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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Da direção à preparação vocal, conheça o multifacetado artista brasiliense Pedro Souto

Pedro Souto é um artista completo, estrelando há mais de 16 anos os palcos da capital e do país

Thaty Nardelli

22/05/2023 10h55

Foto: arquivo pessoal

Cantor, professor, preparador vocal e diretor musical. Um artista completo, estrelando há mais de 16 anos os palcos da capital e do país, seja atuando, cantando, dirigindo peças de teatro ou preparando artistas da cidade para que eles deem o melhor de si. Seu primeiro contato com a arte foi antes mesmo dos 12 anos. No entanto, foi um grande processo até encarar a música profissionalmente.

A Além do Quadradinho desta semana entrevista o multifacetado artista brasiliense Pedro Souto.

A música entrou na sua vida muito cedo, né?

Para ser sincero a minha vida foi sempre cercada de arte, em especial a música. Dentro da minha família sempre foi comum juntar os parentes e amigos e tocar violão e cantar e escrever. Um ambiente meio boêmio e seresteiro de cidade de interior, sabe?!

Então, o interesse foi surgindo naturalmente. Cresci ouvindo muita música, meu pai sempre gostou muito, em especial dos nossos tesouros da MPB, como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Gal Costa, Dorival, Milton Nascimento, Tom Jobim, Gonzagão, Dominguinhos, Gonzaguinha, Djavan…

O que mais te marcou nesta época?

E eu me recordo já, desde muito novo, de tentar emular as notas que os artistas cantavam, o jeito como faziam. A partir de uns 10 anos, roubava sempre o violão do meu pai para tocar e aprender lendo em revistinhas. Um dia, em um aniversário, acho que com uns 12 anos, meu pai chegou em casa com um violão meu. Só para mim. Foi o momento de maior alegria, carregava o violão pra cima e pra baixo e ia aprendendo, mas ainda não me dedicava totalmente. Adolescente, eu me apaixonei por uma garota da escola e vivia aquele sentimento romântico utópico sofrido. (risos) Na mesma época, descobri a bossa nova, peguei do meu pai uns songbooks e gastava horas a fio desse sofrimento juvenil sentado na janela do apartamento, vendo a noite passar e treinando até conseguir tocar aquelas músicas que faziam tanto sentido naquele momento.

Foi sua primeira grande conquista, então? (risos)

Sim. A minha primeira conquista foi tocar samba em prelúdio de Vinícius de Moraes e Baden Powell. Mas faltava algo, faltavam aquelas letras belas sendo cantadas. Aí do meu jeito, fui cantando pra acompanhar meu violão e assim foram por alguns anos. O interesse pelo canto surgiu de um convite de uma amiga querida para ir assistir um ensaio do coral da escola. Fui e me apaixonei pela ideia de usar vozes como instrumentos. Depois o interesse foi crescendo e comecei a estudar canto com um dos melhores professores da cidade na época. Minha família, em especial meus avós, sempre incentivaram e puderam pagar os estudos.

A partir disso, como e quando você entendeu que gostaria de seguir sua vida por meio da arte?
Olha, eu só fui entender que meu caminho era a arte um pouco depois, já perto de uns 20 ou 21 anos. Apesar de todo o apoio, dentro da minha cabeça e dos meus familiares, ainda existia aquele pensamento “de você precisa do seu trabalho para poder continuar mantendo a música como um hobbie”. Mas eu sempre percebia que eu abandonava sem olhar pra trás qualquer coisa que me tirasse de algum ensaio, de alguma aula de canto, de alguma atividade da música. Cheguei a passar no vestibular em biologia em um semestre, veterinária em outro, que desisti assim que chegou a grade e eu teria que abandonar os estudos no canto. Nessa fase eu precisava encontrar algum caminho e pensei na gastronomia, cozinho desde criança e pensei:  “poxa, é algo que eu amo. É isso!”.

Até aí, então, surgiu um norte do que fazer profissionalmente?

Então, na minha cabeça, na época, eu tinha decidido que a música seria meu hobby e a gastronomia minha profissão. Mas eu priorizava sempre a música. Até que um dia, um grande professor de gastronomia me chamou para conversar após uma prova. Me elogiou na cozinha e meu jeito de fazer as coisas,  mas me fez a pergunta que mudou minha vida: “o que você está fazendo aqui?  Você é muito bom na cozinha, mas claramente cozinhar é seu hobby! Você é músico, só não aceitou isso ainda”. Saí daquela conversa completamente remexido e dias depois me inscrevi novamente no vestibular da UnB, passei na prova e decidi  assumir a música de vez.

E quando foi seu primeiro desafio artístico?

Acho que foi quando meu professor de canto me falou que ia me treinar para dar aulas e possivelmente substituí-lo na escola em que trabalhava. Ele estava em início de planos para se mudar para São Paulo.  Foi um mix de síndrome do impostor, de me sentir lisonjeado, de medo, de alegria…  Eu só fechei os olhos e mergulhei. (risos) 

Durante toda sua carreira, você sempre esteve envolvido com a música, à frente de várias bandas covers. Como isso acrescentou à sua carreira?

Me ensinou sobre palco, noite, me virar, me soltar, a trocar contatos, fazer conexões e pontes, negócios, entender estilos musicais diferentes… foi uma boa época.

Além disso, você também já esteve à frente de espetáculos como diretor. Pode falar um pouco da sua relação com o teatro?

Quando comecei a estudar, a técnica de canto que aprendi, é a técnica mais utilizada no teatro musical. Então, a relação já surgia dali e tinha vários amigos do teatro, mas eu particularmente não tinha muita vivência. Eventualmente, fui chamado para ser um dos quatro preparadores vocais de uma montagem acadêmica de teatro musical e eu adorava!

Por situações que foram acontecendo, todos os outros preparadores foram saindo e eu fui assumindo todos os atores. Até que a direção musical se ausentou durante um longo período da montagem,  assim as coisas foram rumando:  eu assumi com 22 anos a minha primeira direção musical. Nessa primeira co-direção, essa experiência mudou muito o rumo da minha carreira,  porque descobri que eu gostava demais e me apaixonei pelo teatro e teatro musical.  E eu era muito bom nisso,  a demanda e procura pelas minhas aulas só foi aumentando. Larguei a Universidade e comecei a trabalhar integralmente com a música, no teatro e nas aulas em geral.

Algum espetáculo ficou muito marcado para você? Por que?

Vou roubar um ‘cadin’ e falar de dois em um. (risos) O primeiro musical que dirigi foi sem dúvida o mais marcante, uma adaptação do filme “Across The Universe”, de Julie Taymor. A trilha do filme é toda de canções dos Beatles. Eu amava muito aquela peça e fiz amigos para a vida e descobri que dava conta de fazer algo grande assim. Fora que alguns anos depois tivemos a oportunidade de fazer uma tour nacional passando pela por cinco regiões do país.

Você é um artista com formação em várias artes. Como foi o processo de se tornar preparador vocal?

Acho que foi um caminho natural trabalhar no teatro e teatro musical. Esse trabalho de preparação vocal é bem comum nessas áreas. Depois, também, eventualmente com artistas que fiz preparação para gravações e afins.

O que faz um preparador vocal? Qual a importância dele para outros artistas?

Um bom preparador vocal, vai ensinar o artista como usar a sua voz e corpo da melhor maneira o possível.  Para que seja saudável, que não se machuque, que consiga melhorar a qualidade  e que ajude a manter uma constância e longevidade no uso da voz.  Além de deixar o cantor preparado para subir no palco antes de um show. É um trabalho de confiança com o artista: eu estou ali para entender as dificuldades e pontos fracos e ajudar a superar ou contornar, mas sempre focado no que o artista quer,  por exemplo. Se ele quer/precisa gritar alto e está se desgastando ou se machucando,  minha função como preparador é ensinar e trabalhar a musculatura e a maneira de executar,  para que o artista consiga alcançar o objetivo, sem se machucar ou se prejudicar. É quase como um personal trainer da voz.

Tem algum trabalho que você está realizando no momento?

Neste momento, estou fazendo a direção musical do musical “Mamma Mia”, baseado em canções da banda Abba, está sendo produzido pela Scala Companhia de Artes, e tem estreia marcada para dia 11 de junho, no teatro da Escola de Música de Brasília.

Também faço a preparação vocal e acompanhamento de alguns artistas da cidade e vou começar a acompanhar o processo de produção, preparação vocal e gravação da banda Ralé Xique, no segundo semestre, mais dois musicais e alguns shows com a banda vocal Setblack, da qual faço parte como cantor swing, assistente de direção e diretor vocal.

Para quem pretende começar a atuar, seja no teatro ou no canto, qual seria seu recado?

SE JOGA! A arte foi feita para todos. Tudo o que precisamos para atuar e para cantar, anda conosco o tempo todo da nossa vida. Nossa voz, nosso corpo. Procure bons profissionais e bons grupos. Se entrega, mas se prepare: sua vida vai mudar provavelmente para sempre e se o “bichinho” da arte te morder, você tem uma jornada que vai durar sua vida inteira.

Acompanhe o artista: @pedropams 

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