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Ciência da Psicologia
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A crise por trás da crise

Os prejuízos emocionais de uma demissão são muitos e podem ser devastadores. Mas como reagir? Aqui vão algumas dicas

Demerval Bruzzi (CRP 01/21380)

06/12/2022 10h54

Ron Lach/Pexels/Divulgação

A demissão nunca é um processo agradável, mesmo as planejadas. É sempre bom lembrar que nosso cérebro aprecia a estabilidade.

Como diversos profissionais e meios de comunicação constantemente têm abordado, a crise na qual estamos entrando não tem precedentes na história da humanidade. Se por um lado, as tecnologias da informação e comunicação estão abrindo novas oportunidades, por outro, a falta de investimento na educação e nas empresas tem gerado — e ainda vai gerar mais — dispensas e extinção de cargos em todo Brasil.

Independente de nosso nível de formação, passar pelo processo de demissão gera toda uma desorganização psíquica. Dos mais jovens aos mais velhos, o resultado pode ser devastador em nossa mente. O mundo cai, nos sentimos perdidos e sem rumo. Nada do que lemos ou ouvimos parece ajudar, e o sentimento de desamparo toma conta de nosso cérebro, criando monstros ainda maiores, que nos raptam da realidade para o mais profundo dos abismos.

A perda do emprego por si só já gera desconforto psíquico. Passar por este processo no Brasil e na atualidade é quase que uma sentença de morte para diversas pessoas, em especial pelas incertezas econômicas e políticas às quais estamos sendo expostos diariamente.

Mais do que a insegurança econômica a que somos submetidos pela falta da renda mensal, a vergonha, sentimento de menos valia e supressão de nosso prestígio são sentimentos imediatos e que nos tomam por completo, impedindo de forma impiedosa um olhar diferenciado para a situação que ora se apresenta irremediável.

Nosso autoconceito é abalado. Perdemos de imediato nossa capacidade de reconhecer qualquer valor pessoal que tenhamos, nos desestabilizando frente ao universo em que estamos inseridos. Somos tomados pelos sentimentos de fracasso e culpa, entrando no que muitos psicólogos classificam como espiral destrutiva.

Como que tomados pela correnteza de um redemoinho, somos arrastados para o fundo deste abismo que se abriu no momento de nossa dispensa. Diversos são os sentimentos, passamos por etapas como choque, seguido de uma desorientação mental carregada por uma série de questionamentos, que vão desde nossa competência até a tentativa de adivinhação do futuro.

Passado o choque, entramos para o sentimento de raiva, questionamos nossa dedicação à empresa e ao patrão, refletimos sobre o tempo perdido… terminando por imergir num sentimento de humilhação e confinando nosso ser aos processos de tristeza e depressão.

Os julgamentos se tornam inevitáveis da mesma forma que a busca por culpados é iniciada, e todos a nossa volta, de uma forma ou de outra, pagam pela nossa demissão. Famílias são desfeitas neste período, como se a culpa do desmembramento familiar fosse apenas a demissão e não a falta de um alicerce seguro e capaz de enfrentar momentos de turbulência.

Mas nem tudo está perdido, e como diz o ditado popular, “depois da tempestade vem a bonança”. Ao contrário do que podemos pensar, a maior parte da população desempregada acaba se recolocando. Troca de área, se reinventa. Alguns até acabam com mais poder financeiro do que antes.

Apesar de sabermos que os pensamentos negativos de uma demissão podem ser catastróficos, é de suma importância lembrarmos que nem tudo está perdido, que não fomos contratados de graça, que temos competências e habilidades que nos garantiram um emprego, e acima de tudo, lembrar que não temos mais a estabilidade do passado.

É preciso rever nossos conceitos, lembrando de como chegamos onde chegamos. Nos recordar de nossas vitórias e tropeços nos faz entender quem realmente somos e do que fomos e somos capazes.

Por isso, algumas ações são importantes em momentos de incertezas e confusão mental decorrentes de uma demissão. Aqui vão algumas delas:

  • Evitar gastos desnecessários. Não tente compensar a frustração com compras;
  • Tirar pelo menos cinco a dez dias de descanso, para recompor a energia;
  • Adotar uma rotina parecida com a anterior, mantendo horários para acordar, almoçar etc.
  • Focar na criação ou melhora de seu currículo. Você vai ficar impressionado com suas qualidades;
  • Substituir o tempo ocioso por atividades de estudo, exercícios físicos e prospecção de oportunidades. Você não tem ideia do quanto uma caminhada pode ajudar a ter ideias.
  • Não gastar tempo nem recursos em buscas desesperadas por recolocações extravagantes ou sem sentido; É importante manter a calma e não sair desesperado, mesmo em situações de necessidade, foque em pequenos bicos ao invés de se candidatar a posições em que dificilmente seria escolhido. Neste sentido é importante reconhecer seus limites, seja pela idade ou mesmo competências e habilidades para tarefa.
  • Lembrar o que tem de mais positivo. Suas melhores qualidades profissionais podem ser um diferencial. Por isso dar atenção ao currículo é uma atividade importante;
  • Ficar atento a novas oportunidades. Muitos empresários começaram negócios nunca antes imaginados graças a suas demissões;
  • Iniciar qualquer projeto com calma e testando as alternativas, não gaste recursos com empreendimentos duvidosos;
  • Buscar alguma forma de qualificação. Entidades como Senai, Senac e Sebrae são ótimos pontos para uma qualificação de qualidade.

Manter a mente aberta pode ser um fator primordial não só para uma recolocação, mas também para uma reinvenção de si mesmo, baseado em suas habilidades e competências em outras áreas. Equilíbrio emocional requer esforço e dedicação, e não é preciso ter vergonha de pedir ajuda. Um psicólogo sempre vai estar pronto a lhe ajudar sem julgamento. Entender quem somos, o que sentimos e qual nosso potencial cognitivo é o primeiro passo para melhorar nosso desempenho, e nos reposicionarmos perante a vida.

E acima de tudo, lembre-se: aprendemos a andar caindo…

Até a próxima!

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