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Aniversário de Brasília

BSB 64: céu de Brasília mostrado pela sétima arte

Ao longo dos anos, a capital foi reimaginada pelo cinema, mostrando o lado arquitetônico modernista, política, músicas e tudo que lembra o nosso quadradinho

Tamires Rodrigues

19/04/2024 5h00

Cena do filme “Eduardo e Mônica”, 2020, dirigido por René Sampaio. Foto: Divulgação

Cidade jovem, feita de forma pensada, Brasília transpõe o conceito da construção enraizada até os dias de hoje, quase 64 anos completos no próximo domingo (21), a capital ficou marcada por diferentes formas artísticas. Mas uma delas sempre chamou a atenção, o cinema feito no “quadradinho” mostra a jovialidade da tão sonhada cidade.

Mas sabe, muito antes da cidade ser tema de filmes que marcaram o cinema nacional, cinegrafistas desciam de helicópteros para documentar as cenas da construção e da inauguração em 1964.

Em 1962, mestres como Nelson Pereira dos Santos e Paulo Emílio Salles Gomes iniciaram o corpo docente do primeiro curso superior de cinema do Brasil (na UnB), mas durante o golpe militar o curso foi finalizado.

Fica parecendo que Brasília foi retratada como um catálogo de loja, pelo contrário, as primeiras imagens foram para mostrar a multidão de imigrantes, os candangos durante a construção, os primeiros estudantes em busca de vagas, pois é, e foi nesse momento que a cidade começou a ser vista como palco para narrativas cinematográficas que vislumbravam temas políticos, produções estrangeiras, dramas amorosos e, mais recentemente, poemas filmados e músicas ganhando a telona.

Doutor em comunicação e professor de cinema Ciro Inácio Marcondes. – Foto: Arquivo Pessoal

“Foi a partir dos anos 1990 que a produção de cineastas da capital ganhou tração, com a reabertura do curso da UnB e gerações que se sucederam revelando diretores, técnicos e profissionais de porte nacional, como José Eduardo Belmonte, Adirley Queirós e Iberê Carvalho. Muito disso se deu por meio de leis de incentivo e políticas públicas que foram surgindo a partir da criação da Ancine em 2001. O Festival de Brasília, mais antigo do país e um dos mais prestigiados, também vem fomentando a cultura cinematográfica da capital desde 1965”, explica o doutor em comunicação e professor de cinema Ciro Inácio Marcondes.

Cine Brasília, a resistência tem nome

O Cine Brasília nasceu coladinho com a cidade, na verdade, a primeira sessão foi realizada antes mesmo da inauguração, em 22 de abril de 1960. O local fez parte do projeto arquitetônico modernista desenhado por Oscar Niemeyer. Muito mais que isso já está incorporado no inconsciente dos brasilienses amantes da sétima arte, que tiveram o privilégio de ver obras dignas do cinema mundial.

Foto: Arquivo

E nada é mais a cara do Cine Brasília que o “Festival de Brasília do Cinema Brasileiro”, uma iniciativa do professor de cinema da Universidade de Brasília, Paulo Emílio Sales Gomes, em 1965 (ou seja, é o mais antigo do país. Vitória para a nossa cidade!).

“Acredito que, para o Cine Brasília, falta uma política pública consistente, que permita uma curadoria continuada, possa atravessar governos diferentes, e mantenha critérios claros de seleção dos filmes, visando a formação cultural em cinema, com boa remuneração nos contratos, e promova diversos tipos de eventos relacionados à cultura cinematográfica, além de utilizar a consulta pública como metodologia”, destaca Ciro.

Brasília já foi marcada pela construção e o esforço, sua identidade é única! Não existe cidade igual e isso não seria diferente em filmes que mostram a arquitetura, os problemas e até os amores da capital. Talvez toda essa singularidade seja até difícil de ser vista ou compreendida por pessoas que não moram na cidade, pois veem o nosso pequeno espaço como unicamente palco para a política. Para o comunicador Ciro não é diferente, a visão dele mostra como o cinema ajuda os olhos dos espectadores a saírem dos estereótipos.

Foto: Agência Brasília

“O esforço dos profissionais de cinema em Brasília é notável, com uma grande quantidade de cineastas produzindo para o Brasil e fora dele, casos de Rafaela Camelo e Santiago Dellape. Muitas vezes este cinema é marcado por visões não-estereotipadas da capital e das outras RAs do DF, procurando discutir as anomalias da vida no Distrito Federal (suas contradições) e o estilo de vida de seus habitantes, que fica invisível para os brasileiros de fora daqui.

Não é à toa que o cinema é visto como a sétima arte, uma forma de se comunicar, de se expressar, impactar a vida das pessoas. A cultura não é acessível para todos, isso não é nenhuma surpresa, mas de certa forma os filmes podem ser alcançados, na televisão, em promoções nas salas ou atualmente nos streamings.

“O cinema é um tipo de linguagem que se comunica profundamente com o íntimo dos espectadores. É uma cultura que nos afeta de maneira diferente, transformando-nos por meio de imagens profundas e que nos impactam. Em Brasília, também é assim. Trata-se de uma cidade que ama o cinema, com espectadores cultos e interessados, e isso se reflete em seus produtores, seja na guerrilha ou nas produções de maior porte, que procuram muitas vezes retratar nas telas o sentimento único que é viver aqui”, finaliza Ciro.

Confira uma lista de filmes selecionados que marcaram Brasília:

🎬 Brasília, (1960)                                              
Direção: Cacá Diegues
🎬 Bye bye Brasil, (1979)                                  
Direção: Cacá Diegues
🎬 Os Anos JK – Uma Trajetória Política, (1980) Direção: Silvio Tendler 
🎬 A idade da Terra, (1980)                               
Direção: Glauber Rocha
🎬 O sonho não acabou, (1982)
Direção: Sérgio Rezende
🎬 A céu aberto, (1985)                                 
Direção: João Batista de Andrade
🎬 Inferno no Gama, (1993)                           
Direção: Afonso Brazza
🎬 Sinistro, (2000)                                            
Direção: René Sampaio
🎬 Subterrâneos, (2003)
Direção: José Eduardo Belmonte
🎬 Brasília 18%, (2005)                                   
Direção: Nelson Pereira dos Santos
🎬 Rap, o canto da Ceilândia, (2005)         
Direção: Adirley Queiroz
🎬 Faroeste Caboclo, (2013)                         
Direção: René Sampaio
🎬 Eduardo e Mônica, (2020)
Direção: René Sampaio

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