A decisão tomada nesta quarta-feira, 11, pelo plenário virtual do Supremo Tribunal Federal era esperada tanto pelo governador Ibaneis Rocha quanto pelos advogados encarregados de sua defesa.
A decisão manteve o afastamento do governador por 90 dias e o exercício pela vice Celina Leão. Mais do que previsível: os demais ministros não iriam, neste momento, desautorizar Alexandre de Moraes (na foto inspecionando, pela manhã, a destruição no STF), todos sabiam.
Mas isso não significa que as condições permaneçam como estão. Advogado militante há décadas e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Ibaneis tem contatos permanentes nos tribunais superiores e já existem muitos bombeiros atuando nessa linha.
Apoio de adversários
Adversário histórico de Ibaneis Rocha, o deputado eleito Alberto Fraga fez nesta quarta-feira uma defesa do governador. Condenou as manifestações do domingo, “que não condizem com os valores que defendemos”, mas afirmou que o afastamento de Ibaneis “extrapola os limites da democracia”.
Afinal, o governador “foi afastado sem nenhuma investigação prévia ou chance de defesa”, embora “tenha sido eleito democraticamente e precise ter seus direitos respeitados”.
A posição é semelhante à de outros adversários do governador, como o senador Izalci Lucas e o advogado Paulo Roque. Fraga defendeu também a Polícia Militar do Distrito Federal, dizendo que os policiais na ativa “não medem esforços para garantir a segurança na capital”.
Fogo amigo causa mais tensão
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, negou nesta quarta-feira, 11, que tenha qualquer intenção de deixar o governo. Disse ainda que, ao contrário, “é hora de as pessoas responsáveis se juntarem para ajudar o presidente Lula”.
Há uma mensagem embutida nisso. A referência a “pessoas responsáveis” constitui uma ironia com o fogo amigo de petistas contra ministros não-petistas, caso dele, principalmente, mas também do ministro da Justiça, Flávio Dino.
Não por acaso, quem assegurou que José Múcio pediria demissão foi o deputado André Janones, que ficou muito próximo a Lula durante a campanha, mas não obteve vaga no ministério.
Dirigentes petistas, embora de forma não assumida, estão na ofensiva contra os dois, a tal ponto que ex-ministros da Defesa – Nelson Jobim (Lula), Aldo Rebelo (Dilma) e Raul Jungmann (Temer) – fizeram uma reunião virtual com o líder de Lula no Senado, Jaques Wagner, para dizer que “José Múcio está com um bom relacionamento com as Forças, pois ele foi escalado para fazer a conciliação e está fazendo isso muito bem”.
Então, disseram os antecessores a Jaques Wagner, que no governo Dilma já ocupou o mesmo cargo, “agora, não faz sentido atirar pedras”.
Onde há fumaça
O ataque aos ministros da Justiça e da Fazenda, partido de caciques petistas, tem antes de mais nada uma postura partidária.
Afinal até a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, criticou a permanência de militantes bolsonaristas junto aos quarteis, em uma crítica indireta a José Múcio.
No entanto, partem de uma constatação: os dois ministros tiveram tempo e instrumentos para agir de forma preventiva contra as invasões da região central, tanto assim que tinham já feito isso para a posse do presidente Lula, em 1º de janeiro, agindo em consenso com o governador Ibaneis Rocha.
Esses instrumentos não foram usados. Ainda nesta quarta, 11, o interventor de Segurança Pública no Distrito Federal, Ricardo Cappelli se manifestou sobre o assunto, ao comentar a substituição de 13 oficiais da Polícia Militar do DF.
“Vamos procurar restabelecer no comando do órgão a equipe que comandou com sucesso a operação de segurança da posse do presidente”, afirmou.
Já corre na Câmara dos Deputados, inclusive, requerimento para convocar o ministro da Justiça Flávio Dino a se explicar, “por não ter agido na prevenção às depredações em Brasília, tendo em vista que ele teria sido informado pela ABIN, no sábado, sobre os riscos de vandalismos”.