Menu
Conta Giros
Conta Giros

Obama e a fusão da Chrysler e Fiat nos EUA

O ex-presidente norte-americano foi protagonista fundamental na fusão das duas gigantes da indústria automotiva na crise de 2008.

Aurélio Araújo

19/01/2021 19h27

Presidente Barack Obama desembarca do “beast”, o carro presidencial norte-americano. Foto: Divulgação.

Não é de hoje que sou fã desse cara, na verdade, somos. Eu e minha esposa tivemos a honra de trabalhar na visita do ex-presidente Barack Obama ao Brasil em 2011, quando ainda governava os EUA. Como disse recentemente em um post nas redes sociais, foi um dos pontos mais altos da minha trajetória profissional, naquela época, como assessor da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Tive a oportunidade de vê-lo discursar e isso a gente não esquece.  

Por isso, bastou sair a notícia do novo livro Uma Terra Prometida, que eu corri para comprar minha cópia. Trata-se de uma leitura extensa e complexa de 751 páginas através das memórias de Obama até à presidência dos Estados Unidos. Não vou dar spoiler para você, mas uma das minhas partes favoritas é a descrição da crise financeira de 2008 com a quebra do Lehman Brother e o esfarelamento do mercado imobiliário. 

Capa do livro “Uma Terra Prometida” de Barack Obama. Foto: Divulgação.

Não tenho a pretensão aqui de explicar a complexidade das subprimes (ações podres) e como se deu o desencadeamento dos fatos, até por que o foco da nossa coluna é outro. Mas no meio daquele terremoto no sistema financeiro global, Barack Obama aponta que as três principais montadoras do país (Ford, GM e Chrysler) estavam tropeçando por motivos como má administração, produtos medíocres, concorrência estrangeira entre outras coisas como um excessiva dependência de SUVs com alta margem de lucro e grande consumo de gasolina. Segundo Obama, a crise vinha se desenhando nas últimas décadas e 2008 agravou o cenário. Além disso, ele “não conseguia entender por que é que Detroit não consegue fazer um maldito Corolla”, em referência à Toyota que crescia cada vez mais no mercado americano. 

Barack Obama em visita à fábrica da Ford durante seu mandato presidencial. Foto: Associated Press.

Um ponto que chama a atenção é que, assim como foi feito no Brasil com a Ford, Mercedes e Troller, o governo Obama poderia simplesmente ter informado que eles queriam apenas subsídios e terem deixado as fábricas encerrarem suas operações. Mas a cadeia de empregos e a possibilidade de, com isso, gerar o lapso de mais de 20 cidades, levou a uma outra postura. Foi criada a Força-Tarefa Automobilística da Casa Branca para que as três montadoras não entrassem em colapso e foram projetadas uma série de intervenções graduais  e indispensáveis como a revisão de planos organizacionais, a substituição de gestores e de conselhos administrativos. 

Para a Ford e GM o plano parecia caminhar bem, porém para a Chrysler, detentora da Jeep e a menor das três, o caminho era mais complexo e, sabendo do recente interesse da Fiat na marca americana, a Casa Branca fez o possível para auxiliar na aquisição e achando soluções junto com o mercado para realização do negócio. A junção deu tão certo que a FCA (Fiat Chrysler Automóveis) poucos anos depois, veio para o Brasil e lançou com força os Jeeps Renegade e o Compass no mercado brasileiro. Mesmo o volante e plataforma do Renegade sendo igual aos da Fiat Toro (otimização da linha de produção), não há dúvidas que a junção das gigantes agitou os mercados de lá e de cá.

Em resumo, a força tarefa criada na Casa Branca negociou uma mudança de administração na GM, intermediou a negociação entre a Fiat e a Chrysler e ajudou a preparar um plano viável de concordata e reorganização das montadoras. Infelizmente, no Brasil, a falta de sobriedade para tratar a indústria nacional nos levou a um jogo de empurra.  

Ao declarar o fim de suas fábricas em nosso país, a Ford alega, entre outros, a falta de competitividade e os altos custos do Brasil e o governo acusa a Ford de querer subsídios (como se as grandes indústrias e a agricultura não recebessem incentivos com frequência). A falta de diálogo entre as partes levará ao fim de mais de cinco mil empregos e o possível colapso das cidades sede das fábricas (além do impacto na cadeia produtiva). Boatos correm sobre a aquisição da Troller (que pertence à Ford) pela Fiat, mas nada confirmado ainda. E o nosso governo ignora tudo isso como se não fosse seu problema soltando apenas palavras vazias em cadeia nacional. Uma pena!

Ao invés de palavras vazias, que tal um governo ativo que busque uma solução ao problema? Propondo ações e sendo protagonista de um desfecho que leve em conta a vida de todos os envolvidos na cadeia produtiva automotiva? Seria pedir demais que o governo participasse das soluções que pudessem salvar a Troller, uma marca de origem nacional nascida e criada no Ceará? Enquanto palavras vazias se perdem nas redes sociais, as máquinas param e empregos desaparecem em plena pandemia. 

Quando vejo o desfecho positivo da crise de 2008 para um recomeço que deu sobrevida à indústria automotiva norte-americana e do protagonismo imposto por Barack Obama ao seu time naquele momento, olho para dentro do nosso país e vejo apenas lamentos. Lamento.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado