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Analice Nicolau
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Filme revelador expõe conexão controversa entre Europa e Brasil na fabricação e uso de pesticidas

Documentário “Pesticidas: O Pesadelo Brasileiro” revela os perigos da relação entre grandes fabricantes europeus e o agronegócio brasileiro na produção e consumo de pesticidas

Analice Nicolau

04/09/2023 14h30

Um documentário impactante está prestes a lançar luz sobre uma conexão perigosa e controversa entre a Europa e o Brasil na fabricação e uso de pesticidas agrícolas. Intitulado “Pesticidas: O Pesadelo Brasileiro,” o filme, produzido por Stenka Quillet e escrito por Anne-Vigna com Nicolas Glimois, está programado para estrear no canal Curta! no dia 8 de setembro.

O filme destaca dois principais eixos: o lucrativo comércio de agrotóxicos proibidos na Europa, fabricados por gigantes europeus como a suíça Syngenta e as alemãs Basf e Bayer, e o uso indiscriminado desses produtos no Brasil por empresas do agronegócio. O resultado desse ciclo vicioso é que os europeus acabam consumindo, indiretamente, pesticidas proibidos em seus próprios países.

De acordo com o documentário, aproximadamente 80 mil toneladas dessas substâncias são vendidas anualmente ao Brasil por essas empresas europeias. Enquanto isso, o Brasil mantém uma legislação permissiva que permite o uso de produtos químicos já banidos na Europa há décadas, além de práticas proibidas, como a disseminação de pesticidas por meio de aviões de pequeno porte.

Enquanto as corporações lucram com essa relação comercial, comunidades inteiras, especialmente os trabalhadores rurais, sofrem com as consequências da contaminação de alimentos, solo e água. Além disso, vastas áreas de matas nativas do Cerrado brasileiro são substituídas por monoculturas de soja, milho e algodão, criando o que o documentário chama de “zonas sacrificiais,” onde a população está mais vulnerável aos impactos dos pesticidas.

O documentário baseia-se nas pesquisas da professora da USP e geógrafa Larissa Bombardi, que demonstra como a indústria química europeia depende da expansão das áreas agrícolas no Brasil. A professora pediu à União Europeia que revisse seus padrões de comércio e impedisse suas transnacionais de venderem ao Brasil os defensivos agrícolas proibidos pelo bloco.

Larissa Bombardi também destaca uma realidade alarmante: cerca de 20% das pessoas intoxicadas no Brasil são crianças e jovens de 0 a 19 anos. Ela afirma que isso equivale a uma forma de infanticídio, e os dados indicam que o total de bebês intoxicados pode chegar a 25 mil.

No Brasil, o tema dos agrotóxicos é muitas vezes evitado devido ao grande poder político-econômico do agronegócio. No entanto, jornalistas, pesquisadores, cientistas e ativistas ambientais trabalham arduamente para informar a população e pressionar os parlamentares. O documentário destaca que, a cada ano, cinquenta deles são assassinados no Brasil, demonstrando os desafios enfrentados por aqueles que buscam abordar esse problema.

O filme também contextualiza a situação política dos últimos anos, especialmente após a eleição de Jair Bolsonaro em 2018. Sob seu governo, os grandes donos do agronegócio, apelidados de “ruralistas,” obtiveram maior influência e poder para promover seus interesses.

O filme encerra levantando questões sobre o futuro da política ambiental do Brasil a partir de 2023, com o início de um novo governo. Até o momento, as notícias recentes indicam que pouco mudou, já que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aprovou o registro de 231 pesticidas apenas no primeiro semestre deste ano, mantendo um ritmo semelhante ao do primeiro ano de mandato de Jair Bolsonaro.

Os espectadores interessados em assistir ao documentário podem acessá-lo através do Curta!On – Clube de Documentários, disponível na Claro TV+ e em CurtaOn.com.br. Novos assinantes inscritos pelo site têm sete dias de degustação gratuita de todo o conteúdo. “Pesticidas – O Pesadelo Brasileiro” é uma produção da ARTE France e promete jogar luz sobre uma questão que afeta não apenas o Brasil, mas também a Europa e o mundo todo.

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