Encenado pela primeira vez em 2022, o espetáculo “Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol” volta aos palcos nesta sexta-feira (24), iniciando uma nova e ambiciosa etapa: sua circulação nacional. A turnê começa no Distrito Federal e segue por outras quatro capitais — Vitória, Belo Horizonte, São Paulo e novamente Brasília —, totalizando 12 apresentações que integram o projeto “Resistência nos Trilhos – Remontagem & Circulação”, contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).
Com texto, direção e atuação de Cláudia Andrade, a montagem é uma experiência cênica e imagética que mistura videoarte, música e artes visuais para explorar temas universais como feminino, maturidade, finitude, poder e desigualdade social. A narrativa propõe um mergulho nas complexidades da existência humana e nos preconceitos enraizados em uma sociedade ainda hipócrita e desigual, convidando o público a um processo de libertação e reconhecimento do outro em si mesmo.

As primeiras apresentações acontecem em Ceilândia (DF), no Teatro Sesc Newton Rossi, com entrada gratuita. Depois, o espetáculo segue para Casa da Música Sônia Cabral (Vitória/ES), Palácio das Artes (Belo Horizonte/MG), Teatro Ruth Escobar (São Paulo/SP) e encerra no Teatro Nacional Cláudio Santoro (Brasília/DF).
O nascimento de “Trilhas”
A ideia de “Trilhas” surgiu em 2017, durante a oficina Caminhos, ministrada pelo dramaturgo Maurício Arruda, que incentivou Cláudia a transformar o esboço em um espetáculo. Unindo sua experiência no audiovisual e nas artes cênicas, ela construiu uma obra híbrida e consultou o professor e diretor Fernando Villar, que a descreve como “uma artista guerreira das artes há décadas, em diferentes continentes e linguagens”. A análise técnica e preparação de elenco ficaram a cargo de Humberto Pedrancini, e a nova montagem traz ainda a colaboração do diretor João Antônio, com mais de 60 anos dedicados ao teatro brasileiro.
Para Cláudia, “Trilhas” é uma conquista de vida. “Sempre quis estar em cena. Trabalhei muitos anos nos bastidores, mas o palco sempre me chamava. Com Trilhas, consegui reunir tudo o que amo: interpretação, direção, produção e escrita. É um projeto que nasceu de uma inquietação, mas se transformou em um exercício de liberdade e reinvenção”, conta.

O feminino 50+ como potência
Na nova turnê, Cláudia divide o palco com Eloisa Cunha e Genice Barego, atrizes também 50+, cuja trajetória reflete a força e a maturidade feminina na cena teatral brasileira. “Ainda é desafiador ver mulheres maduras em destaque, mas isso vem mudando. A gente continua atuante, viva, cheia de ideias. O público quer ver essas histórias, quer ver a mulher 50+ em sua potência, com suas marcas, suas histórias no rosto e na alma. Essa representatividade está chegando com muita força”, afirma a artista.
A atriz destaca que a montagem é também uma celebração do tempo e da experiência. “As rugas são como memórias tatuadas. Cada uma conta algo sobre quem somos e o que vivemos. É bonito ver o mercado começando a entender isso, não só no Brasil, mas no mundo todo.”
Trama e inspirações
Inspirada na expressão “Koyaanisqatsi” — termo da língua Hopi que significa “vida fora de equilíbrio” —, a peça se constrói a partir do encontro entre duas mulheres acima dos 50 anos, Silvia (Eloisa Cunha) e Gimena (Cláudia Andrade), que se cruzam em uma estrada do interior do Brasil. A partir desse acaso, surge uma jornada marcada por memórias, afetos, conflitos, desigualdades e descobertas.
A personagem Gaivota (Genice Barego), uma figura simbólica, atemporal e mística, atua como fio condutor entre os mundos real e imaginário, representando intuição, mistério e conexão. A peça dialoga com temas como finitude, liberdade e o poder dos encontros — um dos temas que mais atravessam Cláudia em sua trajetória.

“Os encontros da vida me movem. Às vezes eles duram um instante, às vezes uma vida inteira, mas sempre deixam marcas. Trilhas fala disso: de como os caminhos se cruzam e transformam quem somos”, diz a autora.
Acessibilidade como compromisso
Um dos pilares do projeto é o compromisso com a inclusão. “Trilhas” conta com sessões com intérpretes de Libras e audiodescrição, além de ações sociais que garantem transporte e ingressos para grupos de pessoas com deficiência visual e turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
A artista explica que a acessibilidade passou a ser parte essencial do seu trabalho. “Mais do que uma exigência legal, é uma questão de dignidade e humanidade. Tenho aprendido muito trabalhando com pessoas com deficiência auditiva e visual. Quando percebemos que nosso trabalho emociona e alcança esses públicos, entendemos o verdadeiro sentido da arte: o de incluir, de aproximar, de transformar.”

Além das apresentações, o projeto promove rodas de conversa, oficinas de interpretação (uma delas com audiodescrição) e um debate nacional virtual sobre “O desafio da circulação teatral no Brasil”, ampliando o caráter formativo e reflexivo da iniciativa.
Em “Trilhas”, Claudia reúne toda sua bagagem multicultural e sensível em uma obra que transita entre linguagens e tempos. “A arte é o que me move. Continuar criando, continuar em cena, continuar me reinventando — é isso que me inspira todos os dias. E ver que esses sonhos estão se realizando é o que dá sentido a tudo”, conclui Cláudia.
SERVIÇO
Espetáculo: Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol
Data: 24 a 26 de outubro de 2025
Local: Teatro Sesc Newton Rossi – Sesc Ceilândia
(QNN 27 Área Especial, Ceilândia Norte, Brasília – DF)
Sessões:
24/10 (sexta-feira), às 20h – com Audiodescrição
25/10 (sábado), às 16h – com Audiodescrição
25/10 (sábado), às 20h – com Libras
26/10 (domingo), às 18h
Ingressos: Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol [Circulação Nacional] em Brasília – Sympla
Classificação indicativa: 16 anos