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Além do Quadradinho
Além do Quadradinho

As “meninas flores” e a arte vibrante da artista urbana Nati

“Desenho mulheres para inspirar outras a se olharem e se admirarem. Quero que as pessoas se sintam bem ao olhar meu grafite”, reflete a artista

Thaty Nardelli

19/06/2023 12h06

Foto: Arquivo pessoal

Naiana Alves, ou simplesmente Nati (@naiananatti), como é conhecida no grafite, começou a pintar as ruas em 2006, sendo uma das primeiras mulheres do estilo no Distrito Federal. Hoje, acumula 17 anos de intensa atuação artística. Sua grande marca, as “meninas flores”, tem grandes olhos expressivos, muitas cores vibrantes, além de elementos orgânicos, que empoderam o feminino e a natureza que colorem muros, paradas e muitos outros lugares do DF e de outros estados brasileiros. 

“Desenho mulheres para inspirar outras a se olharem e se admirarem. Quero que as pessoas se sintam bem ao olhar meu grafite”, reflete a artista. Para Nati, que já atravessou várias barreiras para poder exercer sua arte, grafitar é uma das “manifestações mais libertadoras que existem”.

A Além do Quadradinho desta segunda-feira (19), apresenta a grafiteira Nati. 

Quais as lembranças mais afloradas que você tem da sua infância e como foi seu primeiro contato com a arte?

Nasci em Ceilândia, onde morei quando criança, mas lembro muito pouco desse período. Minhas maiores lembranças são de quando morei no Recanto das Emas, meus pais continuam morando lá. Tive uma infância muito ativa, brinquei muito na rua, fui criança raiz (risos). Eu vejo que o contato que tive com arte foi por meio do grafite. Antes disso não tenho lembranças, o grafite me despertou para eu olhar para as outras artes no geral. Antes disso, quando criança, eu gostava de desenhar animes e desenhos que via na televisão. 

E quando o grafite entrou na sua vida?

Em 2006, ganhei uma revista chamada “Graffiti”, e eu vejo grafites de mulheres nessa revista… Foi amor à primeira vista! Eu comecei a pesquisar sobre o que era, procurei pessoas na minha cidade que faziam grafite, e comecei a observar a rua, o que antes eu só passava e nem olhava.  Percebi muitas pessoas no Distrito Federal pintando. Inclusive, a cena do grafite no DF sempre foi muito rica!  Como na época eu não tinha grana para comprar spray, comecei a fazer lamb-lamb, stencil e só depois comecei a desenhar com spray. Na época, duas amigas da minha rua deixaram eu pintar o muro delas. Então, realizei meu primeiro grafite.

Sua arte traz a natureza misturada a imagem da mulher… Como surgiu esse encontro? 

O que eu faço hoje é uma construção de todas as vivências desses 17 anos.  Desde quando comecei, eu sempre desenhei imagens figurativas, femininas e lúdicas, esse mundo que criei foi surgindo aos poucos. O que eu desenho está muito relacionado ao que eu vivo e sinto naquele momento. Em 2022, quando eu estava grávida, eu desenhava ela grávida também, os dois mundos acabam se misturando. Além disso, sou formada em Biologia e amo a natureza, tudo isso junto foi aos poucos formando meu estilo de desenho. O grafite é uma das manifestações mais libertadoras que existe. Desenho mulheres para inspirar outras mulheres a se olharem e se admirarem. Quero que as pessoas se sintam bem ao olhar minha arte.

Inclusive, como a maternidade impactou não só a sua vida, mas sua arte?

Meu bebê tem 11 meses, estou ainda me redescobrindo como essa nova mulher e a artista junto, estou com muitas ideias. A maternidade traz novas perspectivas. Na minha arte, eu vejo que estou no momento de maior tranquilidade, me veio o desejo de desenhar coisas novas e explorar outras técnicas. Estou em um momento de pesquisa para ver o que quero colocar para fora. 

E como você vê a cena do grafite hoje?

A cena do DF eu sempre achei muito rica, hoje continua sendo muito bem representada. Fico feliz em ver a cada dia mais pessoas fazendo grafite, principalmente mulheres, acho que quando outras mulheres veem grafite de mulheres na rua, isso motiva a mais mulheres irem para as ruas. Criamos uma identificação e vemos que podemos estar na rua também. Cada uma de nós pode ser referência. 

Muitas vezes os grafites são apagados e desvalorizados. Você acha que as cidades brasileiras são despreparadas para lidar com as intervenções?

Eu pinto muito nas regiões administrativas e o grafite é muito aceito pelos moradores… Claro que às vezes pode ocorrer de uma criança sujar ou um morador pintar em cima, mas no geral vejo que as pessoas se sentem valorizadas quando levamos arte. Eu gosto de cada grafite que faço, mas eu busco, depois de pronto, desapegar para não ficar triste se algo acontecer.

Você vê uma diferença quando o grafite é feito nas regiões administrativas e quando é pintado no Plano Piloto?

Vejo que nas RAs as pessoas recebem bem o grafite e olham como uma arte. Já no Plano Piloto, eu sinto que ele é mais visto como uma forma de higienização da cidade. Muitas pessoas não gostam das pichações e preferem o grafite. Eu gosto de pintar nas periferias, onde eu sinto que meu grafite muda o dia a dia das pessoas.

Que barreiras você acha que a sua arte quebrou e ainda tem a quebrar?

Como mulher, acho que sempre tem algo a ser superado, mas vejo que nossa cena do grafite feminino tem se fortalecido, tem muitas participações de mulheres nos eventos e muita mais nas ruas e cada dia vão aparecer muito mais mulheres.

Falando nisso, como é seu processo de criação?
Meu desenho tá muito relacionado ao que eu to vivendo naquele momento, geralmente as ideias vêm na minha mente e gosto de anotar, eu uso muito fotografia de referência, se eu não acho uma imagem do desenho que eu planejo pintar eu crio essa fotografia, eu mesmo tiro minha foto e depois desenho. É um processo muito orgânico e leve… 

Você também oferece oficinas para mulheres, o que gera um empoderamento feminino. Como surgiu isso e como é para você participar desse movimento? 

Sempre sou convidada a ministrar oficinas, eu gosto muito de poder compartilhar o meu processo criativo, de poder mostrar como eu faço minhas pinturas, poder colaborar para que mais mulheres possam estar na rua se manifestando é o que me motiva. 

Algum trabalho que você realizou ficou marcado para você? 

Gosto de todos, mas o último e sempre o queridinho do momento. O que eu mais gosto até agora foi o que fiz com oito meses de gestação em 2022, fiz uma pintura grande em um evento que eu estava produzindo. Um momento de muitos desafios, então eu consegui executar o projeto e ainda pintar.  Foi bem desafiador, eu fiquei muito feliz em ter conseguido!

Acompanhe o trabalho da artista urbana Nati:
https://www.instagram.com/naianatti/

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