Menu
Ciência da Psicologia
Ciência da Psicologia

O que é personalidade?

Com base na teoria dos antigos gregos, o humorismo, Galeno estabeleceu um conceito de tipos de personalidade

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

09/05/2023 11h28

Foto: Cottonbro Studio/Pexels

Tentamos entender a personalidade humana desde a Grécia Antiga. Pode-se dizer que tudo começou com Galeno, filósofo também conhecido como Galeno de Pérgamo, médico romano que se dedicava a explicar o funcionamento do corpo humano. Com mais de 500 livros sobre medicina, suas teorias influenciaram a ciência médica ocidental por mais de um milênio.

Com base na teoria dos antigos gregos, o humorismo, Galeno estabeleceu um conceito de tipos de personalidade.

O humorismo tem suas raízes na proposta do filósofo grego pré-socrático Empédocles (495-435 a.C.), em que as características dos quatro elementos básicos: terra (fria e seca), ar (quente e úmido), fogo (quente e seco) e água (fria e úmida), poderiam explicar a existência de todas as substâncias. Assim, Hipócrates (460-370 a.C.) considerado o “pai da medicina”, desenvolveu um modelo médico com base nos quatro elementos de Empédocles e atribuiu suas características a quatro humores.

Avançamos cerca de 200 anos depois de Empédocles, onde Galeno expandiu essa teoria, voltando-se para a personalidade. Para ele, havia uma relação direta entre os níveis de humores no corpo e as inclinações emocionais e comportamentais, que ele chamou de “temperamentos”. Ele citou quatro deles:

  • 1º Sanguíneo (ar): afetuoso, alegre, otimista e confiante;
  • 2º Fleumático (terra): lento, quieto, tímido, racional e coerente;
  • 3º Colérico (fogo): impetuoso, energético e apaixonado;
  • 4º Melancólico (água): triste, medroso, deprimido, poético e artístico.

Apesar de interessante, a proposta de Galeno não tem base cientifica alguma, mesmo que alguns psicólogos ainda se refiram a ela, ou mesmo façam falsos testes (que eles erroneamente chamam de psicológicos) e tentem “classificar” seus pacientes nesta teoria megaultrapassada.

Na psicologia, o estudo da personalidade foi sistematicamente iniciado na década de 1930. O livro de Gordon Allport, Personality: a psychological interpretation (Allport, 1937), oficializou o inicio do estudo da personalidade na ciência psicológica. Para Allport, à época, “a personalidade definir-se-ia como uma organização dinâmica, dentro do individuo, dos sistemas psicofísicos, que determina seu ajuste único ao ambiente” (p. 48). Esta organização dinâmica, esta ligada aos “traços” de personalidade compreendidos como “estruturas neuropsíquicas com a capacidade de incorporar diversos estímulos funcionalmente significativamente consistentes formas de comportamento adaptativo e expressivo.”

Desde então, temos passado por estudiosos como Cartell, que define a personalidade como sendo uma estrutura metal, ou seja, uma inferência feita com base no comportamento observado para explicar a regularidade ou mesmo a consistência deste.

Iniciada no século XX, a teoria dos traços continua em voga até os dias atuais e ainda muito bem aceita entre os pesquisadores. Atualmente temos, com base nos modelos iniciais dos traços, e também como tentativa de organizar os traços em várias dimensões da personalidade, o modelo dos “cinco grande fatores” ou Big Five, caracterizado por cinco grande dimensões amplas da personalidade:

  • Neuroticismo: contrasta ajustamento e mau ajustamento emocional, avaliando a suscetibilidade ao estresse e como o individuo reage a situações de pressão;
  • Extroversão: refere-se a intensidade das interações interpessoais e da busca de estimulação do meio;
  • Abertura: trata do interesse por novas experiências ou preferência em manter uma postura mais conservadora;
  • Agradabilidade ou amabilidade: refere-se a qualidade da orientação interpessoal. Predisposição a se sensibilizar e ajudar as pessoas ou em manter uma postura autocentrada;
  • Consciensiosidade: grau de persistência, força de vontade e determinação orientada a um objetivo.

O modelo perdura por trabalhar com a ideia de que traços são comuns a todos os seres, independente de sua etnia, credo, crença, etc. Afinal, todos somos caracterizados pelos mesmos traços de personalidade, sendo que o nível e a intensidade destes traços é o que nos difere. Assim, cada pessoa apresenta um perfil diferenciado de personalidade.

Independente de aceitarmos a teoria antiga de Galeno ou a atual do Big Five, o que não pode acontecer com a avaliação da personalidade é em uma avaliação psicológica para concurso público, por exemplo, avaliar de forma distorcida um traço e não aceitar recurso de seus candidatos a este respeito, como ocorreu no concurso público para a Polícia Penal do Distrito Federal e que relatei em coluna há algumas semanas. De acordo com a banca do concurso, o traço altivez refere-se a resistência a frustração. Acontece que o manual do teste em momento algum confirma este conceito.

Até a próxima…

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado