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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Entre a música e o humor, conheça o rapper Negol

Thaty Nardelli

13/11/2023 17h09

Foto: Divulgação

Criado no Guará e com forte influência da cultura negra desde sua infância, o rapper Negol se destaca na cena do Distrito Federal desde suas participações nas batalhas de rima de todo o quadradinho. Ao entrar na música, sempre carregou um sonho: mudar a realidade de sua mãe para uma vida de rainha. “Uma casa, um cachorro, um jardim e o filho longe de problemas e conquistando o mundo”, revela o rapper. Recentemente, começou a criar conteúdo nas redes sociais onde mistura humor e rap, tendo vídeos que ultrapassam 100 mil visualizações, ao mesmo tempo em que se prepara para lançar seu primeiro álbum solo. “Vou explorar um pouco mais o lado do funk que havia explorado há alguns anos, várias pessoas me pedem esse retorno”, revela o rapper.

Para começar, como você definiria suas raízes?
Nasci na Bahia, mas fui criado a vida toda no Guará. Aqui no Guará o mundo é bem misturado. Quando pequeno, eu tive amigos de todo tipo de jeito. Boa parte da minha infância foi na rua: jogando bola, brincando, jogando bet, fazendo muito dessas coisas de criança. Mas sempre fui muito influenciado pela cultura negra. Minha mãe sempre foi fã da Alcione, meu tio sempre ouviu muito rap, outros tios ouviam muito rock. Acabei pegando uma paixão pelo baixo e fui me aprofundando mais no estudo do instrumento, mas sempre ficava dividido entre o rap e rock.

Um dos motivos de você entrar na arte foi para dar uma vida melhor para sua mãe…
De primeira comecei com as batalhas de rima, em seguida fiz minha primeira música. Na minha cabeça, a cada um milhão de pessoas, só uma conseguiria realmente ganhar a vida com música — o que não é mentira (risos). Mas eu senti, desde a primeira vez, que seria possível [viver de música], e que, além de ser feliz fazendo o que eu gosto, eu conseguiria mudar a realidade da minha mãe, que sempre sonhou com coisas de mãe solteira: uma casa, um cachorro, um jardim e o filho longe de problemas e conquistando o mundo.

Foto: Divulgação

E quando o rap realmente entrou na sua vida?
Lembro como se fosse ontem. Eu tinha entre 7 e 9 anos, meu tio sempre ouvia rap, mas até então era só mais uma música que um adulto ouvia. Pouco depois, eu me peguei encantado pelo estilo. Eu gostava de ouvir aquilo, era diferente das outras músicas, eu sempre pedia para ele colocar de novo. Pedi para meu outro tio gravar as músicas de rap em um CD, o nome que ele gravou no CD foi ”opala 71”, já imaginam o porquê.

Qual foi a importância de participar das batalhas de MC’s para sua carreira? Naquela época, já tínhamos uma cena mais consolidada para essas batalhas?
Na época, a batalha ainda não era tão consolidada, mas era um evento underground com muita força. Nas batalhas eu fiz meus primeiros amigos do rap, levo eles comigo até hoje. Nelas, aprendi muito sobre respeitar e ser respeitado. Foi uma época boa. Depois de um tempo as batalhas cresceram muito, lembro que todos os dias da semana estávamos em um bairro batalhando.

Nessa época, você já sentia um distanciamento social das batalhas realizadas nas regiões administrativas em relação às do Plano Piloto? Como foi “quebrar essas barreiras” para você?
Na época, começamos a abrir mais as asas e ir a outros lugares, a única que eu tinha ido fora do Guará foi a do Museu, então comecei a ir em outras RAs. Vi de perto e tirei minhas próprias conclusões sobre o que era falado de cada região. Fiz bons amigos em Ceilândia, Samambaia e até em Águas Claras.

Quais foram suas referências para começar a desenvolver sua sonoridade?
Incrivelmente, a junção de três estilos nada a ver. Bonde da Stronda, Tribo da Periferia e Emicida. Cada um deles mexia de uma forma diferente no meu modelo de tentar fazer músicas e até mesmo de pensar.

Como foi a construção do seu grupo, o Novin Mob?
Sempre fui um cara com muitas ideias, muito talento, mas nunca tive muitas pessoas para me incentivar a seguir em frente ou até arriscar desenvolver melhor algum talento um pouco escondido. Com isso, eu cresci sendo uma pessoa que ”encorajava” os outros a explorar mais seu talento, a acreditar mais neles mesmos, e assim fui conhecendo cada um da Novin Mob. Cada integrante tem sua história comigo. Cada um deles tinha um talento em que não acreditava e eu consegui fazer com que acreditassem, treinassem para a gente conseguir construir algo todos juntos. Chegamos num nível em que todos estavam alinhados, tendo a certeza do que queria para a vida, para o futuro. Cada um no seu papel: um filmmaker, dois beatmakers e quatro MC’s.

Qual foi seu primeiro lançamento?
Meu primeiro lançamento foi gravado em casa, com um microfone emprestado de um amigo que era do rock. Lancei na plataforma Soundcloud, e várias pessoas da escola se movimentaram para mim. A música era bem crítica ao governo e pensativa sobre a vida. Depois disso, tive o primeiro lançamento gravado em um estúdio, de forma profissional, lancei um álbum com participação de amigos, nosso grupo era a MIC 61 à época. Eu considerava o álbum um sucesso, várias pessoas na batalha sabiam as músicas, muitos me chamavam pela música: ”Aí, Negol, onde é que cê tá?”. Foi só alegria ver que tudo estava dando certo e que cada vez era menos impossível!

Com seus lançamentos, você passou a chamar atenção de rappers que já estão na estrada com uma carreira mais consolidada, como Froid, Duzz UCLA e Predella, do Costa Gold. Como foi isso para você?
Foi uma sensação incrível, de dever muito bem feito em casa, estava começando a sair da bolha e alcançar grandes rappers, grandes públicos e bem perto de realizar tudo que havia sido planejado desde anos atrás. Após esse período, eu ganhei mais força para saber que o trabalho está sendo bem feito, que as músicas são bem feitas e que uma hora ou outra vai dar certo, mas não é no meu momento, é no momento que for para dar certo.

Você começou a criar um conteúdo nas redes sociais em que mistura humor e rap, tendo vídeos que ultrapassam 100 mil views. Como surgiu essa ideia?
Sou amigo do Puro Roxo, o Luther Rocha, tiktoker brasiliense que estourou. Ele sempre me incentivou a fazer conteúdo para poder atrair um público que pudesse ouvir minha música. Tentei várias vezes e vários conteúdos, mas sempre desistia, nunca me encontrava. Recentemente comecei a juntar rap com humor, fazer músicas retratando conversas com assuntos do dia a dia e até críticas sociais, mas sempre com um humor e um autotune muito forte, bem marcado, para as pessoas baterem o olho e pensar ”ele é rapper.”

Como você encara a cena cultural do DF atualmente?
Muito movimentada, diferente de quando eu comecei. Hoje em dia, várias pessoas têm condições de fazer seu próprio homestudio e lançar suas músicas de casa. Até mesmo eventos para fortalecer a cena underground estão acontecendo muito, o DF está cada vez mais caminhando para prosperar daqui a alguns anos.

Quais os projetos que estão vindo por aí?
Estamos focados em uma bateria de lançamentos. Ano que vem, vou começar a trabalhar no meu primeiro álbum solo. Vou explorar um pouco mais o lado do funk que havia explorado alguns anos atrás, várias pessoas me pedem esse retorno.

Deixe seu recado para quem quer começar em qualquer linguagem da arte:
Seja fácil ou seja difícil, pareça possível ou pareça impossível… independente do que for, se divirta no caminho, o sol brilha para todos, e uma hora vai brilhar para você.

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