Em uma sociedade que vive o presente ansiando o futuro, correndo sempre contra o tempo, surge o espetáculo Velocidade. A peça estreia no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) Brasília nesta quinta-feira (30), e segue em cartaz até o dia 16 de novembro. Do grupo mineiro Quatroloscinco – Teatro do Comum, a montagem é um manifesto poético contra a pressa e a velocidade da vida.
O espetáculo é estruturado em formato de livro – com capa, prefácio, dedicatória, sete capítulos e contracapa –, com uma mistura de tons de drama e comédia. A peça questiona o ritmo frenético imposto pela vida contemporânea e propõe uma nova relação com o tempo, instigando uma reflexão sobre a efemeridade da existência.
“Velocidade é uma peça que possui momentos dramáticos, momentos cômicos, momentos mais reflexivos e o público é convidado a fluir a obra conosco no momento presente, no aqui agora. Mas para que isso aconteça esse espectador é apresentado a uma obra cuja sua completude depende dele: é na cabeça do espectador que a peça passa a existir”, explica o diretor Ítalo Laureano.

“É mais do que criar uma obra que desse conta de uma tese sobre o tempo, criamos uma obra mais porosa que apresenta perguntas e questionamentos ao público para que ele possa sair do espetáculo pensando sobre os assuntos abordados, mas que ao mesmo tempo, tenha se divertido e se emocionado com a peça. Nesse sentido, o público pode esperar um espetáculo poético, porém com muito humor, ironia e drama”, completa Laureano.
A peça foi escrita por Assis Benevenuto e Marcos Coletta, sendo dirigida pelo cineasta Ricardo Alves Jr. em parceria com Ítalo Laureano. No palco, contracenam os atores Rejane Faria, Marina Viana, Michele Bernardino, Ítalo Laureano, Marcos Coletta e Assis Benevenuto. A inspiração da obra nasceu do ensaio Notas sobre os doentes de velocidade, da escritora mexicana Vivian Abenshushan, e se expandiu em diálogo com outras referências, como o livro Oráculo da Noite, de Sidarta Ribeiro, textos de Paul Preciado e o filme Poesia Sem Fim, de Jodorowsky.
“Uma das nossas apostas foi iniciar a peça com um áudio de seis minutos (no escuro) que narra um sonho. Esse momento inicial já convida o público a ser partícipe da obra num jogo contínuo que se estenderá por toda a peça. O sonho é um eixo fundamental na nossa construção cênica, pois os sonhos, muitas vezes, não possuem uma lógica convencional de tempo, espaço e lugar. Por isso chamamos essa obra de peça-sonho, o que nos possibilitou investir verticalmente em imagens oníricas e sensoriais”, acrescenta o diretor.

Cena e plateia
Em Velocidade, a proposta é provocar o público a refletir sobre sua própria relação com o tempo. “O espetáculo se constrói num diálogo constante entre cena e plateia, trazendo situações cotidianas que revelam como o capitalismo e o ritmo frenético do mundo atual nos atravessam – muitas vezes sem que a gente perceba”, ressalta a atriz Michele Bernardino.
Para a construção da peça, os atores colocam em cena suas próprias experiências. “Neste trabalho, a gente não parte da construção de personagens tradicionais, mas de personas. São figuras que emergem de um lugar mais direto e íntimo. No meu caso, procuro me conectar com o que aquela presença precisa dizer e trago para a cena minhas próprias vivências e experiências, num diálogo constante entre o pessoal e o coletivo”, enfatiza Michele.
Nesse mesmo sentido completa o ator Marcos Coletta: “Nossa pesquisa de atuação está voltada para a presença do ator. Nesse sentido, não existe a construção de personagem em seu conceito mais tradicional. Somos nós mesmos, atores, em cena, performando situações, criando imagens, manipulando a voz, o corpo, as energias e os afetos. Para nós o que acontece no palco não é ficção, é acontecimento real. É o ator em transformação diante do público”.

Bate-papo e oficinas
Além do espetáculo, a programação também conta com atividades formativas gratuitas. No dia 15 de novembro haverá um bate-papo com os artistas logo após a apresentação. Já nos dias 15 e 16 de novembro, das 13h às 17h, o grupo conduz a oficina A palavra em cena: habitar o texto, voltada a artistas profissionais ou em formação, estudantes de teatro e pessoas interessadas em experimentar a linguagem da cena. A carga horária é de oito horas e a classificação indicativa é de 16 anos.
A oficina propõe investigações sobre o manejo da palavra falada e suas diferentes camadas de sentido, com leituras, exercícios e criação de micro cenas. Serão oferecidas 20 vagas, e as inscrições podem ser feitas até 11 de novembro no formulário disponível nos sites www.quatroloscinco.com e bb.com.br/cultura.
Serviço
Espetáculo Velocidade
Centro Cultural Banco do Brasil Brasília (SCES, Trecho 2 – Brasília/DF)
Temporada: 30 de outubro a 16 de novembro de 2025
Duração: 100 minutos
Classificação: 14 anos
Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (Meia) – disponíveis na bilheteria física ou no site do CCBB