Já se sabe que os funcionários do metrô de Brasília são os mais bem pagos do Brasil. Mas eles estão em greve desde 14 de junho, reivindicando aumento salarial de 9,5% e a contratação de mais 800 funcionários.
Trabalhadores devem ter sempre direito a terem seus salários reajustados, para fazer frente à inflação e aos aumentos do custo de vida. Mas a companhia do metrô já é altamente deficitária e ineficiente, e o que os seus empregados querem é inviável. Os aumentos reais de salários que tiveram nos últimos anos já os colocaram em um patamar invejável.
O salário médio dos 62 metroviários de nível superior é de R$ 20.638,73. O dos 916 funcionários de nível médio é de R$ 9.256,45. O salário médio dos funcionários do metrô é de R$ 9.978,02.
Todos com estabilidade no emprego.
Enquanto isso, 300 mil desempregados
A menor média salarial no metrô é das telefonistas: R$ 5.123,94. O único contador da empresa recebeu R$ 30.477,84 em maio. Os pilotos ganham em média R$ 8.214,15 por mês. Os agentes de estação recebem R$ 7.252,33. Os auxiliares de serviços gerais, R$ 7.129,34. Os técnicos em eletrotécnica, R$ 16.649,81.
Entre os profissionais de nível superior, a menor média é dos comunicólogos: R$ 10.559,28. A dos arquitetos é de R$ 19.835,21 e um engenheiro mecânico recebe em média R$ 22.843,73. Os 13 administradores recebem em média R$ 21.559,72.
Só vai aumentar o rombo
Os metroviários em greve querem também a contratação de mais cerca de 800 funcionários. Contratar mais trabalhadores com esses salários, acima do que se paga em outras empresas e da média do mercado de trabalho, é um ônus com o qual o governo de Brasília não pode arcar.
Nem sob o ponto de vista financeiro, pois não tem dinheiro, nem sob o legal, pois está no limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal.
E não é a falta de gente que faz o metrô funcionar mal.
Previsões mirabolantes às vezes acontecem
Não é incomum que governos inventem ou chutem números que por alguma razão lhes sejam interessantes. Por algum motivo, justificado ou não, a imprensa publica esses números como se fossem reais. Alguns, sem querer checá-los ou sem condições para isso, atribuem a informação a uma fonte e pronto.
Para tentar justificar o gasto de R$ 32 milhões com 10 jogos de futebol olímpico, o governo de Brasília diz que o Distrito Federal será imensamente beneficiado em renda e imagem. E anuncia que 300 mil pessoas são esperadas na cidade.
Tomara que a previsão se confirme. Cartomantes às vezes acertam.
Na ponta do lápis
Esses 300 mil visitantes previstos irão movimentar a economia da cidade, argumenta-se. Certamente irão, se vierem mesmo. Mas seria bom o governo mostrar em que se baseia para chegar ao número e quanto, aproximadamente, isso significará em recolhimento de taxas e impostos para os cofres públicos.
Aí veremos se vale mesmo a pena gastar R$ 32 milhões com 10 jogos de futebol masculino e feminino.
Nem tudo que reluz é ouro
O ganho em imagem para Brasília é difícil de dimensionar, mas seguramente haverá algum, com a transmissão dos jogos e a presença de visitantes nacionais e estrangeiros. É válido pensar em eventos que ajudem a passar uma imagem positiva da cidade e incrementar a vinda de turistas e de investidores.
A relação custo-benefício, porém, nesse caso não compensa. Custo demais e benefícios de menos. Não vale o investimento.
Você viria para isto?
Sinceramente: dá para acreditar que 300 mil pessoas virão a Brasília para assistir jogos de seleções olímpicas masculinas do Brasil, Argentina, África do Sul, Coreia do Sul, Dinamarca, Honduras e Iraque? E femininas da Alemanha, Canadá, China e Suécia?
É só no Congresso?
Há muito tempo se sabe que, geralmente, comissões parlamentares de inquérito no Congresso Nacional são constituídas como negócio: parlamentares negociam convocações e desconvocações, dureza ou moleza nas perguntas em depoimentos e o teor do relatório final. CPIs são apenas uma vertente no amplíssimo leque do rendoso mercado parlamentar e só agora que aparecem as primeiras comprovações disso, graças às delações premiadas.
Vale relembrar o que disse o ex-senador Delcídio Amaral a respeito das CPIs que funcionam no Congresso Nacional: são constituídas para que haja “algum tipo de negociação”. Segundo Delcídio, as extorsões na CPI da Petrobrás não são fatos isolados, pois há outros casos.