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Analice Nicolau
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“Pressão estética da comunidade faz homens gays se sentirem infelizes com seus corpos”, afirma stylist Luiz Plínio

Para o stylist, pertencer à comunidade LGBTQIA+ é ainda mais complicado para uma pessoa gorda

Analice Nicolau

18/08/2021 11h30

Para o stylist, pertencer à comunidade LGBTQIA+ é ainda mais complicado para uma pessoa gorda

Quem pertence à comunidade LGBTQIA+, além de lidar com o preconceito externo relacionado à sua orientação sexual, também precisa lidar com a discrininação existente dentro da própria comunidade.

Uma delas aparece na forma de uma forte pressão estética, que influencia, em especial os homens gays, a terem corpos sempre dentro do padrão musculoso, tido como atraente pelos seus pares.

O stylist Luiz Plínio já foi vítima dessa pressão estética. “No início, quando saí do armário, sofri muito por não me enquadrar em alguns padrões. Era muito novo e perdido no meio. Hoje em dia, não mais. Consigo me aceitar melhor”, conta. Atualmente, sua relação com o próprio corpo é saudável, mas nem sempre foi assim.

“Já fiz cirurgia nos boca, sofria muito bullying por conta disso. Diziam que eu tinha um ovo na boca”, desabafa. As dietas malucas também fizeram parte de sua jornada ao se descobrir homossexual. “Era daquelas que você perdia cinco quilos em uma semana e ganhava 20 logo depois, bem desequilibrada e nada benéfica para a saúde”, relembra.

“Confesso que, com a pandemia, não estou na minha melhor fase. Engordei 10 kg no início e não estou com o corpo que gosto de ter, que acho que me veste bem. Mas, para ser honesto, isso é apenas um detalhe. Consigo colocar outras prioridades na frente, sem nunca deixar de me cuidar como posso.”

Poucas pesquisas já analisaram a maneira como os padrões de beleza afetariam homens gays. Em um dos estudos realizados pela revista gay britânica Attitude, em 2017, 84% dos leitores disseram sofrer em busca de um “corpo legal”. Das cinco mil respostas, 49% assumiram infelicidade com o próprio corpo.

Outra análise, feita com usuários do Grindr por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) concluiu que o segundo requisito mais importante para encontrar sexo no aplicativo é o corpo sarado, ou, ao menos que não seja considerado “gordo”. A restrição fica atrás apenas de insinuações contra “gays afeminados”.

O fato de não atingir esse ideal de corpo tem consequências na saúde mental dos gays. Em 2014, o International Journal of Eating Disorders (Jornal Internacional de Transtornos Alimentares) publicou artigo mostrando que homens homossexuais e bissexuais têm três vezes mais chances de ter problemas com sua imagem corporal que homens cis heterossexuais.

“Por incrível que pareça, o meio gay é muito preconceituoso. Em todos os ambientes, os grupos ficam super divididos, por exemplo. Nas festas, é possível notar essa diferença. Gay malhado com gay malhado, gordinho com gordinho. Para alguns, o corpo é o principal elemento que chama a atenção e faz um indivíduo se interessar pelo outro. Para uma pessoa imatura, que quer se sentir parte de um grupo, pode ser um processo bem complicado”, reflete.

“O homem gay, por ser excluído de tanta coisa por conta da homofobia, não quer sofrer mais essa exclusão. Aí, passa a pensar que, se não for sarado, não vai conseguir ser notado entre os seus. Mas precisamos assumir nossa parcela de responsabilidade e mudarmos nossa atitude em relação a esses corpos considerados “fora do padrão”. É essencial repensar piadas gordofóbicas, evitar comentários críticos sobre os corpos alheios. Precisamos garantir que as pessoas sejam livres para terem os corpos que quiserem, sem que isso interfira em sua aceitação, especialmente dentro da comunidade LGBTQIA+”, enfatiza.

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