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Teatro e Dança

“O Arco-íris no Concreto” resgata memórias LGBTQIAPN+ e conecta gerações

Espetáculo dirigido por Sérgio Maggio recria a atmosfera da icônica boate New Aquarius no Secs Silvio Barbato até domingo

Alexya Lemos

03/10/2025 3h59

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Foto: Caio Marins/ Divulgação

No espetáculo O Arco-íris no Concreto, a memória se ergue como forma de resistência. Dirigida por Sérgio Maggio, a peça dá vida a um encontro simbólico entre diferentes gerações LGBTQIA+ ao resgatar a história e o espírito da boate New Aquarius, espaço de convivência, arte e liberdade durante os anos de chumbo da ditadura militar em Brasília. A peça vai acontecer no Sesc Silvio Barbato, a partir desta sexta-feira (4) até domingo (5)

Na trama, Mona Mone de Liz Taylor (vivida por Hugo Leonardo), artista transformista da velha guarda, se despede da cidade e dos fantasmas de um passado marcado por repressão e brilho. Nos bastidores de seu último show, ela é surpreendida por Martina (Maria Leo Araruna), jovem que busca compreender a história de amor vivida por seus pais, Júlio e Help, frequentadores da boate em 1976. Juntas, elas cruzam caminhos com Luna (Pedro Olivo), drag queen que tenta se entender nos desafios e dilemas da atualidade.

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Foto: Caio Marins/ Divulgação

“O espetáculo discute a importância da memória LGBTQIA+, a partir do embate entre diferentes gerações”, destaca Maria Leo. Para além de uma homenagem à New Aquarius, a peça se debruça sobre conflitos internos da própria comunidade, como o etarismo, em um arco dramático marcado por rupturas, escutas e recomeços.

Memórias como território político

Para Sérgio Maggio, o ponto de partida da dramaturgia foi o desejo de preservar a história oral de um espaço que, embora pouco documentado, marcou profundamente a cena cultural e afetiva da capital federal. “Desde que cheguei a Brasília, em 2001, comecei a ouvir histórias da New Aquarius. Era um lugar que abrigava pessoas em uma cidade muito árida, com poucas opções. A boate virou um território afetivo”, afirma o diretor.

Mais do que resgatar fatos, a proposta de Maggio é construir uma autoficção baseada em relatos, afetos e imagens de época. “Eu não quis fazer uma peça biográfica da boate, mas retratar esse território como um espaço vivo. Esses guetos existiram em todo o mundo, num período em que uma pessoa gay sequer podia andar de mãos dadas na rua. O espetáculo é sobre memórias, o que eu ouvi e transformei em ficção”, pontua.

Estética do cabaré

Com elementos de musical e cabaré, O Arco-íris do Concreto mistura música, dança, relatos pessoais e um tom onírico que atravessa o tempo e o concreto da cidade. A cenografia e os figurinos, assinados por Jones Schneider, buscam recriar a atmosfera intimista da boate: “Trouxe da minha memória de jovem frequentador o ambiente que via: um palco minúsculo onde as artistas se agigantavam, e desenhos em neon presos às paredes”, explica.

Na iluminação, Lemar Resende manipula as dobras do tempo entre passado e presente, embalado por coreografias de K-Halla e pela batida envolvente que faz girar o globo espelhado no ritmo da dança. A estética metamelodramática da montagem segue a pesquisa iniciada por Maggio em Eu Vou Tirar Você Deste Lugar – As Canções de Odair José, com uso de referências do melodrama popular, em diálogo com o cinema de Pedro Almodóvar e Quentin Tarantino.

“Há a apropriação dos elementos do melodrama para comentá-los, evidenciá-los, exagerá-los, usando estratégias teatrais que quebram com a estrutura folhetinesca sem desqualificá-la”, explica o diretor.

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Foto: Caio Marins/ Divulgação

Afeto, escuta e transformação

A construção da peça foi marcada por um processo colaborativo entre elenco e direção. “A dramaturgia foi estruturada neste ano, em um novo tratamento, um novo enfrentamento que fizemos juntos. Eu reuni esse elenco e enfrentamos a dramaturgia coletivamente. O grande desafio foi contribuir com novas visões e tornar essa história mais viva e plural”, afirma Maggio.

O resultado é um espetáculo que propõe uma escuta intergeracional dentro da comunidade LGBTQIA+ e que, ao iluminar memórias muitas vezes silenciadas, reforça a potência do teatro como espaço de afeto, denúncia e resistência.

“Colorir o concreto com as cores do arco-íris no cenário seco de Brasília é reivindicar nossa existência em meio a esse deserto no centro do Brasil”, resume o ator Hugo Leonardo.

Espetáculo Arco-íris no concreto
Quando: sexta e sábado, 3 e 4 de outubro, às 19:30h, e domingo, dia 5, às 18:30h
Onde: Sesc Silvio Barbato, Edifício Presidente Dutra – Setor Comercial Sul, SHCS
Ingressos no site

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