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JBr Saúde #003 – “Viveremos a pandemia do medo”

Após a pandemia da covid-19, os hospitais viverão uma avalanche de atendimentos de casos vários relacionados à saúde mental

Redação Jornal de Brasília

25/03/2021 11h15

Atualizada 08/04/2021 12h50

JBr Saúde

Há uma bomba-relógio prestes a estourar na saúde pública. Após a pandemia da covid-19, os hospitais viverão uma avalanche de atendimentos de casos vários relacionados à saúde mental. Crises de ansiedade, de pânico, Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), compulsão suicida, alcoolismo, vício em drogas, frustração por projetos adiados ou não realizados. O sistema de saúde estará preparado para lidar com o que os especialistas já chamam de a “pandemia do medo”?

Essa é uma preocupação que agora cresce entre os profissionais de saúde, especialmente aqueles ligados às áreas de psicologia e psiquiatria. No momento em que a covid-19 vive seu auge e o grau de imunização ainda é pequeno para determinar quando nos livraremos da doença, todas as principais atenções estão voltadas ao combate do patógeno, como evitar a contaminação e como obter a sua cura. “Há, porém, uma série de outras questões emocionais envolvidas, que geram uma situação de estresse pós-traumático. E o agravamento dessas situações vai gerar uma grande demanda de saúde pública”, alerta o psiquiatra, especialista em psiquiatria da infância, Rafael Vinhal. Ele a Giselle de Fátima Silva, psicóloga da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, foram os convidados do programa JBrSaúde desta semana.

“Vivemos a pandemia do medo”, diz Giselle. “Mesmo a gente não tendo sido infectado ou tendo um familiar nessa situação, todos nós convivemos com alguém que sofreu ou está sofrendo. Isso tem repercussões diretas na nossa emoção. Estamos todos sendo impactados”.

Rafael Vinhal alerta para ainda uma outra pandemia, além da covid-19 e a sensação de medo. Algo que ele chama de “infodemia”. Uma “chuva de informações”. Que se tornou caótica e desencontrada pelo advento das redes sociais e dos novos meios. “São informações além da capacidade que a população tem de absorvê-las”, afirma. Nem todas elas corretas, muitas delas prestam um desserviço. “Há muitas fake news. Muita informação distorcida”, completa Giselle. Nem por isso, porém, o caminho a seguir é ignorar as informações e se alienar da situação. “É preciso em tudo se buscar o equilíbrio. A alienação, o afastamento das informações, é negação. E isso também é sinal de que a pessoa não está bem do ponto de vista mental”, comenta Vinhal.

Para os dois especialistas, será necessária uma maior interação de diversos setores para observar e tratar mais de perto os problemas emocionais que advirão da covid. Giselle Silva chama a atenção para o fato de que hoje boa parte dos profissionais de saúde que não atuam diretamente com psicologia e psiquiatria não estão preparados para lidar com as reações emocionais das pessoas. “Esses profissionais deveriam ter um treinamento mínimo que os capacitasse para identificar reações que apontam para a necessidade se preocupar um especialista, evitando, assim, que o problema se agrave”, diz ela.

Ela aponta ainda para o fato de que, agora, e depois da pandemia, boa parte dos próprios profissionais de saúde, levados a uma situação de estresse extremo com a pandemia, também demandarão cuidados. “Muitas vezes, o atendimento a alguém que está sofrendo com a covid é feito por alguém que, da mesma forma, está sofrendo com ela”.

Vinhal e Giselle também reforçam as preocupações com as crianças e os adolescentes. “Uma das populações que mais se prejudicou com a pandemia foram as crianças e os adolescentes”, observa Vinhal. “As crianças não vão à escola apenas para estudar e aprender. Vão para se relacionar. Então, boa parte da infância e da adolescência está perdida pela pandemia”, diz ele. O psiquiatra conta que tem recebido diversos pacientes na faixa menor de idade com quadros de tristeza, ansiedade e comportamento suicida. E alerta para a necessidade de atenção dos pais. “É preciso conversar muito e observar muito. Crianças às vezes desabafam de forma não verbal. Com o gestual, desenhos ou brincadeiras”, aponta. E emenda que é vital que as famílias não fiquem isoladas, cada um no seu quarto, sem interação. Ele recomenda que haja pelo menos um momento de convívio entre todos, pelo menos uma refeição todos juntos, por exemplo.

Estratégias para driblar o estresse, hobbies, exercícios e outras dicas também fazem parte da conversa desta semana com Giselle de Fátima Silva e Rafael Vinhal. O programa JBrSaúde vai ao ar todas as quintas-feiras no site do Jornal de Brasília, em parceria com o grupo Imagem&Credibilidade. Tem a apresentação de Estevão Damázio.

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