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Além do Quadradinho
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A força dos detalhes do artista indígena Aislan Pankararu

Formado em Medicina, Aislan espalha sua arte por meio de exposições como a Nhe’ ë Se”, em cartaz até 9 de julho na Caixa Cultural

Thaty Nardelli

29/05/2023 10h40

Foto: Paua Siqueira

O artista visual Aislan Pankararu (@aislanpankararu) é natural de Pernambuco, mas foi em Brasília que se formou em Medicina pela Universidade de Brasília (UnB), profissão que se mistura com seu trabalho artístico. Também foi por aqui que, em 2020, realizou sua primeira exposição individual, Abá Pukuá, que significa “Homem Céu”, em parceria com a Comissão de Humanização do Hospital Universitário de Brasília (HUB). Já em 2021, Aislan inaugurou a mostra individual, Yeposanóng (“Curar-se”), no Memorial dos Povos Indígenas (DF).

Agora, ele participa da mostra coletiva Nhe’ ë Se”, em cartaz até 9 de julho na Caixa Cultural, baseado no significado da palavra que vem do guarani e significa “desejo de fala”, a expressão do espírito e o diálogo como cura que reúne trabalhos de artistas indígenas contemporâneos de diversas regiões do país.

Quando surgiu o chamado pela arte?

Desde a infância, mas em dois momentos em especial: um episódio em 2005 e 2019. Em 2005, tive oportunidade de fazer trabalhos artísticos em uma gincana na Escola agropecuária e, em 2019, senti a força interior pedindo para evidenciar ainda mais a conexão com meu bioma nativo (caatinga) e a relação ancestral com meu povo.

Você passou grande parte de sua vida em Brasília. Como a cidade te inspirou?

Talvez ela tenha sido uma espécie de envolvência para o meu processo. O principal momento de retorno veio durante o curso de graduação na Universidade de Brasília. O vulcão chamado UnB me propiciou um enorme contato e encontro comigo mesmo. Ao mesmo tempo tinha contato com uma diversidade incrível. Isso me marcou. Mas de alguma forma na graduação existiram gatilhos para que eu falasse através da arte de coisas que talvez não tivesse coragem de enfrentar no dia a dia.

É formado em Medicina. Como ela te inspira dentro da sua arte?

Apesar de no momento não exercer a medicina, certamente ela me influenciou em todo o meu processo artístico. Em detalhes, como no cuidado com as pessoas, o tempo de cada cura e as trocas energéticas tão importantes.

Seu trabalho tem raízes indígenas. Como ela se reflete em suas obras?

É o momento que vivo, a influência vem do agora, mas, claro, carregada de uma ancestralidade muito forte. É evocar Pankararu e o bioma caatinga. A minha autoexigência pede pra evocar esses dois nichos de minhas origens.

Sua primeira exposição, “Abá Pukuá”, foi realizada na capital, em 2020. Como foi o processo e qual obra e por que ela mais te tocou?

Foi um trabalho que realizei durante o internato em ginecologia e obstetrícia na UnB. De alguma forma, o contato com a área me fez refletir sobre a força feminina do meu povo e a obra “Guardiã”, sem dúvidas, foi a que mais me tocou naquele momento.

Sua segunda exposição, “Yeposanóng”, significa “Curar-se”…

Todo esse processo foi um período de novidade e conexão. O fruto do envolvimento com o poder cultural do meu povo, coloquei os nossos processos cosmológicos como cura. Foi um momento difícil em que a humanidade sofria com a pandemia. Quis trazer a esperança e a força que aquele momento precisava.

Atualmente você participa da mostra coletiva “Nhe’ ë Se – Diálogo e Cura”. O que suas obras trazem para o público?

A mostra reúne trabalhos de artistas indígenas contemporâneos de diversas regiões do país e a exposição dá espaço de protagonismo e estabelece uma potente rede de resistência e diálogo por meio de suas diferentes vivências. O conceito de “Nhe´ Se” é baseado no significado da palavra que vem do guarani e significa desejo de fala, a expressão do espírito e o diálogo como cura. São suportes artísticos utilizados que vão do grafismo às instalações, passando por pinturas, cerâmicas, fotografias e vídeos. Para a exposição, realizei três obras. Uma em especial retrata o pó da terra, que inclusive fiz quando residia em Brasília. Está atrelado com a força do sentir a terra, do sentir a poeira do chão nos nossos cantos e danças.

Você pode conferir as obras de Aislan Pankararu e outros artistas indígenas na exposição “Nhe´ Se”, em cartaz na Caixa Cultural.

?Local: Galeria Vitrine
Visitação:
de 10 de maio a 09 de julho
Horário: terça a domingo, das 9h às 21h
Classificação indicativa: livre para todos os públicos
Entrada franca

Saiba mais sobre o trabalho de Aislan Pankararu:
Instagram: @aislanpankararu/

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