Ex-presidente da Câmara Legislativa, distrital por dois mandatos, Joe Valle acaba de ser incluído na equipe de transição do governo Lula. Na última eleição, Valle ensaiou um retorno à vida pública, concorrendo ao Senado por seu partido, o PDT.
No final da tarde desta quarta-feira, 16, Valle esteve pela primeira vez no núcleo da transição, no Centro Cultural Banco do Brasil. Começará a trabalhar de imediato no grupo da Agricultura, onde estarão quatro ex-ministros, além de deputados e senadores.
Valle pretende defender a sustentabilidade no setor agrícola, hoje uma cobrança mundial. “Tudo”, completa ele, “sem esquecer a importância econômica do agronegócio, em que o Brasil é a locomotiva mundial”.
Valle diz que o grupo já tem muitos integrantes extremamente qualificados na área agrícola e que, acredita, seu papel será tratar mais da inovação.
Não é para menos: Joe Valle é o gestor da Fazenda Malunga, maior produtora de hortaliças orgânicas do Brasil e em uma das maiores da América Latina, que desde 2005 cresce 30% ao ano.
Temos de trabalhar, acredita ele, com a ideia de uma agricultura saudável, socialmente correta e ambientalmente correta, embora sem nunca deixar de lado o peso econômico do agronegócio e de sua importância para o Brasil.
Manobra com o teto de gastos
Por falar em transição, sabendo das dificuldades que terá para manter o Bolsa Família fora do teto de gastos para além do ano que vem, a equipe coordenada por Geraldo Alckmin tomou a primeira decisão concreta desde que foi constituída.
Na prática, colocou um bode na sala. É a recém-construída proposta de que a nova superbolsa família excluída do teto de gastos fique sem prazo definido no texto da proposta de emenda constitucional que pretendem colocar em votação de imediato.
O time do futuro governo Lula joga com a hipótese de um fura-teto por tempo indeterminado, que dificilmente será aceito, para ao menos tentar que o texto fique nos quatro anos que pretendiam desde o início.
Em outras palavras, jogam com qualquer alternativa para evitar que, como é a tendência, fique com prazo de apenas um ano. É que, na turma que chega ao governo, ninguém quer ficar dependente, todo ano, de Arthur Lira, Ciro Nogueira e Valdemar Costa Neto para garantir esse e outros programas.
Número recorde
A composição do grupo de transição foi fechada nesta quarta-feira, 16, com um recorde. O time que vai compor a passagem do governos Bolsonaro para o governo Lula soma 283 integrantes – já sem Isabel Salgado, que chegou a ser indicada para o grupo de trabalho de Esportes, mas faleceu na própria quarta. É o maior número de participantes de uma equipe brasileira de transição.
O contingente representa mais de quatro vezes o previsto na lei da transição para esse tipo de trabalho, 50.
Esse limite, porém, é apenas o número máximo de pessoas a receberem salário do governo para compor a transição. Não há nenhuma restrição a que mais pessoas participem, desde que seja para trabalho voluntário.
É isso que permite a presença do ex-ministro Guido Mantega, que está proibido de assumir funções públicas pelo Tribunal de Contas da União, por conta de uma condenação judicial, mas atuará sem remuneração.