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Teatro e Dança

Espetáculo revisita Chiquinha Gonzaga em diálogo com sons modernos

Com arranjos ousados, “Chiquinha Gonzaga Entre Tempos” estreia na Sala Martins Pena como um tributo contemporâneo à compositora que desafiou padrões no século 19

Alexya Lemos

24/10/2025 5h00

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Foto: Aura Corporativa/ Divulgação

Brasília recebe, nesta sexta-feira (24) e sábado (25), o espetáculo Chiquinha Gonzaga Entre Tempos – Um Encontro Musical, uma homenagem potente e moderna à compositora, pianista, regente e ativista que marcou a história da música brasileira. A apresentação, com sessões gratuitas na Sala Martins Pena do Teatro Nacional Claudio Santoro, mergulha no legado de Chiquinha e o reinventa com arranjos que atravessam os séculos — do maxixe ao rock nacional, do choro ao jazz.

A idealização e direção musical do projeto são de Marlene Souza Lima, guitarrista, violonista e referência do jazz brasileiro, que há tempos alimentava o desejo de revisitar a trajetória de Chiquinha Gonzaga. “Se quando iniciei meus estudos musicais não era comum ver uma mulher instrumentista de música popular, imagine na época de Chiquinha?”, questiona Marlene. “Sua história nos mostra, a todas mulheres musicistas, que podemos estar à frente de nossa vida, fazendo o que gostamos”.

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Foto: Aura Corporativa/ Divulgação

Um encontro entre tempos e linguagens

Com roteiro assinado pelo dramaturgo Sergio Maggio, o espetáculo traz ao palco um encontro fictício entre Chiquinha Gonzaga (vivida por Ana Elisa Santana) e as instrumentistas do presente. Nesse diálogo cênico-musical, a compositora é transportada de 1885 para 2025, onde é recebida por artistas que traduzem sua obra em ritmos contemporâneos.

“É uma viagem, como se a Chiquinha Gonzaga tivesse feito uma viagem para os tempos atuais, conversando com a gente”, explica Marlene. O resultado é um espetáculo que revisita a música brasileira por diferentes estilos e décadas: “A gente vai mostrar exatamente essa revolução, como é que a música brasileira caminhou. Desde o samba-canção, passando pela Tropicália, Jovem Guarda, o rock dos anos 80, e essa viagem vai chegar até os anos 2000”.

Arranjos ousados, intérpretes potentes

A sonoridade do espetáculo é conduzida por uma formação exclusivamente feminina: Diana Mota (flauta e saxes), Luísa Toller (teclados e voz), Paula Zimbres (baixo), Luciana de Oliveira (bateria) e a própria Marlene Souza Lima, na guitarra, violão e nos arranjos musicais. Clássicos como Lua Branca e Ó Abre Alas ganham releituras em estilos como jazz, blues, black music, choro, funk e samba..

Além do aspecto musical, o roteiro também destaca passagens fundamentais da trajetória da artista. Entre elas, o momento em que Chiquinha rege uma orquestra e estreia como compositora de teatro, em 1885, ocasião que inspirou um jornalista a cunhar o termo “maestra”, inexistente até então na língua portuguesa.

“Antes dela, não havia sequer uma palavra para nomear uma mulher no comando da regência. Essa passagem se torna símbolo da revolução que Chiquinha provocou, não apenas na música, mas também na linguagem e na cultura”, observa Sergio Maggio.

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Foto: Aura Corporativa/ Divulgação

Projeto educativo: música, memória e representatividade nas escolas

Antes de subir ao palco do Teatro Nacional, o projeto percorreu escolas públicas do Distrito Federal, levando música e memória para estudantes de regiões como Samambaia, Ceilândia, Taguatinga, Santa Maria e Guará. Com a aula-espetáculo “A Evolução da Música de Chiquinha Gonzaga e suas Contribuições para a Música Brasileira”, a equipe formada por Marlene, Luísa Toller, Sergio Maggio e Jones Schneider aproximou o público jovem da vida e da obra da compositora.

As apresentações escolares incluíram discussões sobre a diversidade rítmica de Chiquinha, seus posicionamentos políticos e sua atuação como defensora dos direitos autorais. “Ela misturou muito dos ritmos africanos em sua música e dentro disso ela revolucionou. Tinha maxixe, tinha lundu, vários ritmos misturados em sua música”, pontua Marlene.

A artista também destacou a importância da representatividade nas visitas: “Penso que foi super importante para os estudantes ver uma mulher, uma mulher preta, ganhando a vida com música. Porque sendo eu uma mulher preta representando a música nas escolas, indo nas escolas falando: ‘Olha, eu ganho a vida com música’ e eu penso que é super possível”.

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Foto: Divulgação

O projeto também tratou de temas atuais como o impacto do streaming e das redes sociais na valorização do trabalho musical. “Falamos sobre as músicas que tocam no TikTok e no Instagram. Tem vezes que a pessoa não tem noção que essas músicas rendem direitos para os autores, e rendem, sim”, explica.

Para garantir o acesso de estudantes ao teatro, a produção disponibilizou transporte gratuito. “Tem gente que não tem acesso ao teatro e o legal é que a gente colocou no projeto ônibus também de graça para estudantes. Então, para conhecer o teatro, porque o teatro é espaço público”, completa Marlene.

Serviço
Chiquinha Gonzaga Entre Tempos – Um Encontro Musical
Onde: Sala Martins Pena – Teatro Nacional Claudio Santoro
Quando: sexta-feira, 24 de outubro – sessões às 16h (com libras e audiodescrição) e às 20h
Sábado, 25 de outubro – sessões às 18h (com libras) e às 20h
Entrada gratuita mediante retirada de ingressos pelo site

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