Baseado em crônicas do consagrado escritor Luís Fernando Veríssimo, o espetáculo “Na Cama com Veríssimo” convida o público a mergulhar nas complexidades e comicidades da vida a dois. Em cena, cinco atores interpretam 28 personagens que vivem situações cotidianas, fantasias e desastres conjugais, tudo em torno de um único cenário: uma cama. A montagem é, ao mesmo tempo, um tributo ao humor sutil do autor gaúcho e uma celebração das relações humanas.
O texto original permanece quase intacto. A força da encenação está na forma como os atores exploram, com sensibilidade e ritmo, os detalhes de cada crônica. Ao abordar temas como rotina, desejo, traição e comunicação nos relacionamentos, o espetáculo transforma o ordinário em momentos hilários e, muitas vezes, surpreendentemente profundos.
“Algumas cenas são tão próximas do cotidiano que é inevitável lembrar de algo que já vivenciamos. Isso torna o trabalho ainda mais interessante, porque conecta as cenas diretamente com nossas próprias histórias”, conta Gabriel Martins, que também assina a iluminação da peça.
Do texto ao corpo: a construção no palco
Em vez de construir personagens do zero, o elenco parte das criações já presentes nas páginas de Veríssimo. O trabalho está em dar voz, corpo e musicalidade a esses arquétipos tão familiares.
Essa abordagem se reflete no processo criativo adotado durante os ensaios. Para Rigner Carvalho, a dinâmica de grupo e o jogo cênico foram fundamentais para encontrar o tom ideal:
“Foi uma construção coletiva com todos do elenco e do diretor Ferdi. Brincamos com a musicalidade da fala e os corpos que a gente trazia para cena.”
O humor inteligente de Veríssimo no palco
Levar Veríssimo ao teatro exige mais do que boa leitura. Segundo o elenco, o humor do autor exige precisão, leveza e atenção às nuances.
“O humor de Veríssimo não se apoia apenas nas piadas escritas, mas nos detalhes, nos ritmos. Foi um trabalho de encontrar o tom certo: nem exagerar a ponto de quebrar a delicadeza, nem deixar tão discreto que passasse despercebido”, afirma Gabriel.
Laura destaca o papel do diretor na adaptação dos textos para o palco. “As crônicas são cheias de ironia e sutilezas, que são potencializadas com a encenação dinâmica do nosso maravilhoso diretor Ferdi!.”
Rigner reforça que “os textos são muito bons e quase não foram adaptados. Isso ajudou demais pra nosso espetáculo acontecer.”
Reações do público: riso, identificação e surpresa
Desde a estreia, o espetáculo tem gerado forte identificação com o público, que muitas vezes retorna para novas sessões — algumas pessoas, inclusive, viajando de outras cidades para assistir.
“Muitas pessoas saem dizendo: ‘Eu não sabia que precisava rir desse jeito’. Esse retorno é especial porque mostra que conseguimos oferecer um alívio cômico e, ao mesmo tempo, um espelho: o público ri de si mesmo”, relata Laura.
A mistura de humor físico, iluminação expressiva e personagens marcantes cria uma atmosfera que vai além da comédia tradicional.
“O público amou nossa adaptação aos palcos por terem muitas características nossas. A iluminação, por exemplo, que eu mesmo assino, deu vida ao espetáculo”, comenta Gabriel.
Desafios no palco: fisicalidade e versatilidade
Com múltiplos personagens e uma dramaturgia que exige agilidade, a peça desafia o elenco física e emocionalmente. Para Gabriel, o espetáculo é quase uma maratona:
“Depois que começa, só paro quando chegamos nos agradecimentos finais hahaha.”
Laura destaca a riqueza de interpretar diversas figuras femininas:
“Interpretar personagens tão diferentes, como Nara, Jane, Miss Barbosa ou a Cowgirl, é uma experiência intensa e divertida.”
Já para Rigner, o maior desafio foi dar vida ao personagem Joca, da adaptação do conto “O homem trocado”:
“Ele é o homem sempre enganado, mas ao mesmo tempo confiante. Foi desafiador encontrar esse equilíbrio — ainda mais porque só tive três semanas para decorar o texto antes da estreia.”
A responsabilidade de representar Veríssimo
Trabalhar com crônicas de um dos autores mais queridos do país carrega um peso, mas, para o elenco, a sensação é mais de honra do que de pressão.
“É emocionante ver o público relembrar: ‘Eu lia isso quando era criança’, e perceber que essas histórias ainda fazem rir e pensar hoje”, diz Laura.
“É uma responsabilidade com os textos para que não saia um pouco do ‘controle’. Agora, homenagear a memória desse grande autor é honroso e poderoso, mas não uma pressão”, conclui Rigner.
E se Veríssimo estivesse na plateia?
Se pudessem conversar com Veríssimo hoje, o sentimento seria unânime: gratidão.
“Agradeceria por tanta generosidade em compartilhar sua genialidade com o mundo. E perguntaria o que ele achou do espetáculo, se faz jus ao que ele imaginou quando escreveu essas crônicas”, diz Gabriel.
“Perguntaria de onde vem tanta genialidade para transformar o cotidiano em algo tão prazeroso e divertido de ler”, comenta Laura.
“Levaria ele para assistir uma apresentação nossa e perguntaria quais as inspirações para ter escrito tantos contos únicos, que no fim todo mundo de algum modo se identifica”, finaliza Rigner.
“Na Cama com Veríssimo”
Onde: Espaço Cultural Renato Russo
Quando: 27 e 28 de setembro, sábado às 20h e domingo às 19h
Ingressos pelo site