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Ciência da Psicologia
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Música e cérebro: a importância da musicoterapia

A música tem um papel especial na história do ser humano e, a cada dia, vem ganhando mais espaço no campo terapêutico

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

09/01/2024 11h46

Foto: Andrea Piacquadio/Pexels

Confesso que não sou especialista no tema de hoje. Sou mero apreciador — e dos menos habilitados. A coluna desta terça-feira (9) será musical: falaremos do efeito da música no cérebro humano.

Diversas áreas são envolvidas no processo de escutar uma música, como ocorre, por exemplo, quando ouvimos uma canção agitada para malhar; quando estamos apaixonados e escutamos versos românticos; ou ainda, quando assistimos a uma banda num culto religioso.

Nestes momentos, nosso cérebro é acionado de uma forma espantosa. Quase todas as áreas dele são ativadas, bem como seus mais diversos subsistemas neurais. As regiões envolvidas vão muito além das primeiras ou segundas responsáveis pelos processos auditivos, incluindo locais ligados a memória, emoção, circuitos motores, entre outros.

De acordo com os neurocientistas, as características musicais básicas, como tom e volume, são processadas no córtex auditivo primário; já o córtex auditivo secundário é envolvido quando temos a questão harmônica (melodias, ritmos, etc); enquanto o córtex auditivo terciário junta tudo em uma percepção multidimensional da música; para quem é músico e/ou sabe fazer leitura musical, a área envolvida é córtex visual; acompanhar uma letra, isto é, cantar com quem está tocando, é responsabilidade do hipocampo, responsável pelas memórias.

Para quem de fato toca uma música, os locais ativados são os lóbulos frontais (o córtex pré-motor e motor) e o córtex parietal (sensorial). Muszkt, no artigo Música e Neurociência, afirma que existe uma lateralização hemisférica para a música, onde o hemisfério direito diferencia melhor a melodia, e o hemisfério esquerdo, o ritmo e a duração.

Obviamente, todo este processo pode ser amplificado ou não em decorrência da experiência e cultura na qual estamos envolvidos.

Acreditem ou não, a música ainda recebe pouca atenção da comunidade científica, se comparada a outras áreas que afetam nosso cérebro. Mas, mesmo com poucas pesquisas disponíveis, não podemos ignorar as mudanças causadas pela música em nossas vidas, mudanças estas tanto de humor como fisiológicas, afetando assim a atenção, o comportamento e a emoção — e aqui entendemos emoção como um processo complexo e subjetivo que envolve uma experiência subjetiva, uma resposta fisiológica e uma resposta comportamental no indivíduo.

É interessante destacar que a musica ativa mecanismos de recompensa e motivação semelhante a comida, drogas ou sexo, a não ser, é claro, nos pacientes que sofrem de amusia (distúrbio de percepção musical), sugerindo que o sistema dopaminérgico está diretamente envolvido no prazer de se ouvir música, já que há um aumento do fluxo sanguíneo cerebral na área do núcleo accumbens, responsável pelas reações emocionais à musica.

Considerando tudo o que falamos até agora, não é de se estranhar que diversas iniciativas exploram os efeitos terapêuticos da música para a saúde e o bem-estar em nosso dia a dia. Dentre as diversas atividades, temos a musicoterapia, por exemplo. No Brasil, temos a União Brasileira das Associações de Musicoterapia (Ubam), que publica a Revista Brasileira de Musicoterapia. A literatura atual aponta que esse tipo de terapia pode aliviar dores, minimizar sintomas depressivos, aprimorar a coordenação motora (inclusive em pessoas que sofrem de paralisia cerebral) e atuar como apoio calmante em um dia estressante.

Desde a Grécia Antiga, temos relatos da música influenciando o pensamento, as emoções
e a saúde física das pessoas. Diversos são os psicólogos, inclusive eu, que têm em seus consultórios uma harmonia ao fundo durante as sessões. Afinal, como sempre digo, as memórias são afetivas, e como a música ativa áreas que envolvem memória, emoções e comportamento, nada melhor do que uma boa canção para ajudar no trabalho terapêutico.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 350 milhões de
pessoas sofrem de depressão no mundo. O Brasil, infelizmente, tem o maior número de pessoas depressivas em toda a América Latina, registrando aproximadamente 11,5 milhões de cidadãos.

Assim, a musicoterapia passa a ser uma grande aliada no tratamento destas pessoas. Como afirmei no inicio da coluna, não sou um especialista no assunto, mas como psicólogo e entusiasta do tema, posso afirmar que na minha pessoa a música tem efeito, evocando as mais diversas emoções e pensamentos. Afinal, quem nunca se emocionou com músicas como ‘A Lista’, de Oswaldo Montenegro; ou se alegrou com ‘Bom Dia’, da Zizi Possi; ou ainda relaxou ou meditou ao som da Enya?!

A música tem um papel especial na história do ser humano e, a cada dia, vem ganhando
mais espaço no campo terapêutico. Em áreas como lazer, esporte, romance, entre outras, já tem seu lugar bem definido.

E se você um dia se sentir desmotivado, ouça Bia Bedran ou a famosa ‘Eu me Remexo Muito’, da animação Madagascar.

Até a próxima!

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