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Conta Giros
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Brasília, cidade fusca…

Nas minhas boas lembranças da infância achei o besouro mais famoso do mundo. E é por isso que, para mim, Fusca e Brasília combinam.

Aurélio Araújo

08/05/2020 11h03

Atualizada 10/05/2020 12h22

Fusca

No aniversário de Brasília postei no Instagram um ensaio que fiz em 2010 de um Fusca diante dos monumentos da nossa cidade. Eram os 60 anos da capital, então quis escolher algo bacana. Isso por que o fusca é cara de Brasília. Pelo menos para mim.

Chegamos aqui em 1985 transferidos de Olinda-PE. Meu pai saía de 3a Divisão de Levantamento para servir na Diretoria do Serviço Geográfico do Exército (DSG). A ideia, segundo ele, era ficar por aqui uns dois anos e voltar. Nunca voltamos. E foi na DSG que meu pai conheceu aquele que viria a ser o seu melhor amigo… e ele tinha um Fusca. Isso é muito importante na história, por que quando chegamos em Brasília a gente não tinha carro. Então, foi nesse Fusca que a gente viveu muitas aventuras, fortalecemos laços e nos transformamos em uma só família.

Nos finais de semana, íamos para o clube, todos dentro do Fusca verde carinhosamente chamado de “verdolengo”. O tio, a tia, os dois primos, a irmã da tia, o marido da irmã da tia, os dois filhos da irmã da tia, eu, meu pai, minha mãe e minha irmã (que chegou em Brasília com pouco mais de um mês).

“Verdolengo”. Foto: Arquivo Pessoal

Em resumo, éramos 12 pessoas de três famílias (seis adultos e seis crianças) dentro de um fusca, indo se divertir no clube em um domingo de sol. No “chiqueirinho” do carro, íamos animados para mais um dia de aventura na piscina. A vida era mais simples e a gente também. Lembrança feliz da infância. É por isso que, para mim, Fusca e Brasília combinam.

Anos depois, já adulto, minha irmã ganhou um Fusca branco 1984. Ela tinha acabado de entrar na UnB. Fizemos o motor, troquei as lanternas traseiras e o carro ficou zerado.

Um dia, eu voltava dirigindo ele pela W3 sul, e tive que parar o carro. O cabo do acelerador havia arrebentado (típico). Peguei um arame (quem nunca?). Puxei a borboleta do acelerador e deixei o carro em alta rotação até chegar em casa. O legal do Fusca é que quando ele fica no prego, quase sempre você pode fazer alguma coisa para ele continuar andando. Outra época, antes do famoso “liga para o seguro”.

Curtimos muito aquele Fusca, mas ele foi roubado logo depois. O tempo passou, até minha irmã comprar outro fusca. Dessa vez era laranja (não lembro o ano), mas tinha umas rodas que deixavam o besouro com cara de mau. Nessa época eu estava bem envolvido com fotografia (ainda tinha a paciência necessária para o ofício) e decidi fazer um ensaio do fusca pela cidade. Depois o Fusca foi vendido, mas as fotos e as lembranças ficaram.

Estacionei o carro em frente ao Museu Nacional e ali comecei a registrar as curvas de Niemeyer se misturando às curvas de Ganz (ou seria de Ferdinand Porsche?). Isso é debate para muitas horas. O fato é que as curvas se inspiram. A sensualidade dos traços dos arquiteto parecem ter continuidade na máquina. Quando o Fusca foi projetado, Brasília ainda era apenas um sonho de Dom Bosco, e quando Niemeyer desenhou sua peças para Brasília, já tinha firme seus traços e estilos, mas quando os dois se encontram num presente qualquer é pura sincronia.

Fusca

Foto: Aurélio Araújo

Foto: Aurélio Araújo

Foto: Aurélio Araújo

Brasília é uma cidade Fusca, cheia de linhas arrojadas e, dentro dela, cabem muitos corações de todo o Brasil.

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