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O divertido quebra-cabeça do carro antigo…

Minha incrível jornada de algumas semanas na busca de três parafusos.

Aurélio Araújo

23/12/2020 11h33

Ferro velho do Zé do Norte em Águas Lindas de Goiás. Foto: Aurélio Araújo.

Quando a gente decide comprar um carro antigo, a gente sabe que está entrando em um verdadeiro quebra-cabeça, muitas vezes sem fim. Além do custo, nem vou entrar nesse mérito, deixar o carro completo é uma verdadeira aventura. Para quem gosta, isso é pura diversão, para quem não gosta, pode ser um verdadeiro inferno. Demanda tempo, disposição, muita idas ao mecânico e, aos poucos, você vai entendendo o carro, cada detalhe e o porquê de cada coisa. E cada coisa resolvida é motivo de alegria. É uma jornada longa, afinal, para quem gosta, não precisa ter pressa.

Como muitos amantes de veículos, eu tenho o meu carro antigo. E comigo não é diferente. A gente tem um projeto na cabeça, vai avançando, mas sempre tem algum ponto a mais que você não esperava. Faz parte. Fiquei meses escolhendo os pneus ideais para o meu projeto. Pesquisei muito, vi valores, tamanhos, modelos, até que achei os que eu queria. Agendei a instalação e fui animado. Deixei o carro e fui tomar um café enquanto a troca dos “kichutes” era feita. Aí me chamaram… “está pronta!”. E fui empolgado ver o resultado. Pneus grandes para todo terreno, o carro ficou com a cara que eu imaginava. Mas aí veio a frase que você nunca quer ouvir em uma oficina: “mas teve um problema “. 

Os parafusos prisioneiros traseiros da roda esquerda estavam espanados. Para você que não faz ideia do que eu estou falando, é o parafuso que você coloca a porca para prender a roda do seu carro. Todos os carros têm… alguns têm três, na Fórmula 1 é apenas um central, no meu carro são seis e três estavam ruins. Por questões de segurança, distribuí os três de maneira homogênea nos seis buracos, fui direto para casa e decidi não usar o carro até resolver o problema. Afinal, eram apenas três parafusos, segurança em primeiro lugar! E aí comecei a jornada.

Fui em praticamente todas as casas de parafusos do DF e as que eu não fui eu liguei com as medidas. Para minha “sorte”, a medida de 17.5 polegadas da fresa do parafuso é uma medida americana que não se usa no Brasil há muito tempo e o que parecia algo simples virou uma verdadeira dor de cabeça.

Comprei na internet os prisioneiros, pensei “agora vai”,  mas descobri que as medidas da roda dianteira e da traseira são diferentes e na internet no Brasil só temos as medidas da dianteira. Achei um site importador. Sim, mandei importar três parafusos e a previsão de chegada era algo em torno de três meses. Me acalmei por um dia. No dia seguinte pensei: “três meses sem andar no carro? Logo agora que está com pneus novos? Não, eu preciso achar outra solução!”

Peguei o telefone e comecei a ligar em todas as lojas de peças usadas do setor H Norte (na fronteira entre Taguatinga e Ceilândia). Mas ninguém tinha um carro como o meu. Fui desanimando de novo. No último número… uma esperança. Apesar da loja não ter nada do meu carro, parece que o seu “Zé do Norte” tinha uma. O problema é que ele mudou a loja dele para Águas Lindas de Goiás e ninguém tinha seu telefone. 

Pátio do ferro-velho do Zé do Norte em Águas Lindas de Goiás. Foto: Aurélio Araújo.

Agora a missão era achar o telefone do Zé do Norte e o Google me ajudou com isso. Tentei ligar algumas vezes e nada. Fiquei três dias ligando todas as manhãs. “Uma hora ele me atende”, pensei. E ele atendeu. Falou que tinha o carro, mas precisa ver se tinha os parafusos. No dia seguinte, liguei de novo e confirmou: Ele tinha!

Acordei cedo e rumei para Águas Lindas para encontrar o seu Zé do Norte. Achei fácil o endereço e lá estava ele no seu terreno cheio de carros prontos para serem desmontados e vendidos. Ele compra carros batidos e de leilão e vende as peças. É o famoso ferro-velho. Andei no terreno e lá no fundo vi o carro, com o eixo traseiro desmontado ao lado. O eixo esquerdo estava com 6 parafusos. Eu olhava aquela peça que nem o Gollum (famoso Sméagol) do Senhor dos Anéis e pensava “my precious”!

Eixo traseiro com os parafusos prisioneiros da roda no ferro-velho do Zé do Norte, Águas Lindas – GO. Foto: Aurélio Araújo.

“Quero todos os seis!”. O Seu Zé do Norte tirou os parafusos. Me disse que eu passei o problema para ele agora. Como o carro tinha documento, ele queria montá-lo um dia. Pensei: “boa sorte em achar esses parafusos”. Mas ele era gente boa e espero que consiga montar o carro dele em breve. Paguei o valor que ele pediu e voltei para casa pensando “agora é só instalar”! Infelizmente, a correria do dia a dia não me deixou instalar tão rápido. Mas resolvi. E toda vez que vou ao encontro do carro olho para os três parafusos da roda e dou uma risada. Nunca é tão fácil quanto a gente imagina. Mas é sempre divertido!

OBS: Os parafusos que mandei importar dos EUA ainda não chegaram, mas ficam de reserva. Só para garantir. 

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