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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

Cultura, arte e ancestralidade como norte

Conheça Stéffanie Oliveira, atual presidente do Instituto Rosa dos Ventos e grande incentivadora da cultura popular no Distrito Federal.

Thaty Nardelli

30/04/2024 13h27

Stéffanie Oliveira. Crédito: Divulgação

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Brincante, produtora cultural, curadora percussionista e, agora, atual presidente do Instituto Rosa dos Ventos, Stéffanie Oliveira, 39, traz em seu barco festivais de música e teatro, agenciamento de artistas, montagem de espetáculos, livros, filmes, oficinas artísticas, entre outras criações que têm em seus conteúdos a pluralidade de um povo diverso e rico em cultura.

Stéffanie é nascida em Brasília, de pais brasilienses, e também mãe de um brasiliense. Sua infância foi no Núcleo Bandeirante e no Cruzeiro, quando tudo era Cerrado com poucos prédios e casas. “Sou de uma família de avós candangos que chegaram aqui quando ainda era apenas sonho e poeira. Cresci ouvindo histórias dessa cidade sonhada e das dificuldades dos que a ergueram”, relembra ela.

Quando mais nova, escutava muito falar de Brasília como capital do rock, muitas vezes por carência que realmente descrevesse a cara cultural desse lugar tão plural. “Amo a cena do rock e louvo os artistas daqui, mas tive uma crise de identidade ao me inserir como da cidade do rock. Via um movimento de samba e choro muito forte, que talvez a Escola de Música e o Clube do Choro expliquem”, contextualiza.

Stéffanie Oliveira. Crédito: Divulgação
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Inquieta, foi cofundadora do grupo Seu Estrelo, no momento em que Tico, o grande capitão, começou a trazer os mitos do Cerrado e que criaram novas batidas para a cidade. Recentemente, tamanha a força de criação e identidade, o bloco cultural foi reconhecido como patrimônio imaterial do Distrito Federal. “Comecei dançando, depois me apaixonei pelo agbê. Esse instrumento que mais tarde também encontro no terreiro de candomblé, no Ilê Axé Oyá Bagan da qual sou membro, e percebo o quanto a identidade de Brasília também é formada por esses espaços sagrados, mas também muito silenciados. Acho que Brasília é isso. Essa cidade que vai muito além das asas e cria constantemente sua própria história”, revela Stéffanie.

A partir disso, nasce o Instituto Rosa dos Ventos, um espaço para fomentar as culturas de terreiro — as culturas populares e de matriz africana. “A partir do Festival São Batuque, que acontece há 18 anos, com ações formativas nos próprios territórios, além de apresentações culturais, ia percebendo a profundidade de saber sobre a história desses lugares. O Rosa dos Ventos, com esse foco cultural, tem o intuito de criar mais espaços para as culturas das nossas quebradas e principalmente dos nossos terreiros”, explica a presidente do Rosa dos Ventos.

Um dos projetos do Instituto é o “Circuito de Culturas Populares”, um programa criado a várias mãos junto aos brincantes da cidade, que tem como ideia abraçar projetos, grupos e entes produtivos de cultura popular candanga, como o próprio nome já diz, em um balaio de fomento, manutenção e realização. “Com isso, proponho o fortalecimento dessas entidades por sua união. A produção de festivais, de encontros, debates, momentos culturais e sagrados, manifestações por direitos são todas partes dessas ações que o circuito provê”, lembra Stéffanie.

Stéffanie Oliveira. Crédito: Divulgação
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Além do “Circuito de Culturas Populares”, o Rosa também realizou o “Bumba Meu Boi de Mestre Teodoro”, o primeiro registro fonográfico de 15 faixas escolhidas entre centenas de composições nesse território; subiram junto o Ilê Axé de Mãe Baiana de Oyá, o primeiro Memorial de Cultura Tradicional de Terreiro do DF, além de muitos outros projetos que propagam as raízes das religiões de matriz africana.

“Nesse sentido surgem vários projetos de continuidade dos trabalhos desses territórios e também festivais tradicionais, como a ‘Festa das Águas’, que celebra um abraço entre Oxum e Iemanjá, às margens do Lago Paranoá, durante o 2 de fevereiro de cada ano”, conta ela. Cabe destacar que o festejo acontece em um dos mais importantes patrimônios afro-candangos, a Praça dos Orixás.

Stéffanie Oliveira. Crédito: Divulgação
Crédito: Divulgação

Com mais de 21 anos dedicados à cultura do quadradinho, Stéffanie Oliveira recebeu, no último mês, moção de louvor pelo trabalho com as culturas tradicionais de terreiros no Distrito Federal. “São muitos anos vivendo as culturas tradicionais de terreiro pelo sagrado e pela militância. O racismo contra o nosso sagrado é imenso. Ainda somos reprimidos em todos os espaços que ocupamos, das escolas ao serviço público. Sobretudo, em Brasília; uma cidade extremamente tomada pela ignorância do conservadorismo”, conta ela. “Meu primeiro recado ao nosso povo de ilê, nosso povo de santo é pra nunca perdemos a força, porque juntos mantemos a sabedoria que jamais tirarão de nós. Segundo recado, aos nossos governantes: para que olhem e conheçam mais nossos espaços, nossos territórios, eles são imensos”, completa.

Para este ano, o Instituto Rosa dos Ventos continua se movimentando para os projetos contínuos, além de potencializar territórios, abrir cada vez mais espaço para as invenções e tradições da cidade e mostrar a potência e beleza de Brasília para a população da capital e para o mundo. “Além disso, temos algumas novidades, vou contar uma de primeira mão aqui: lançaremos ainda este ano duas plataformas virtuais, uma voltada para as culturas populares e outra para as culturas tradicionais de terreiro. Estão sendo feitas junto aos detentores de cada território com informações preciosas de cada espaço sagrado do DF”, adianta Stéffanie.

Saiba mais sobre Stéffanie Oliveira e seus movimentos culturais:

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