso virtual. É preciso pensar em medidas para os jovens que não tem uma estrutura em casa para acompanhar as aulas online. Se esse será o futuro, eu não sei. Mas no momento que estamos passando, é importante não fazermos uma ruptura tão drástica. A educação antes de qualquer coisa é o que pode ditar o seu futuro, o seu presente, o seu comportamento. Eu sou sempre a favor de estudar. Apesar de estar longe de ser um acadêmico eu devo tudo ao que estudei. Tudo isso me faz tentar ser um cidadão melhor.

foto: Fábio Audi

foto: Fábio Audi

JB- Você será pai em breve. Existe alguma preocupação com a educação que estará disponível para o seu filho?

Marcos Veras: Me preocupa sim! Ser pai já é uma preocupação no geral. Os cuidados normalmente já são em dobro. Agora com a pandemia elas triplicam. Os pensamentos também aumentam. Você começa a pensar na primeira creche, na primeira escola, se terá dinheiro para uma escola particular, ou se a escola pública já vai estar funcionando de uma forma melhor. Eu peguei bons momentos da escola pública, mas o que a gente vê hoje é um sucateamento das escolas públicas através de um pagamento baixíssimo dos professores, o que gera uma revolta nos alunos porque o ensino ainda é baseado na cobrança pela nota 10, pela pressão de ter que decorar. Eu não sou um educador, falo como cidadão, como artista. O ensino público é direito de todos, mas devido à desigualdade social, acaba sendo destinado as pessoas que não possuem condições de pagar uma escola particular. O que não é garantia de que a escola particular tenha um bom ensino. Muitos professores com capacidades enormes nas escolas públicas ganham mal e não têm condição de ensino de qualidade. O aluno precisa ter algum tipo de atrativo. Essa cobrança quase ditatorial com médias 8 e 9 é desnecessária. Sempre fui péssimo em matemática, mas uma das professoras que tenho mais carinho foi a Vera, professora de matemática.

JB- Como que a Educação pode mudar o mundo?

Marcos Veras: Eu acho que a educação pode transformar o mundo através da arte! Historicamente, todos os momentos difíceis que a humanidade viveu, a arte sobreviveu, a arte mudou, foi alento, foi educativa e fator de transformação. Eu consigo colocar a arte no mesmo pacote da educação. Acho que a educação, a arte e a cultura sejam o futuro. A educação pode salvar esse país e as pessoas. Mesmo estando em um momento pessimista eu sou otimista. E gora que sou pai, sou mais otimista ainda. Não é possível que depois de tudo isso que estamos passando não nos tornemos um povo mais educado, mais amoroso, que busque mais o conhecimento e que faça mais arte. Me emociona ver um jovem na televisão falar que está com saudade da escola. Eu estou com saudade da minha, imagina esse jovem! A minha sobrinha, de 10 anos, está tendo aula online. Ela montou um cantinho na sala de casa para pintar e estudar. Nesse momento difícil que estamos passando é um elo que ela mantém com a escola, mesmo de casa. Quase todos os dias tentamos fazer vídeos para matar a saudade e ela me mostra as pinturas que tem feito, e ai o tio chora!

Agradecimentos:

         

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