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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Dhi Ribeiro: o grande puxadinho do samba brasiliense

A sambista abre o coração e fala sobre sua infância, sua relação de amor e gratidão pela capital, e a força da mulher na cultura.

Thaty Nardelli

15/04/2024 13h17

Atualizada 16/04/2024 16h57

Dhi-Ribeiro. Crédito: Mari Vass

Dhi-Ribeiro. Crédito: Mari Vass

Desde muito pequena, tinha grande interesse pela música. Neta de um dos sócios fundadores do Afoxé Filhos de Gandhi, testemunhou, ainda menina, seu avô levar o mundo do axé, do samba e da cultura afro para dentro de casa desde sempre. No entanto, ainda na escola, sentiu o pulsar da música entrando em sua vida por completo. “Tinha uma professora chamada Valda que, de tanto me ver cantando, presenteou-me com uma vitrolinha de pilha. Nossa, eu fiquei tão feliz! Andava com aquela vitrola pra todos os cantos, carregando discos pra todo lado. Valeu, tia Valda”, agradece a sambista.

“Vir para Brasília foi um presente da vida. O quadradinho maravilha me fez ver um mundo de possibilidades que não via antes. Aprendi e aprendo todos os dias compartilhando o palco com grandes mestres e viajo pelo mundo afora levando nossa música na cabeça e no coração. Aqui pude explorar vários talentos que existiam em sonhos e que se tornaram realidade.”

Dhi Ribeiro

Sua voz sempre se destacou das demais, bem como sua beleza ímpar. Mas sua condição de menina negra da periferia não possibilitava grandes sonhos, apesar de seu grande talento. Aos dezesseis anos, sem nenhum planejamento, em um golpe de sorte do destino, acabou convidada para fazer parte de uma grande agência de publicidade brasileira.

E foi assim: experimentando um novo mundo, conhecendo o país, valorizando sua autoimagem, que se reconectou a suas raízes sonoras. Engajou-se na música como backing vocal, mas logo se destacou, e, em 1993, recebeu o prêmio de Cantora Revelação do Carnaval de Salvador. No mesmo ano, foi convidada para ir a Brasília e a Palmas, no Tocantins, para comandar trios elétricos em seus carnavais. A partir daí, radicou-se na capital federal, em consequência dos inúmeros convites para integrar bandas e fazer apresentações solo, em retorno a sua origem musical, o samba.

Dhi também se apresentou na Itália e lançou seu primeiro álbum solo ao voltar para o Brasil em 2009. No ano seguinte, deu início ao projeto “Conexão Brasília-África”, com turnês por Angola e Moçambique, resultado de pesquisa musical e organização de repertório africano. Teve sua trajetória contada pela escola de samba Candangos do Bandeirante, do DF, em 2014, com o enredo “Dhi Ribeiro: para uso exclusivo do samba”.

Dhi-Ribeiro. Crédito: Bernadete Alves
Dhi-Ribeiro. Crédito: Bernadete Alves

“Hoje sou cantora, produtora, dubladora, cuido da minha equipe e, mais recentemente, comecei a atuar como atriz. Então, esse caminho pra mim se expandiu a partir da minha vinda para Brasília já como cantora, e tenho minha família aqui, minha filha é candanga e meu coração também”, revela Dhi, no auge dos seus 58 de vida, 42 deles dedicados à vida artística.

Na música, a rainha do samba de Brasília sobe aos palcos para cantar sobre sua ancestralidade, o amor, as recordações de sua infância, letras que chamam a atenção por descrever uma mulher forte e profunda, que não se deixa humilhar e sabe seu valor. “Fui criada por mulheres incríveis: minhas avó, mãe, tias são grandes exemplos para mim. Minha avó é umbandista; minha mãe e irmã, do candomblé; fui cercada de tradições contadas e vividas, que trago comigo para que nunca me esqueça de onde vim. E na minha música, tento homenagear as minhas matriarcas, com amor, respeito e admiração em tudo o que faço”, conta Dhi. Até nas obras em que escolhe para interpretar, a artista traz o respeito ao público que tem dentro e muito além do quadradinho, “porque não se faz nada sozinha”, completa Dhi.

Com tamanho amor pelo samba, ela criou, em 2015, o projeto Roda Dhi Samba, que promoveu o encontro de grandes sambistas. “Para mim, o samba é um forte cronista da realidade vivida por aqueles que os escrevem, interpretam, tocam e, principalmente, daqueles que batem palmas e repetem seus versos”, afirma Dhi. Em sua primeira edição, a homenageada foi a grande dama do samba Dona Ivone Lara. O evento também contou com a presença dos renomados cantores, como Diogo Nogueira e Jorge Aragão.

Dhi-Ribeiro. Crédito: Divulgação
Dhi-Ribeiro. Crédito: Divulgação

A artista também foi idealizadora, no mesmo ano, dos eventos Sambão da Dhi Ribeiro, Samba em Tons de Marrom (em homenagem à cantora Alcione), e Outras Bossas. Em versão mais intimista, lançou o show Uma Voz e Sete Cordas, com o violonista Félix Júnior, no qual interpretou clássicos da MPB como Chico Buarque, Dominguinhos e Noel Rosa. “O samba é o guardião da nossa história, aquele que nasceu negro e sempre o será, pode ser cantado no asfalto ou na favela, porque sempre será o nosso samba, e mesmo lutando contra o racismo estrutural que nos cerca, o samba sempre vence”, reforça a cantora.

Sobre uma mulher estar à frente de trabalhos tão importantes para a cultura brasileira, Dhi destaca o trabalho árduo para divulgar e levar ao povo a arte feminina. “Temos artistas incríveis: cantoras, instrumentistas, produtoras, compositoras e grandes profissionais de backstage”, revela. “No entanto, enfrentamos, além da misoginia, o racismo, o patriarcado, o descaso do mercado, mas já foi pior. Hoje essas profissionais atuam em vários segmentos e, unidas, têm se feito respeitar”, pondera Dhi.

Nesta caminhada, consciente ou inconscientemente, ela privilegiou, principalmente, o
repertório que trata de três temas: fé, raiz e amor. “Fé para ter a certeza do que fazer, para se dedicar a quem você é. Acreditar que isso pode levar, mas nunca falha. Raiz é a fonte de inspiração, do momento de encontro com os grandes, da lembrança de imersão e absorção do conhecimento dos mentores. E o amor traz intensidade, faz transbordar o que é melhor, de dentro para fora e de fora para dentro “.

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