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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Ritmo e Resistência

Conheça Guilherme Azevêdo. Pautado pela cultura em movimento, ele saiu da periferia para os palcos, e hoje é agente de transformação social.

Thaty Nardelli

19/03/2024 15h30

Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: Nina Quintana.

Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: Nina Quintana.

“Como tive a vida transformada pela cultura, sinto a obrigação de passar isso adiante, especialmente às crianças e adolescentes, mostrando que é possível a um menino nascido na Expansão do Setor “O”, periferia do DF, viver exclusivamente da cultura. Existem infinitas possibilidades e caminhos, e apesar das dificuldades, o sucesso pode ser alcançado em todos os espaços imagináveis”. Quem manda o recado é Guilherme Azevêdo, um jovem produtor cultural de 32 anos, 16 destes dedicados à cena da cidade.

Nascido e criado em meio à efervescência cultural da periferia, Guilherme encontrou inspiração tanto em casa quanto nas ruas. Seu pai o incentivava a ler, enquanto em casa, sempre um ambiente muito musical, ouvia-se desde reggae raiz lá do Maranhão até os balançps do Mix Mania, do DJ Celsão. “A junção desses dois elementos foi moldando meus gostos, mas o giro da chave foi na adolência, quando parei pra entender o que as letras dos RAPs que eu ouvia na rua quando era criança realmente diziam”, conta ele.

Perfil no Instagram @azevedos.gui. Crédito: captura de tela

Em 2006, Guilherme fundou o grupo de rap Arsenal do Gueto, inicialmente como um trabalho escolar. Na época, ele já tinha conhecimento dos elementos do hip hop e produziu algumas rimas. Fiz dupla com um amigo e escrevemos nossa primeira letra oficial e passamos a nos apresentar em todos os eventos do colégio”, relembra. No entanto, o que começou como uma simples atividade estudantil logo se transformou em uma jornada de autodescoberta e realização. O grupo começou a ser chamado apra eventos externos, e assim surgiu o projeto Voz Ativa, abrindo portas para experiências inimagináveis para dois jovens da periferia. “O RAP fez vários sonhos se tornarem realidade”, diz.

Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: Nina Quintana.
Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: Nina Quintana.

O rap não apenas moldou sua carreira artística, mas também sua visão. Para Guilherme, o hip hop foi como uma faculdade, ensinando-o a refletir sobre suas ações e consequências delas, e a se sentir parte de uma comunidade, independentemente de onde estivesse. Essa conexão com suas raízes o capacitou a enfrentar o preconceito e a desaprovação, orgulhoso de sua identidade e determinado a alcançar seus sonhos. “ Pude bater no peito e dizer: ‘sou da Ceilândia, com orgulho!’, mesmo apesar do preconceito e dos olhares de reprovação. Aprendi a entrar e a sair dos lugares, seja no barraco mais simples ou numa reunião em um ministério ou no Congresso Nacional. E o hip hop é isso: é injeção de autoestima, é propagação de informação e pensamento crítico. Sem isso, a gente não é nada”, reflete Guilherme.

Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: divulgação
Músico e produtor cultural Guilherme Azevêdo. Crédito: divulgação

Inclusive, no ano passado, Guilherme recebeu Moção de Louvor pela Câmara Legislativa do Distrito Federal por sua contribuição ao Movimento Hip Hop. E não poderia ser diferente. A virada de chave na carreira também veio do Hip Hop. “Nas apresentações do Arsenal do Gueto, sempre senti necessidade de entender como tudo funcionava no palco. Daí, veio o desejo de produzir meus próprios eventos, dentro do meu território. A ideia foi levar a qualidade que eu via nos shows do Plano Piloto para a Ceilândia. Então, comecei a estudar, entrar em produções e planejar meus eventos”, explica Guilherme.

Perfil do Instagram @arsenaldogueto. Crédito: captura de tela

Ele compartilha os desafios que enfrenta, especialmente a necessidade de democratizar o acesso aos recursos e a dificuldade de fazer o poder público entender as necessidades e particularidades da comunidade artística. “O fazer artístico não pode ser tratado como uma empresa comercial. Há mestres e mestras da cultura popular que não possuem CNPJ e precisam ser reconhecidos por suas contribuições. Há ativistas do hip hop que causam grande impacto em suas comunidades, e é essencial que isso seja reconhecido e respaldado, independentemente de burocracias. É fundamental estreitar mais o diálogo entre quem faz e analisa os editais e quem faz e produz cultura”, destaca o produtor.

Perfil do Instagram @sarauvozealma. Crédito: captura de tela.


Uma de suas primeiras oportunidades de atuar como produtor foi no “Sarau VÁ – Voz e Alma”, promovido no P Norte, e que dá palco para vários artistas não só da periferia do DF, mas de todo o quadradinho. “Eu considero o ‘Sarau Vá – Voz e Alma’ um dos maiores acontecimentos culturais de Ceilândia. A gente virou referência no Distrito Federal e tudo norteado pela poesia”, relembra Guilherme.
Ao longo dos anos, o sarau inspirou inúmeros artistas e movimentos, demonstrando o poder transformador da arte na periferia, a exemplo dos nossos parceiros do Samba na Comunidade de Ceilândia. “Em 2023, completamos 10 anos de atividade e mais de 500 edições realizadas”, completa.

Para Guilherme, produzir um evento é mais que simplesmente organizar um encontro; é abrir um mundo de possibilidades para o público. Quantas crianças nunca tiveram acesso a uma peça de teatro ou a um show e são profundamente tocadas quando há um evento na escola?”, questiona Guilherme. “Então, produzir um evento é amplificar essasemoções, é trazer para perto do público o que só era visto através de uma tela. E ver aquilo que a gente sonhou e planejou tomando forma e sendo realizado. É muito gratificante”, finaliza.

Acompanhe mais do trabalho de Guilherme Azevêdo:

Instagram: @arsenaldogueto; @sarauvozealma; @azevedos.gui.

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