O especialista alemão Stephan Schäfer está desenvolvendo uma metodologia inovadora, que utilizando atmosfera de anoxia, método que erradica insetos e microrganismos por meio da criação de um ambiente livre de oxigênio, junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Rio de Janeiro (IPHAN-RJ), a primeira instituição do Brasil a realizar simultaneamente desinfestação, desinfecção e secagem do acervo arquivístico e bibliográfico com essa técnica.
Radicado no Brasil há 28 anos, Stephan Schäfer dedica-se a restaurar e conservar obras e acervos de instituições artísticas e culturais, galerias e coleções privadas. Para o IPHAN-RJ, o processo de conservação começou com um diagnóstico detalhado da equipe técnica do instituto. Seus relatórios destacaram danos físicos significativos à coleção devido ao manuseio e transferência inadequados. Esta avaliação sublinhou a necessidade de medidas urgentes para estabilizar os documentos. O tratamento acontece no Palácio da Fazenda até o início de junho para conservar o seu extenso acervo documental.
Após análise do acervo, foi escolhido o método da anoxia, pela segurança e eficácia, sem o uso de produtos químicos. “Concluídos esses procedimentos, passaremos à conservação, limpeza, acondicionamento e tratamento intelectual. Isso disponibilizará o material arquivístico e bibliográfico para pesquisa pública em nossa sede, que também está em restauração”, explicou Paulo Vidal, superintendente do IPHAN-RJ.
Através de uma câmara plástica de alta barreira especialmente projetada e com vedação total a gás, o processo envolve a substituição do oxigênio por um gás inerte, no caso – o nitrogênio. Constituindo 100m³, caixas com documentos e livros foram colocados neste ambiente lacrado, onde o nível de oxigênio foi reduzido gradativamente até 0,2%, criando uma atmosfera anóxica. A coleção permanece neste estado por pelo menos 70 dias para garantir a asfixia e desidratação de todas as pragas e a desativação de fungos sem resíduos químicos.
“O projeto prevê que a bolha continue no local após o tratamento, até que o material possa ser submetido à próxima fase, que consiste na realização do tratamento documental do acervo, incluindo a completa higienização dele”, avalia a técnica em documentação do IPHAN-RJ, Rejane Schneider.
No interior da câmara, sensores conectados a equipamentos de monitoramento garantem a manutenção das condições programadas durante todo o tratamento. Simultaneamente, a coleção sofre secagem, reduzindo o teor de umidade para cerca de 7 a 8%. “A secagem é essencial para a eliminação de fungos a longo prazo. Uma coleta mais úmida acelera a degradação do papel. No primeiro mês, foram extraídos mais de 500 litros de água de aproximadamente 25 toneladas de papel, com o objetivo de chegar a 1.000 litros até o final deste ciclo”, observou Stephan Schäfer.
O projeto inclui o desenvolvimento e implementação de um programa de manejo Integrado de pragas para prevenir futuras infestações. Um seminário e workshop destinados à capacitação de funcionários do Iphan, professores, estudantes e pesquisadores de Arquivologia, Biblioteconomia, Museologia e Conservadores de outras instituições, ministrado por Stephan Schäfer, acontece no final do mês.