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Teatro e Dança

“Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol” inicia circulação nacional

Espetáculo com dramaturgia contemporânea, artes visuais e videoarte reflete sobre o feminino, as relações humanas e os ciclos da vida, em uma jornada que percorre cinco cidades brasileiras

Aline Teixeira

24/10/2025 5h00

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Foto: Gabriel Ikeda e Moisés Mualém

Encenado pela primeira vez em 2022, o espetáculo “Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol” volta aos palcos nesta sexta-feira (24), iniciando uma nova e ambiciosa etapa: sua circulação nacional. A turnê começa no Distrito Federal e segue por outras quatro capitais — Vitória, Belo Horizonte, São Paulo e novamente Brasília —, totalizando 12 apresentações que integram o projeto “Resistência nos Trilhos – Remontagem & Circulação”, contemplado pelo Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).

Com texto, direção e atuação de Cláudia Andrade, a montagem é uma experiência cênica e imagética que mistura videoarte, música e artes visuais para explorar temas universais como feminino, maturidade, finitude, poder e desigualdade social. A narrativa propõe um mergulho nas complexidades da existência humana e nos preconceitos enraizados em uma sociedade ainda hipócrita e desigual, convidando o público a um processo de libertação e reconhecimento do outro em si mesmo.

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Foto: Gabriel Ikeda e Moisés Mualém

As primeiras apresentações acontecem em Ceilândia (DF), no Teatro Sesc Newton Rossi, com entrada gratuita. Depois, o espetáculo segue para Casa da Música Sônia Cabral (Vitória/ES), Palácio das Artes (Belo Horizonte/MG), Teatro Ruth Escobar (São Paulo/SP) e encerra no Teatro Nacional Cláudio Santoro (Brasília/DF).

O nascimento de “Trilhas”

A ideia de “Trilhas” surgiu em 2017, durante a oficina Caminhos, ministrada pelo dramaturgo Maurício Arruda, que incentivou Cláudia a transformar o esboço em um espetáculo. Unindo sua experiência no audiovisual e nas artes cênicas, ela construiu uma obra híbrida e consultou o professor e diretor Fernando Villar, que a descreve como “uma artista guerreira das artes há décadas, em diferentes continentes e linguagens”. A análise técnica e preparação de elenco ficaram a cargo de Humberto Pedrancini, e a nova montagem traz ainda a colaboração do diretor João Antônio, com mais de 60 anos dedicados ao teatro brasileiro.

Para Cláudia, “Trilhas” é uma conquista de vida. “Sempre quis estar em cena. Trabalhei muitos anos nos bastidores, mas o palco sempre me chamava. Com Trilhas, consegui reunir tudo o que amo: interpretação, direção, produção e escrita. É um projeto que nasceu de uma inquietação, mas se transformou em um exercício de liberdade e reinvenção”, conta.

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Foto: Gabriel Ikeda e Moisés Mualém

O feminino 50+ como potência

Na nova turnê, Cláudia divide o palco com Eloisa Cunha e Genice Barego, atrizes também 50+, cuja trajetória reflete a força e a maturidade feminina na cena teatral brasileira. “Ainda é desafiador ver mulheres maduras em destaque, mas isso vem mudando. A gente continua atuante, viva, cheia de ideias. O público quer ver essas histórias, quer ver a mulher 50+ em sua potência, com suas marcas, suas histórias no rosto e na alma. Essa representatividade está chegando com muita força”, afirma a artista.

A atriz destaca que a montagem é também uma celebração do tempo e da experiência. “As rugas são como memórias tatuadas. Cada uma conta algo sobre quem somos e o que vivemos. É bonito ver o mercado começando a entender isso, não só no Brasil, mas no mundo todo.”

Trama e inspirações

Inspirada na expressão “Koyaanisqatsi” — termo da língua Hopi que significa “vida fora de equilíbrio” —, a peça se constrói a partir do encontro entre duas mulheres acima dos 50 anos, Silvia (Eloisa Cunha) e Gimena (Cláudia Andrade), que se cruzam em uma estrada do interior do Brasil. A partir desse acaso, surge uma jornada marcada por memórias, afetos, conflitos, desigualdades e descobertas.

A personagem Gaivota (Genice Barego), uma figura simbólica, atemporal e mística, atua como fio condutor entre os mundos real e imaginário, representando intuição, mistério e conexão. A peça dialoga com temas como finitude, liberdade e o poder dos encontros — um dos temas que mais atravessam Cláudia em sua trajetória.

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Foto: Gabriel Ikeda e Moisés Mualém

“Os encontros da vida me movem. Às vezes eles duram um instante, às vezes uma vida inteira, mas sempre deixam marcas. Trilhas fala disso: de como os caminhos se cruzam e transformam quem somos”, diz a autora.

Acessibilidade como compromisso

Um dos pilares do projeto é o compromisso com a inclusão. “Trilhas” conta com sessões com intérpretes de Libras e audiodescrição, além de ações sociais que garantem transporte e ingressos para grupos de pessoas com deficiência visual e turmas da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

A artista explica que a acessibilidade passou a ser parte essencial do seu trabalho. “Mais do que uma exigência legal, é uma questão de dignidade e humanidade. Tenho aprendido muito trabalhando com pessoas com deficiência auditiva e visual. Quando percebemos que nosso trabalho emociona e alcança esses públicos, entendemos o verdadeiro sentido da arte: o de incluir, de aproximar, de transformar.”

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Foto: Gabriel Ikeda e Moisés Mualém

Além das apresentações, o projeto promove rodas de conversa, oficinas de interpretação (uma delas com audiodescrição) e um debate nacional virtual sobre “O desafio da circulação teatral no Brasil”, ampliando o caráter formativo e reflexivo da iniciativa.

Em “Trilhas”, Claudia reúne toda sua bagagem multicultural e sensível em uma obra que transita entre linguagens e tempos. “A arte é o que me move. Continuar criando, continuar em cena, continuar me reinventando — é isso que me inspira todos os dias. E ver que esses sonhos estão se realizando é o que dá sentido a tudo”, conclui Cláudia.

SERVIÇO
Espetáculo: Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol
Data: 24 a 26 de outubro de 2025
Local: Teatro Sesc Newton Rossi – Sesc Ceilândia
(QNN 27 Área Especial, Ceilândia Norte, Brasília – DF)
Sessões:
24/10 (sexta-feira), às 20h – com Audiodescrição
25/10 (sábado), às 16h – com Audiodescrição
25/10 (sábado), às 20h – com Libras
26/10 (domingo), às 18h
Ingressos: Trilhas, Noite Cheia de Lua de Sol [Circulação Nacional] em Brasília – Sympla
Classificação indicativa: 16 anos

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